Para Ana Maria Freire, viúva do educador morto em 2 de maio de 1997, a pedagogia da tolerância é cada vez mais fundamental para a sociedade contemporânea (Foto: Arquivos Paulo Freire)

Dez anos sem Paulo Freire
02 de maio de 2007

Para Ana Maria Freire, viúva do educador morto em 2 de maio de 1997, a pedagogia da tolerância é cada vez mais fundamental para a sociedade contemporânea. Ciclos em universidades discutem a contribuição do pedagogo

Dez anos sem Paulo Freire

Para Ana Maria Freire, viúva do educador morto em 2 de maio de 1997, a pedagogia da tolerância é cada vez mais fundamental para a sociedade contemporânea. Ciclos em universidades discutem a contribuição do pedagogo

02 de maio de 2007

Para Ana Maria Freire, viúva do educador morto em 2 de maio de 1997, a pedagogia da tolerância é cada vez mais fundamental para a sociedade contemporânea (Foto: Arquivos Paulo Freire)

 

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Há exatos dez anos, em 2 de maio de 1997, o Brasil perdia um de seus mais influentes intelectuais, o pedagogo pernambucano Paulo Freire, aos 75 anos. Mas sua obra se mantém mais viva do que nunca. O destaque é da própria viúva do educador, Ana Maria Araújo Freire.

"O Brasil e o mundo precisam muito de Paulo, por isso sua obra está sendo mais lida e mais considerada do que na década de 1980, por exemplo. Naquele momento, houve uma inclinação para a generalização de uma ética de mercado, em que predominava a lógica da competição. Há dez anos, esse modelo já estava desmoronando e se percebia que o que vale mesmo é a ética da vida", disse Ana Maria, que também é pedagoga, à Agência FAPESP.

Para ela, a pedagogia popular de Freire, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência, carrega respostas para muitas das necessidades da sociedade atual.

"A tolerância entre os seres – todos eles, não apenas os humanos – está no centro da obra de Paulo. A tendência predatória neoliberal, que vilipendia os povos, resultou em uma série de guerras e flagelos. Aqueles que buscam um mundo melhor encontram na pedagogia dele explicações, força e esperança. Por isso sua influência se aprofundou tanto neste século", disse Ana Maria, que foi professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

A atualidade de Paulo Freire se verifica nas publicações de diversas coletâneas, biografias e obras inéditas do autor na última década. Um exemplo é a coletânea Pedagogia da tolerância, organizada por Ana Maria, que ganhou o Prêmio Jabuti, em 2006.

O livro faz parte da Série Paulo Freire, da Editora Unesp. Com sete livros publicados, a série inclui as quatro últimas obras do autor e outros três de comentadores e biógrafos que trataram de sua obra. Segundo o editor-executivo da editora, Jézio Gutierre, com os dez anos da morte de Freire haverá um esforço extra de divulgação de seus livros.

"Entendemos que Paulo Freire é um dos pensadores mais notáveis da pedagogia mundial e que sua obra atinge todos os objetivos institucionais perseguidos pela editora. É um privilégio ter publicado suas últimas obras", disse à Agência FAPESP.

O último livro organizado pelo educador, segundo lembra Gutierre, foi Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos , lançado pela Editora Unesp em 2000. "Ficou inacabado quando ele faleceu. Na obra, ele defende as condições para a realização da utopia que é a democratização da sociedade brasileira", disse.

A série inclui, ainda, Pedagogia da tolerância (2005), Pedagogia da libertação em Paulo Freire (2001), Pedagogia dos sonhos possíveis (2001), os três organizados por Ana Maria, Paulo Freire, o menino que lia o mundo (2005), organizado por Ana Maria e Carlos Rodrigues Brandão, Leituras freireanas sobre a educação (2003), de Ivanilde Apoluceno de Oliveira, e a reedição de Cartas a Cristina: reflexões sobre minha vida e minha práxis (2003).

"É importante que os leitores de Freire e as livrarias saibam que ainda restaram textos inéditos do autor. Alguns deles são extraordinariamente relevantes para sua obra, dando novas interpretações a muitos de seus escritos", disse Gutierre.

Ana Maria afirma que a série de livros da Editora Unesp é uma prova de que a obra do educador nunca deixou de aumentar seu campo de influência e ainda tem muito a contribuir para a construção e consolidação da democracia.

"As pessoas estão mais críticas hoje e começam a se conscientizar de que a solidariedade é uma virtude essencial para a humanidade. O título do próximo livro que estou organizando é Pedagogia da solidariedade. É disso que precisamos, de uma cultura da tolerância, de um entendimento mais profundo e de igualdade de condições marcada pelo respeito às diferenças. Por isso a obra de Paulo Freire é tão necessária na atualidade", disse.

Durante todo o mês de maio, uma série de homenagens e eventos relacionados com a vida e a obra do pedagogo pernambucano serão realizados pelo país.

A Universidade Estadual de Campinas realiza o 5º Seminário Paulo Freire no dia 9 de maio, a partir das 8h30. Os destaques do evento são as mesas-redondas "A linguagem em Paulo Freire", que abordam os temas "A pedagogia" e "A cultura popular". O evento ocorrerá no Centro de Convenções da universidade.

O Centro Paulo Freire Estudos e Pesquisas, da Universidade Federal de Pernambuco, realiza a homenagem "Dez anos sem e com Paulo Freire", de 2 a 4 de maio. O destaque do evento é a teleconferência "Paulo Freire: do Recife para o mundo".

Informações sobre outros eventos podem ser encontradas em www.paulofreire.org


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