Luis Vassy, diretor da Sciences Po, e Maria Arminda do Nascimento Arruda, vice-reitora da USP (foto: Adriana Cruz/Jornal da USP)
O objetivo é facilitar os trâmites burocráticos para o crescente número de estudantes aprovados no processo de seleção e conectar os ex-alunos da instituição
O objetivo é facilitar os trâmites burocráticos para o crescente número de estudantes aprovados no processo de seleção e conectar os ex-alunos da instituição
Luis Vassy, diretor da Sciences Po, e Maria Arminda do Nascimento Arruda, vice-reitora da USP (foto: Adriana Cruz/Jornal da USP)
Helo Reinert | Agência FAPESP – Luis Vassy, diretor da prestigiada escola francesa de estudos sociais e políticos conhecida pela sigla Sciences Po, veio ao Brasil na semana passada para uma série de visitas a universidades com as quais pretende desenvolver novas parcerias, entre elas a Universidade de São Paulo (USP). Um dos objetivos é atrair cada vez mais estudantes latino-americanos e especialmente brasileiros, que são, atualmente, a 15ª nacionalidade mais presente na Sciences Po, com 107 alunos.
“Queremos intensificar o recrutamento dos melhores estudantes”, disse. Para impulsionar esse projeto, Vassy inaugurou oficialmente no Brasil o sétimo escritório de representação da escola no exterior. O bureau funciona desde junho nas instalações da Câmara de Comércio França-Brasil em São Paulo e atende toda a América Latina. China, Singapura, Índia, Quênia, Senegal e Estados Unidos contam com estrutura semelhante. Os escritórios facilitam os trâmites burocráticos para o crescente número de estudantes latino-americanos aprovados no processo de seleção e também conectam os ex-alunos da instituição.
Há mais de 150 anos, a Sciences Po prepara líderes franceses em administração e serviços públicos. Entre eles estão Emmanuel Macron, François Hollande, Jacques Chirac e François Mitterrand. Além de ciência política, também oferece formação nas áreas de negócios, jornalismo e direito. Nos últimos 20 anos, viveu uma grande transformação e se internacionalizou. Hoje, 50% dos seus alunos são estudantes de outros países. A instituição passou a oferecer também diplomas em inglês. A oferta de cursos na graduação e pós-graduação tem se ampliado. Há bacharelado com especialização em América Latina-Caribe e mestrado com especialização nas Américas. Atualmente, 26 estudantes da Sciences Po fazem intercâmbio no Brasil.
A Sciences Po tem parcerias diversas com 11 instituições brasileiras. Entre as paulistas, figuram a USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Pontifícia Universidade Católica (PUC) e Fundação Getúlio Vargas (FGV). Existem acordos com universidades federais do Rio de Janeiro, da Bahia, de Pernambuco e do Distrito Federal, entre outras. Segundo Vassy, algumas parcerias precisam ser reativadas. No horizonte, está a criação de programas de dupla titulação tanto para a graduação como para a pós-graduação – como o que já existe com a FGV em São Paulo –, ampliação da pesquisa científica e aumento da mobilidade de alunos e professores. Entre 2017 e 2023, a Sciences Po teve 23 professores brasileiros convidados.
Confiança e polarização
Em reunião com a vice-reitora da USP e membro do Conselho Superior da FAPESP, Maria Arminda Nascimento Arruda, ele mencionou que a instituição estuda a possibilidade de fazer acordos para promover a pesquisa em temas como desigualdades, relações internacionais e “sobre a forma de como a democracia opera”, como ele diz, entre outros.
Vassy citou temas que estão na pauta da Sciences Po desde a sua fundação, em 1872, e que continuam atuais. “Porque estamos nesse período complicado, voltei a ler praticamente toda a obra do intelectual francês Raymond Aron”, disse. “Tem uma frase dele que eu gosto muito: ‘A democracia é sobre limitar as ambições individuais’.”
Para Vassy, os tempos atuais exigem respostas para algumas perguntas. “A possibilidade de perder o poder e permitir que outros o tomem por meio do processo democrático funciona apenas quando existe um elevado nível de confiança. Mas como é possível manter um elevado grau de confiança com o crescimento da polarização? Como nós recriamos ou mantemos o nível de confiança que é necessário para democracias? Quais são as condições necessárias para que as democracias sejam mais eficientes que os regimes autoritários?”
Essas perguntas, segundo Vassy, são relevantes porque as democracias criam coesão por meio da confiança, enquanto os regimes autoritários o fazem pelo medo.
Durante as visitas, Vassy também tem proposto cooperação científica em mudanças climáticas, uma vez que a Sciences Po lançará, no próximo ano, a Escola do Clima de Paris.
No final de outubro, a instituição promoveu o Paris Climate and Nature Week, conjunto de seis eventos que ocorreram ao longo de três dias com a presença de 400 pessoas. Presidentes de COPs passadas participaram de um painel para discutir a aceleração da operacionalização do acordo de Paris em um mundo fragmentado. “O resultado foi tão bom que decidimos promover a semana do clima anualmente. Queremos que a participação das universidades brasileiras seja mais intensa no ano que vem”, afirmou Vassy. Além de formação de recursos humanos e pesquisa científica, a Sciences Po promove a disseminação de conhecimento na sociedade por meio de debates.
Acompanharam Vassy na viagem ao Brasil Jeremy Perelman, diretor de Relações Internacionais, e Larissa Frozel Barros, gerente de Relações Internacionais da Sciences Po para a América Latina e o Caribe.
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