Antônio Cândido, no IEA: 'É importante que exista sempre o mal-estar dentro da universidade. O bem-estar é sinônimo do status quo'
(foto:E. Geraque)

Desmonte institucional
13 de abril de 2005

Em conferência no IEA, o filósofo Franklin Leopoldo e Silva (foto) enuncia suas preocupações com o caminho acadêmico do Brasil atual. A partir de uma análise crítica, e histórica, o conferencista aponta as causas da perda de identidade da universidade

Desmonte institucional

Em conferência no IEA, o filósofo Franklin Leopoldo e Silva (foto) enuncia suas preocupações com o caminho acadêmico do Brasil atual. A partir de uma análise crítica, e histórica, o conferencista aponta as causas da perda de identidade da universidade

13 de abril de 2005

Antônio Cândido, no IEA: 'É importante que exista sempre o mal-estar dentro da universidade. O bem-estar é sinônimo do status quo'
(foto:E. Geraque)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - O atual anteprojeto de reforma universitária desenhado pelo governo federal, entre outras implicações, acaba validando um processo de desmonte não-gradual da universidade brasileira. Essa idéia foi uma das várias apresentadas nesta terça-feira (12/4) pelo filósofo Franklin Leopoldo e Silva, durante palestra no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP).

"Em toda essa discussão fica claro que a universidade não vai buscar redefinir-se. O que está se buscando é apenas adequar a academia ao contexto atual", disse Leopoldo e Silva. Na opinião do também professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH), o que pode ocorrer é uma espécie de privatização das características da esfera pública. "Pretende-se que valores como a lógica dos mercados, o tecnicismo produtivo e a organização empresarial estejam cada vez mais presentes no dia-a-dia das universidades", disse o conferencista.

Para Leopoldo e Silva, está claro que a ditadura acabou levando o Brasil direto para o neoliberalismo. Esse processo provocou ações como as que podem ser constatadas nos dias de hoje. "O que existe é uma desinstitucionalização da universidade, além de um desaparecimento das políticas públicas, que deveriam ser pautadas pelas reais necessidades sociais", afirmou.

No lugar da adequação, explica o intelectual, o mais correto seria que a universidade, a partir de um contexto histórico e político, conseguisse se redefinir. Para Leopoldo e Silva não seria negativo a universidade ficar um pouco fora de seu tempo, desde que ela estivesse com algumas raízes nele. "É fundamental que seja preservada a liberdade de reflexão e não que os objetivos sejam definidos pela autoridade pública externa", disse.

Ao lado de Leopoldo e Silva, como um dos debatedores da conferência desta terça, que teve como título Idéia, História e Realidade, estava Antônio Candido, professor emérito da USP e honorário do IEA.

"É importante que exista sempre o mal-estar dentro da universidade. O bem-estar é sinônimo do status quo. A estabilidade é o sinônimo de morte", disse Candido, que brindou a platéia com uma historiografia falada dos primórdios da USP. "A Faculdade de Direito era uma máquina que formava pessoas para a elite, independentemente de onde os alunos vinham. Na Faculdade de Filosofia, ocorria exatamente o inverso", contou o professor, que cursou as duas carreiras na década de 1930.


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