Para Luiz Davidovich, da Academia Brasileira de Ciências, a reforma universitária precisa fortalecer as instituições públicas (foto: UFRJ)

Disparidades superiores
21 de julho de 2005

"O Brasil forma mais advogados do que Coréia do Sul, EUA e Europa juntos", alerta Luiz Davidovich em crítica à qualidade do ensino privado. Para o diretor da ABC, a reforma universitária precisa fortalecer as instituições públicas

Disparidades superiores

"O Brasil forma mais advogados do que Coréia do Sul, EUA e Europa juntos", alerta Luiz Davidovich em crítica à qualidade do ensino privado. Para o diretor da ABC, a reforma universitária precisa fortalecer as instituições públicas

21 de julho de 2005

Para Luiz Davidovich, da Academia Brasileira de Ciências, a reforma universitária precisa fortalecer as instituições públicas (foto: UFRJ)

 

Por Washington Castilhos

Agência FAPESP - A reforma universitária foi o tema de simpósio desta quarta-feira (20/7), durante a 57ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Fortaleza. Luiz Davidovich, membro da diretoria da Academia Brasileira de Ciências (ABC), falou sobre o posicionamento da instituição em relação à reforma proposta pelo Ministério da Educação.

"Temos nos posicionado a favor de uma reforma que fortaleça o setor de ensino público superior, expandindo esse ensino sem comprometer sua qualidade", disse o também professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Davidovich lembrou que uma fatia de apenas 10% de jovens entre 18 e 24 anos está sendo atendida pelo ensino superior no país. "E mais de 70% das matrículas em instituições de ensino superior no Brasil estão em instituições privadas, a maioria de péssima qualidade. Exceções são as comunitárias, que não visam lucros. Nos Estados Unidos, apenas 22% das matrículas universitárias estão em instituições privadas, onde uma ínfima quantidade tem objetivos de lucro."

O físico apresentou estatísticas que mostram o crescimento do número de instituições privadas no país. Segundo esses dados, em 1994 havia cerca de 300 instituições públicas de ensino superior e 700 privadas. Em 2003, as públicas continuavam com o mesmo número, enquanto as privadas aumentaram para 1,7 mil. "As autorizações foram concedidas. Considerando a qualidade dessas universidades, acredito que os critérios foram bem flexíveis", criticou.

O pesquisador expressou grande preocupação em relação ao número de formados em áreas estratégicas de ciência e tecnologia, como as engenharias, a física e a química, que tem diminuído. Pesquisa recente do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep) revela que 69% dos alunos de cursos superiores estavam matriculados nas áreas das ciências humanas e sociais, 13% nas ciências da saúde, 11% nas engenharias e ciência tecnológica e apenas 2% nas ciências agrárias. A pesquisa mostra ainda que 88% dos cursos de direito estão em instituições privadas.

"Esse é o cenário de nossa educação superior. O Brasil forma mais advogados do que Coréia do Sul, Estados Unidos e Europa juntos. Para instituições privadas é muito mais barato ter um curso de direito do que montar laboratórios. Mas, se queremos formar pessoal em tecnologia para o futuro do país, temos de fortalecer as instituições públicas", alertou, em entrevista à Agência FAPESP.

O projeto da reforma universitária, cuja segunda versão está para ser apresentada no Congresso no dia 27 de julho, apresenta outra divergência em relação ao grupo de trabalho da Academia Brasileira de Ciências, do qual Davidovich faz parte: o sistema de cotas raciais.

"Somos a favor de priorizar a escola pública, mas sem fixar um porcentual. O que me preocupa é uma inclusão social-burocrática. Reconhecemos claramente que existe racismo no Brasil, mas não se deve combatê-lo com medidas racistas. A ciência já provou que não existe raça. A proposta de privilegiar tais cotas é anticientífica", afirmou.

Outra questão levantada pelo físico foi a distribuição de recursos para instituições federais. "A distribuição do Ministério da Educação não leva em conta uma análise qualitativa, e sim histórico, número de estudantes, etc. O que propomos é que haja uma comissão escolhida pelo presidente da República em lista tríplice – de pessoas indicadas pelos ministérios da Educação e da Ciência e Tecnologia – e uma proposta orçamentária que leve em conta uma avaliação do mérito das instituições", disse.


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