Durante o Fórum Cultural Mundial, Mauro Maldonato, da Universidade de Nápoles, prega uma resistência ao conformismo das identidades e ídolos coletivos, que interromperia a circulação de idéias entre os povos
Durante o Fórum Cultural Mundial, Mauro Maldonato, da Universidade de Nápoles, prega uma resistência ao conformismo das identidades e ídolos coletivos, que interromperia a circulação de idéias entre os povos
Agência FAPESP - Ao mesmo tempo em que as novas descobertas aumentaram o poder, os esquemas viciados criados pela humanidade aprisionam cada vez mais o homem. A tese foi apresentada pelo psiquiatra italiano Mauro Maldonato, no Fórum Cultural Mundial realizado na semana passada, em São Paulo.
"A postura científica moderna está totalmente baseada em uma lógica que tenta explicar os fenômenos até eles serem reduzidos a uma ordem matemática. Isso impede os pesquisadores de indagar os mistérios do universo às suas fronteiras mais extremas", afirmou o professor da Universidade de Nápoles na conferência "Diversidade cultural: patrimônios e paradigmas da humanidade".
De acordo com o princípio de que a ciência moderna não abre o homem para o mundo, mas o limita dentro de esquemas pré-determinados, o psiquiatra alertou para o fato de que as pessoas precisam tomar cuidado com os conceitos que as impedem de buscar novos conhecimentos.
"Precisamos encontrar lugares mais dignos para nosso pensamento e enxergar o mundo com o sentido da surpresa e da receptividade. A humanidade precisa olhar para coisas já vistas com o olhar da primeira vez. Deixar para traz padrões e conceitos que possam nos segurar no passado", disse.
Segundo Maldonato, é nesse ponto que entraria o papel decisivo da diversidade cultural entre as civilizações. "A diversidade consegue assumir o rosto do inimigo que nega a tradição à liberdade intelectual, à pesquisa científica e nosso sentido de verdade e de beleza. Precisamos valorizar a cultura da diversidade intelectual fazendo com que ela resista ao conformismo das identidades e ídolos coletivos que achatam o diálogo entre os povos", disse.
"Nossa época não é favorável para o reconhecimento da diversidade cultural, por isso os cidadãos precisam criar uma rede plural de critérios e objetivos que valorize e dê poder às autênticas expressões culturais", afirmou o psiquiatra italiano. Por conta disso, ele propõe a criação de novas normas interculturais onde cada civilização possa guardar os valores originais de seu tempo por meio do poder criador expresso na identidade cultural de seu povo.
"No mundo cheio de tensões e conflitos, as descobertas precisam trazer a ordem nas relações entre as sociedades, nas tradições culturais, nas redes das comunidades científicas e nas dinâmicas de cooperação e concorrência", acredita
Para ele, o ideal é que sejam desenvolvidas pesquisas temáticas que possam lutar pela valorização das diferenças culturais, para que não sejam criadas políticas culturais unificadas. "A idéia de uma cultura universal, por exemplo, é ingênua e extremamente errada. As identidades possuem diferenças ideológicas que, quando se encontram e se combinam, produzem resultados imprevisíveis", disse.
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