Modelo teórico desenvolvido por pesquisadores da USP ajuda a compreender o complexo funcionamento do campo magnético do Sol, que faz com que a estrela funcione como um dínamo. Trabalho foi publicado na Astronomy & Astrophysics. Na ilustração, o modelo tridimensional. (Foto: M. Ossendrijver, 2005 )
Modelo teórico desenvolvido por pesquisadores da USP ajuda a compreender o complexo funcionamento do campo magnético do Sol, que faz com que a estrela funcione como um dínamo. Trabalho foi publicado na Astronomy & Astrophysics
Modelo teórico desenvolvido por pesquisadores da USP ajuda a compreender o complexo funcionamento do campo magnético do Sol, que faz com que a estrela funcione como um dínamo. Trabalho foi publicado na Astronomy & Astrophysics
Modelo teórico desenvolvido por pesquisadores da USP ajuda a compreender o complexo funcionamento do campo magnético do Sol, que faz com que a estrela funcione como um dínamo. Trabalho foi publicado na Astronomy & Astrophysics. Na ilustração, o modelo tridimensional. (Foto: M. Ossendrijver, 2005 )
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Desde a década de 1960, modelos teóricos modernos atribuem as mudanças cíclicas na atividade solar à existência de um dínamo – produzido por um complexo processo de movimento das camadas do interior do Sol – que é responsável pela amplificação e manutenção do imenso campo magnético solar.
No entanto, os modelos de dínamo atuais ainda não são capazes de explicar satisfatoriamente os fenômenos magnéticos em larga escala observados no Sol. Pesquisadores do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG), da Universidade de São Paulo (USP), desenvolveram um novo modelo que, combinado aos já existentes, ajuda a compreender a complexa dinâmica do campo magnético solar com mais fidelidade à realidade observada.
A pesquisa, que corresponde ao doutorado de Gustavo Guerrero no IAG, foi destaque da edição de julho da revista Astronomy & Astrophysics, em artigo assinado junto com a sua orientadora, Elisabete de Gouveia Dal Pino. O estudo, ainda em andamento, está relacionado a um Projeto Temático da FAPESP coordenado pela professora no Departamento de Astronomia do IAG.
De acordo com Guerrero, criar um modelo tridimensional do dínamo solar é uma tarefa difícil de realizar experimentalmente e os que já existem não reproduzem em grande escala os fenômenos que ocorrem dentro do Sol. O novo estudo propõe um modelo bidimensional combinado com alguns dos tridimensionais.
“Os modelos tridimensionais não abrangem todo o interior solar, mas apenas cubos menores dentro da camada convectiva. Eles fornecem alguns parâmetros que, incluídos no nosso modelo bidimensional global do Sol, explicam como é o transporte do campo magnético no interior solar, reproduzindo algumas características observadas em grande escala”, disse Guerrero à Agência FAPESP.
O interior do Sol é estratificado em camadas. Em torno de um núcleo onde os fótons viajam por radiação através da matéria, há uma camada convectiva na qual a luz é transportada por células convectivas. “As células que contêm o material extremamente quente das camadas mais internas substituem as mais frias das camadas superiores, modificando constantemente o interior da estrela”, explicou Elisabete.
Enquanto o núcleo radiativo do Sol gira como se fosse um corpo sólido, com uma velocidade homogênea, a camada convectiva faz um movimento conhecido como rotação diferencial.
“A camada convectiva é como uma cebola, em que cada camada superposta gira em uma velocidade distinta, que vai diminuindo conforme se afasta do equador. Observa-se que o equador completa um período de rotação em aproximadamente 24 dias, enquanto que o pólo completa um período em cerca de 28 dias. Isso cria um movimento complexo, com rotação diferencial tanto ao longo do raio como da latitude solar, que é fundamental para a ação de dínamo”, disse.
Dínamo estelar
Segundo Elisabete, para que um dínamo funcione, a rotação induz, sobre as partículas carregadas do fluido, o aparecimento de correntes elétricas, que por sua vez geram campos magnéticos perpendiculares à direção dessas correntes. No Sol, os movimentos convectivos e a rotação diferencial ampliam e mantêm constantemente a operação do dínamo.
“A estrela tem os ingredientes essenciais para que isso ocorra, já que há rotação diferencial e um fluido de partículas carregadas. O movimento das células convectivas gera energia mecânica, que é transformada em energia magnética”, disse.
O campo magnético criado pelo dínamo tem duas fases diferentes, invertendo sua polaridade a cada 11 anos. As fases correspondem aos períodos de maior ou menor atividade solar. Durante metade desse tempo, o campo magnético se alinha em relação aos pólos, como se traçasse linhas meridionais – isto é, forma-se um forte campo de dipolo. Na outra metade desse tempo, o campo magnético se forma no sentido da longitude: um campo toroidal. "Essa história se repete nos 11 anos seguintes, ao final dos quais o campo tem a mesma polaridade inicial, completando assim um ciclo total de 22 anos", afirmou.