A hantavirose, doença diagnosticada pela primeira vez no Brasil em 1993, continua só podendo ser controlada a partir da detecção precoce. Além de métodos novos, laboratórios seguros também são necessários para que os cientistas possam agir
A hantavirose, doença diagnosticada pela primeira vez no Brasil em 1993, continua só podendo ser controlada a partir da detecção precoce. Além de métodos novos, laboratórios seguros também são necessários para que os cientistas possam agir
Agência FAPESP - Primeiro surgiu um método eficiente. Em alguns meses, um novo laboratório, com nível de biossegurança 3+, será mais uma arma que os cientistas do Centro de Pesquisa em Virologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo terão para estudar melhor o comportamento do hantavírus.
Esse microrganismo, que desde 1993 causa séria infecção pulmonar em seres humanos, conhecida como hantavirose, já foi responsável por quase 400 casos só no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde – os números são válidos até 2003 – a taxa de mortalidade da doença é de 44,5%. O ministério reconhece como oficiais, até o ano passado, a ocorrência de 338 casos.
"Em 2004, as mortes no Distrito Federal chamaram a atenção de todos, mas a doença está presente em todo o país. O surgimento do problema não chega a surpreender", disse o professor Luiz Tadeu Moraes Figueiredo, da USP de Ribeirão Preto, à Agência FAPESP. Desde maio, a doença provocou 13 mortes no Distrito Federal e cidades-satélites.
Nas bancadas do interior de São Paulo, Marcos Lazaro Moreli, um dos alunos de doutorado de Figueiredo, acaba de desenvolver uma proteína de hantavírus que pode ser usada em testes sorológicos, feitos para detectar a doença. O processo de síntese da proteína, que está sendo patenteado, deve ajudar a acelerar o diagnóstico da doença.
"Essa é uma proteína que não existe comercialmente. Com ela, pretendemos tornar mais fácil a detecção do vírus", explica Figueiredo, que coordenou o trabalho realizado por Moreli.
Até agora, a detecção da doença é feita com base em antígenos doados por centros de pesquisa do exterior. No Brasil, essas reações bioquímicas são feitas apenas no Instituto Adolfo Lutz de São Paulo e no Instituto Evandro Chagas, em Bélem (PA). O eficiente método desenvolvido em Ribeirão Preto, região em que já foram detectados 31 casos de hantavirose, surgiu após a identificação da variante do vírus que ocorre no local.
Descobrir que se tratava de um vírus do tipo Araraquara também foi uma tarefa concluída pelos pesquisadores da USP de Ribeirão Preto. Em todo o Brasil, são conhecidos mais três variantes: Juquitiba, Castelo dos Sonhos e Anajatuba.
"Se tudo der certo, em novembro deveremos nos mudar para um novo prédio, onde está sendo construído um laboratório seguro, no qual será possível isolar o hantavírus e fazer experiências com animais", explica Figueiredo. Segundo o cientista, por enquanto se conseguiu apenas trabalhar com pedaços de RNA do hantavírus.
O risco não existe apenas para os cientistas em seus laboratórios. O hantavírus costuma ter como um de seus hospedeiros o rato-de-rabo-peludo (Bolomys laziurus). Ao inalar poeiras com restos da urina ou das fezes de roedores como esse, o ser humano, principalmente em áreas rurais, pode ter contato com o vírus. O diagnóstico rápido, segundo Figueiredo, é a forma mais segura para se garantir uma chance de sobrevida ao paciente.
Os números do Ministério da Saúde mostram que o Sul do Brasil é a região mais afetada pela hantavirose, com 173 casos até 2003. O Sudeste teve 116 casos notificados, o Centro-Oeste 36, o Nordeste nove e a região Norte registrou apenas quatro.
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