Hyla palmeri, espécie de sapo ameaçado pela doença provacada por fungo na América Central e do Sul (foto: divulgação)

Doença ameaça anfíbios
07 de fevereiro de 2006

Estudo indica relação entre um tipo de fungo e a queda da população de anfíbios em países latino-americanos. A doença resultante está associada à diminuição de pelo menos 43 espécies na região

Doença ameaça anfíbios

Estudo indica relação entre um tipo de fungo e a queda da população de anfíbios em países latino-americanos. A doença resultante está associada à diminuição de pelo menos 43 espécies na região

07 de fevereiro de 2006

Hyla palmeri, espécie de sapo ameaçado pela doença provacada por fungo na América Central e do Sul (foto: divulgação)

 

Agência FAPESP - Uma doença infecciosa, que tem acabado com populações de anfíbios na Costa Rica e no Panamá, começa a se espalhar para a Colômbia, país com o qual o Brasil faz fronteira.

A afirmação vem de um estudo de sete anos, feito por pesquisadores norte-americanos, e que será publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas), esta semana na edição on-line e em breve na versão impressa.

O trabalho é o mais completo feito até hoje a mostrar a influência de doenças na diminuição e na eventual extinção de populações. "Embora muitas patologias possam impactar populações ao causar declínios temporários ou permanentes na sua abundância, apenas recentemente o fator doença tem sido encarado como possível responsável pela extinção de espécies", dizem no artigo os pesquisadores liderados por Karen Lips, da Universidade do Sul de Illinois.

"Anfíbios são um dos grupos de vertebrados em pior situação, com quase metade de todas as espécies em declínio e com mais de cem espécies extintas ou em risco de extinção", disse Pieter Johnson, da Universidade de Wisconsin, em comentário sobre o estudo de Lips e colegas, que será publicado na mesma edição da Pnas.

"Enquanto parte desses declínios pode estar ligada a perdas de hábitat e a mudanças no uso da terra, muitas das espécies em queda – quase 50% – estão em áreas sem mudanças ambientais óbvias. Ainda mais desconcertante é o fato de que as populações afetadas mostram poucos sinais de recuperação", afirma Johnson.

O novo estudo destaca a importância do fungo Batrachochytrium dendrobatidis, que causa a doença conhecida como quitridiomicose em anfíbios. Desde a descoberta do patógeno, em meados da década de 1990, tem sido cada vez maior o número de indicadores que reforçam o papel do fungo na morte e no desaparecimento de anfíbios.

A quitridiomicose está associada a quedas em pelo menos 43 espécies de anfíbios em sete países latino-americanos e em 93 em todo o mundo. "Em nosso estudo, fornecemos evidências que mostram que a quitridiomicose está fortemente relacionada com a diminuição dos tamanhos populacionais e da diversidade de espécies em uma comunidade de vertebrados", escreveram Lips e colegas.

Os pesquisadores examinaram cerca de 30 mil indivíduos de 77 espécies de anfíbios. Na região panamenha de El Copé não identificaram uma única evidência do Batrachochytrium entre maio de 1998 e julho de 2004, em mais de 1,5 mil exemplares analisados. Entretanto, a partir da primeira identificação do fungo, em setembro de 2004, os autores do estudo verificaram que a infecção se espalhou rapidamente pela comunidade.

O resultado foi que uma situação estável deu lugar em pouco tempo a um cenário "catastrófico", como descrito por Johnson. Mais de 300 exemplares mortos foram colhidos pelos cientistas em poucas semanas e a diversidade de espécies declinou em cerca de 50%.

"Anfíbios representam uma importante ligação entre cadeias alimentares terrestres e aquáticas. A perda desenfreada de populações e até mesmo de espécies inteiras certamente trará conseqüências sérias aos ecossistemas afetados", disse Johnson.

Segundo o autor do comentário, os resultados do estudo feito por Lips e colegas sugerem a possibilidade de prever trajetórias futuras de epidemias, ao menos em escala regional.

A quitridiomicose já foi identificada no Brasil. Segundo a revista eletrônica ComCiência, o primeiro registro brasileiro de infecção por quitrídios foi relatado por Felipe Toledo, do Laboratório de Herpetologia da Universidade Estadual Paulista de Rio Claro, e colaboradores, na revista Amphibian & Reptile Conservation (volume 4, número 1, 2006).

A doença foi detectada na rã-de-corredeira (Hylodes magalhaesi), espécie que ocorre em regiões elevadas da Mata Atlântica. Para os pesquisadores brasileiros, não está confirmado que a quitridiomicose seja responsável pelo declínio de espécies de anfíbios. Segundo eles, trata-se mais de uma questão de sinergismo, em que um problema estimula outro.

O primeiro relato não implica que o Batrachochytrium dendrobatidis seja novidade no Brasil. "O fungo sempre esteve aqui", disse Toledo à ComCiência. Há indícios de que ele já existia no Brasil nos anos 1980. O país tem a maior diversidade mundial de anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas).

O artigo Emerging infectious disease and the loss of biodiversity in a Neotropical amphibian community, de Karen Lips, Forrest Brem, Roberto Brenes, John D. Reeve, Ross Alford, Jamie Voyles, Cynthia Carey, Lauren Livo, Allan P. Pessier e James P. Collins, pode ser lido a partir desta semana no site da Pnas, em www.pnas.org.


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