Projeto de pesquisa apoiado em chamada FAPs-Vale pretende definir ações de restauração para um dos ambientes mais biodiversos e endêmicos do país: os campos rupestres (Wikimedia)

Diversidade rupestre
10 de março de 2011

Projeto de pesquisa apoiado em chamada FAPESP, Vale e FAPs pretende definir ações de restauração para um dos ambientes mais biodiversos e endêmicos do país: os campos rupestres

Diversidade rupestre

Projeto de pesquisa apoiado em chamada FAPESP, Vale e FAPs pretende definir ações de restauração para um dos ambientes mais biodiversos e endêmicos do país: os campos rupestres

10 de março de 2011

Projeto de pesquisa apoiado em chamada FAPs-Vale pretende definir ações de restauração para um dos ambientes mais biodiversos e endêmicos do país: os campos rupestres (Wikimedia)

 

Por Mônica Pileggi

Agência FAPESP – Definir ações concretas e duradouras para restaurar um dos ambientes de maior diversidade biológica do Brasil é a meta do projeto "Diversidade florística e padrões sazonais dos campos rupestres e cerrado", coordenado por Leonor Patrícia Cerdeira Morellato, professora titular do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro.

A pesquisa integra a rede Recuperar, aprovada em chamada de propostas lançada em 2010 pelas fundações de amparo à pesquisa (FAPs) dos Estados de São Paulo (FAPESP), de Minas Gerais (Fapemig), do Pará (Fapespa) e Vale S.A.

O Brasil tem inúmeras zonas de vida e formações vegetais. Entre os principais tipos de vegetação se destacam florestas (amazônica, pluvial atlântica, ombrófila mista e outras), cerrados e campos. Algumas delas estão entre as mais diversas do mundo, com elevado endemismo local – restritas a ecossistemas específicos. No entanto, a maior parte dessa biodiversidade ainda é pouco estudada e compreendida.

O país contabiliza vários hotspots (áreas críticas com prioridade de conservação), como os campos rupestres. Formada em solos rasos e pobres em nutrientes, combinados com a alta concentração de alumínio e com o relevo movimentado – resultante do soerguimento – de afloramento rochoso a altitudes superiores a 900 metros, essa vegetação tem vasta riqueza de flora – estimada em mais de 4 mil espécies – e endemismos.

“Rica em quartzo e ferro, a área de estudo apresenta ravinas, sulcos e voçorocas por toda parte, que são, geralmente, causadas pela mineração. Por conta do ecossistema frágil e de baixa resiliência, dificilmente os campos rupestres conseguem se regenerar de forma espontânea”, disse Patrícia à Agência FAPESP.

“O principal enfoque de nosso projeto de pesquisa será fornecer tecnologia ou caminhos para a recuperação e manejo dessa vegetação que hoje é suscetível a muitas ameaças. O objetivo da rede Recuperar é avançar em propostas”, explicou.

Até 2015, cientistas de universidades de Minas Gerais e de São Paulo manterão um fluxo constante de informações sobre a região da Serra do Cipó, na Cadeia do Espinhaço.

Atualmente, o gado é a principal atividade econômica na Cadeia do Espinhaço. Segundo Patrícia, muitas espécies existentes nos campos rupestres correm o risco de extinção devido à pequena área que ocupam, além do impacto da ação humana.

A rede Recuperar é composta por cinco subprojetos, dos quais fazem parte professores e alunos da Unesp, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Lavras (UFLA), Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).

Patrícia, que também é responsável pela vertente paulista do projeto, explica que grande parte da pesquisa será concentrada em Minas. Embora o início do projeto esteja previsto para março, o grupo já adiantou a primeira fase – o projeto também está dividido em cinco etapas –, iniciando a demarcação dos transectos (parcelas) das plantas em diferentes altitudes na Serra do Cipó.

“Após esse trabalho de campo, que tem como meta ajudar a entender a biodiversidade do local, pretendemos acompanhar a fenologia das plantas. Essa fase integra o meu subprojeto”, disse.

A fenologia estuda a forma como as plantas e os animais se desenvolvem ao longo de suas diferentes fases e se relacionam com o ambiente, especialmente mudanças causadas pelo clima ou pela temperatura. Nessa segunda etapa será definido o padrão sazonal da vegetação, ou seja, o seu comportamento ao longo do gradiente de altitude.

Sementes e conservação

Como existem plantas com modos de polinização mais especializados do que outras, esperamos, com base nos resultados obtidos, poder prever tais modificações e, eventualmente, mitigar esses dados seja pela mineração, pela mudança de clima ou por alterações ambientais, no futuro”, disse a professora da Unesp.

Em paralelo, os pesquisadores das universidades mineiras coordenados pelo professor Geraldo Wilson Fernandes, do Departamento de Biologia Geral da UFMG, investigarão parte do material coletado na primeira fase para estabelecer protocolos de germinação em sementes.

“A finalidade desse trabalho será obter características ecofisiológicas, ou seja, da adaptação das espécies às condições ambientais dos campos rupestres mineiros e formações similares, como o cerrado no interior paulista”, disse Patrícia.

O resultado desse estudo culminará nas próximas etapas, que consistem no desenvolvimento e possível implementação de um banco de sementes, além da propagação in vitro das 20 principais espécies identificadas durante os estágios anteriores do projeto.

Ao fim da pesquisa, os pesquisadores esperam obter dados suficientes para o uso efetivo e autossustentável dessas espécies na restauração dos campos rupestres e em sua futura conservação.

Mais informações sobre a chamada FAPs-VALE: www.fapesp.br/fffv
 

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