Protozoários do gênero Leishmania
(Foto: E. Dráberová/Academia de Ciências da República Tcheca)
A ocupação do espaço natural da leishmaniose pelo homem está transformando a doença. O controle epidemiológico se torna ainda mais complicado porque alguns reservatórios primários e silvestres da Leishmania são desconhecidos dos pesquisadores
A ocupação do espaço natural da leishmaniose pelo homem está transformando a doença. O controle epidemiológico se torna ainda mais complicado porque alguns reservatórios primários e silvestres da Leishmania são desconhecidos dos pesquisadores
Protozoários do gênero Leishmania
(Foto: E. Dráberová/Academia de Ciências da República Tcheca)
Agência FAPESP - No Brasil, existem sete espécies do protozoário Leishmania que causam leishmaniose em seres humanos. Nas Américas, todos os tipos da doença são também considerados como zoonoses. Entre todas essas variedades, até pouco tempo atrás, os cientistas não sabiam onde os representantes da espécie L. braziliensis se hospedavam no início do ciclo da doença. Apenas existiam evidências de que o chamado reservatório primário desse tipo específico de leishmaniose poderia ser encontrado em animais silvestres, roedores ou marsupiais.
As pistas levaram ao caminho correto. Conforme mostra um artigo científico publicado em julho na revista inglesa Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, a L. braziliensis foi encontrada em ratos-do-mato, que viviam na Zona da Mata de Pernambuco. A descoberta, além de revelar a complexidade do comportamento desse tipo de enfermidade, também mostra como é difícil a prolifaxia desse tipo de doença no país.
"Sendo esses hospedeiros animais silvestres, o controle se torna bastante complicado", disse Sinval Brandão Filho, chefe do Departamento de Imunologia do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, unidade da Fundação Oswaldo Cruz no Recife, à Agência FAPESP. Ele é um dos autores do artigo publicado na Inglaterra em julho. "Nesse sentido, fica ainda mais evidente a necessidade de uma vacina para que se possa controlar melhor esse tipo de parasitose", afirma o cientista.
Como os roedores identificados em Pernambuco também vivem em outras áreas do Brasil, essa ligação entre parasitas e animais silvestres também pode funcionar em outras áreas, acredita o cientista. "Hipoteticamente, esses animais, que estão presentes em outras áreas do Nordeste e no Sudeste, podem ser reservatórios também nessas outras regiões. Isso é provável e natural", afirma Brandão Filho. Para o pesquisador, o grande desafio agora é encontrar esses roedores e até marsupiais, como foi feito em Pernambuco, para que novos elos da leishmaniose possam ser descobertos.
O comportamento da leishmaniose no Brasil se transformou bastante nos últimos tempos não apenas por causa da descoberta dessa ligação com animais silvestres. "O processo de colonização e ocupação do espaço natural da doença pela ação antrópica contribuiu bastante para essa alteração", explica Brandão Filho. "Antes havia apenas a transmissão silvestre. Hoje, existem ciclos peridomésticos, em todas as regiões do país, inclusive na Amazônia. No Brasil são registrados 30 mil casos de leishmaniose tegumentar, a mais comum, todos os anos.
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