Diversidade viral
31 de janeiro de 2005

Segundo estudo que acaba de ser publicado, entender a grande variação de genótipos do vírus da hepatite C no Brasil é fundamental para que a doença, com alta prevalência entre os brasileiros, possa ser enfrentada

Diversidade viral

Segundo estudo que acaba de ser publicado, entender a grande variação de genótipos do vírus da hepatite C no Brasil é fundamental para que a doença, com alta prevalência entre os brasileiros, possa ser enfrentada

31 de janeiro de 2005

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Além da alta prevalência do vírus da hepatite C entre os brasileiros, a falta de sintomas em grande parte dos casos é um outro obstáculo para a identificação dessas infecções. Agora, conforme mostra um estudo publicado na Brazilian Journal of Medical and Biological Research de janeiro, mais um fator complicador pode ter surgido: a grande diversidade viral no país.

"Descrevemos neste artigo que a distribuição dos genótipos varia muito entre as diferentes regiões brasileiras", disse João Renato Pinho, do Instituto Adolfo Lutz de São Paulo, um dos autores principais do trabalho, à Agência FAPESP.

A avaliação feita com o material genético de 1.688 pacientes revelou a existência de algumas prevalências em determinas áreas do país. Na região Norte apareceu mais o genótipo tipo 1, enquanto o Centro-Oeste registrou mais o do tipo 2 e o Sul o de tipo 3.

Em todo o país, a tabela de freqüência dos genótipos mostra que o tipo 1 é o mais encontrado, com 64,9% de ocorrência. Na seqüência aparecem o tipo 3 (30,2%) e o tipo 2 (4,6%). Os genótipos dos tipos 4 e 5 foram encontrados em poucos casos.

Até hoje, em todo o mundo, onde existem 170 milhões de pessoas contaminadas com o vírus da hepatite C, seis grandes tipos de genótipos foram detectados. O tipo 1 e o tipo 4, em alguns casos, são menos fortes que os demais.

"Em particular, chama a atenção no caso do Brasil a elevada freqüência do genótipo 3 na região Sul, o que deve refletir o importante componente genético trazido pelos imigrantes de países como Itália, Alemanha e da região do Leste Europeu", disse Pinho.

Como a distribuição encontrada no Brasil é muito semelhante à da Europa, os pesquisadores trabalham com a hipótese de que a infecção pelo vírus da hepatite C no país se espalhou recentemente, depois da chegada das grandes ondas de imigrantes.

"Isso confirma dados internacionais que associam a alta freqüência dessa infecção com o uso de transfusões de sangue e de outros hemoderivados até antes de 1991", explica Pinho. Segundo estimativas dos pesquisadores, no Brasil a hepatite C deve estar presente entre 0,8% e 3,4% da população. "Isso faz com que pelo menos 1,3 milhão de brasileiros possam ser acometidos pela doença", conta o cientista.

Como a hepatite C é uma doença assintomática, na opinião do pesquisador do Instituto Adolfo Lutz o quadro é preocupante. "Entre 5% e 20% dos casos poderão evoluir para cirrose hepática após 20 anos de infecção. E, dentro desse universo, outros 20% podem apresentar carcinoma hepatocelular", afirma.

Além de conhecer melhor os tipos de genótipos virais da hepatite C que existem no Brasil – o estudo também trouxe surpresas no Mato Grosso e no Maranhão, estados com alta prevalência do tipo 2, e em Pernambuco, onde o tipo 3 é alto –, outras medidas podem ser tomadas para que a infecção de hepatite C não fuja do controle. "A evolução da doença pode ser evitada com o diagnóstico rápido e com a instalação de tratamento precoce", diz Pinho.

Para o pesquisador, é fundamental que os integrantes do chamado grupo de risco sejam avaliados com testes sorológicos. "Estamos falando de pessoas que receberam sangue antes de 1991, hemofílicos, hemodialisados, filhos de mães com hepatite C, cônjuges de pessoas que tiveram a infecção, doadores para transplantes e usuários de droga. Isso é muito importante, porque muitas vezes a infecção é assintomática nas fases iniciais", explica.

Para ler a íntegra do artigo na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), clique aqui


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