Um dos principais obstáculos à internacionalização de pequenas empresas, a distância psíquica entre os países é compreendida de forma simplista pelos gestores, o que agrava o problema (foto: FAPESP)

Diferenças multidimensionais
15 de abril de 2008

Um dos principais obstáculos à internacionalização de pequenas empresas, a "distância psíquica" entre os países é compreendida de forma simplista pelos gestores, o que agrava o problema. A conclusão é de estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Birmingham

Diferenças multidimensionais

Um dos principais obstáculos à internacionalização de pequenas empresas, a "distância psíquica" entre os países é compreendida de forma simplista pelos gestores, o que agrava o problema. A conclusão é de estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Birmingham

15 de abril de 2008

Um dos principais obstáculos à internacionalização de pequenas empresas, a distância psíquica entre os países é compreendida de forma simplista pelos gestores, o que agrava o problema (foto: FAPESP)

 

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – A chamada "distância psíquica" entre os países é um dos principais fatores limitantes para o desafio da internacionalização de empresas de pequeno porte. Mas, de acordo com um novo estudo, o obstáculo pode ser agravado pela disseminação de uma visão simplista da idéia.

A pesquisa, realizada por John Child e Suzana Braga Rodrigues, da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, foi apresentada nesta segunda-feira (14/4) durante o seminário Internacionalização de pequenas empresas: o papel da distância psíquica e da confiança, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).

Recentemente, os dois lançaram juntos o livro Corporate Co-evolution. Child é catedrático da Escola de Negócios de Birmingham e Suzana é professora de Organização e Negócios Internacionais na mesma universidade, além de lecionar na Fundação Mineira de Educação e Cultura, em Belo Horizonte.

De acordo com Suzana, o estudo, realizado em 2006, consistiu em entrevistas com 37 executivos de 32 empresas britânicas de pequeno porte que têm negócios no Brasil. Houve entrevistas também com agências exportadoras.

"Foram reunidos dados quantitativos sobre a distância psíquica e seu impacto nos negócios em 12 dimensões, além de dados qualitativos sobre a visão dos executivos a respeito da relevância desses obstáculos", disse Suzana à Agência FAPESP.

Segundo ela, a pesquisa mostrou que a idéia de distância psíquica é mal-entendida pelos gestores das empresas, que tendem a reduzi-la ao aspecto cultural, desprezando dimensões como infra-estrutura, fatores institucionais e práticas locais de negócios.

"Concluímos que a distância psíquica é um conceito multidimensional, que compreende muitos outros fatores além do aspecto cultural. Mas o conceito foi popularizado e acabou se disseminando por meio de preconceitos. Essas concepções simplificadas geram estereótipos que prejudicam a interação entre os países", explicou.

De acordo com Child, para compreender melhor os entraves à internacionalização de pequenas empresas, é preciso prestar mais atenção à maneira como os tomadores de decisão das empresas enxergam a distância psíquica.

"Suspeitávamos que a idéia de distância psíquica tinha pouco poder explicativo. Por isso, resolvemos interrogar os gestores para saber como esse conceito era tratado na prática. Descobrimos que, para que esse conceito seja útil na intepretação dos fenômenos, será preciso dar a ele outra abordagem teórica", afirmou.

Segundo o pesquisador, os atores envolvidos no processo de internacionalização, com a experiência e a capacidade de lidar com os problemas que se apresentam, têm grande potencial para transformar a distância psíquica.

"Muitas vezes as diferenças entre os países representam não um obstáculo, mas uma oportunidade. O problema é que, às vezes, existe ignorância total sobre as competências presentes em outro país e a noção simplificada de distância psíquica acaba impedindo a interação", disse.

De acordo com a pesquisa, as empresas entrevistadas lidam com a distância psíquica de três maneiras diferentes. Cerca de 50% delas tentam superar os problemas agindo em conjunto com parceiros brasileiros.

"Cerca de 15% transferem o problema exclusivamente para a parte brasileira, exigindo pagamentos adiantados, por exemplo. Outros 35% simplesmente desistem de lidar com as diferenças", disse Child.

Segundo Suzana, a transmissão estereotipada da idéia de distância psíquica é ainda mais grave quando é feita por instituições como câmaras de comércio, embaixadas e consulados.

"Essas instituições fazem a mediação entre as empresas de cada um dos países, por isso têm o poder de multiplicar suas visões para outras firmas que têm a intenção de se internacionalizar. Elas transferem imagens que podem já não corresponder à realidade – ou porque os problemas foram superados ou porque não eram tão sérios quanto se imaginava", afirmou.


Projeto Ginebra

De acordo com a coordenadora do seminário, a professora titular da FEA Maria Tereza Leme Fleury, o estudo realizado na Inglaterra traz uma contribuição importante ao Projeto Temático Gestão para a Internacionalização de Empresas Brasileiras (Ginebra), apoiado pela FAPESP e também coordenado por ela.

"O trabalho alertou que a dimensão da distância psíquica precisa ser colocada em uma nova perspectiva para tornar o conceito útil às pesquisas na área. Nosso projeto já desenvolve essa perspectiva, que não limita o conceito ao seu aspecto cultural, considerando, por exemplo, a distância de negócios e o ambiente institucional", afirmou.

Segundo o trabalho, a distância psíquica envolve ainda elementos como distância geográfica, cultura, língua, nível educacional, nível de desenvolvimento tecnológico, nível de desenvolvimento econômico, logística e infra-estrutura, sistema político, sistema legal, regulamentação, práticas de negócios aceitas e ética nos negócios.

Ginebra: http://ginebra.incubadora.fapesp.br


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