Para pesquisadores do Ipam, discussão sobre desmatamento na Amazônia está míope
(foto:LBA)

Desmatamento qualificado
14 de junho de 2005

Informações preciosas estão perdidas no meio dos grandiosos indíces anuais de derrubada da floresta amazônica, afirmam pesquisadores do Ipam. Aceitar as ações legais, para centrar o foco nas ilegais, é um passo importantes para manter a Amazônia viva

Desmatamento qualificado

Informações preciosas estão perdidas no meio dos grandiosos indíces anuais de derrubada da floresta amazônica, afirmam pesquisadores do Ipam. Aceitar as ações legais, para centrar o foco nas ilegais, é um passo importantes para manter a Amazônia viva

14 de junho de 2005

Para pesquisadores do Ipam, discussão sobre desmatamento na Amazônia está míope
(foto:LBA)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Entre 2003 e 2004, 26 mil quilômetros quadrados da floresta amazônica deixaram de existir. Tal ritmo, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), só foi maior em 1995. Nos últimos anos, entretanto, a média do desmatamento tem sido muito maior do que a registrada nos anos 1990.

"A grande questão, nesse caso, mais do que o índice em si, é justamente poder dizer o que é legal e o que é ilegal", afirma Ane Alencar, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), uma ONG sediada em Belém (PA). "A contabilidade das áreas que foram liberadas para o desmatamento, dentro do que foi realmente derrubado, poderia nos trazer revelações importantes", afirma a também especialista em sensoriamento remoto.

Para Ane e seus colegas do Ipam, o debate sobre o desmatamento da floresta amazônica está míope. "Existe uma falta de qualificação do desmatamento", afirma. Saber o peso da ilegalidade no desmatamento anual tem uma outra importância, na visão da pesquisadora. "Quanto dos procedimentos de controle e de fiscalização dos órgãos federais e estaduais têm realmente alguma avaliação do que está ocorrendo?"

A resposta da pergunta acima, explica Ane, seria um indicador importante. "A partir daí, saberemos se essa informação sobre a legalidade ou não é impossível de ser dada, ficando perdida no ar e escondida pela discussão sobre a grandeza da taxa total de desmatamento." As estimativas mais conservadoras falam que apenas um terço do que cai da floresta todos os anos está legalizado.

Depois de separado o desmatamento apropriado – necessariamente legal, mas também realizado em solos aptos para agricultura e, portanto, com baixo risco de abandono precoce da atividade – do ilegal, o debate poderá ganhar nova profundidade, acreditam os pesquisadores do Ipam. "As ações na Amazônia produzem processos diferenciados de ocupação, que requerem tratamento distintos."

Nas fronteiras chamadas familiares, infra-estrutura adequada, assistência e crédito para intensificar a produção e a rotatividade vão diminuir a pressão sobre a floresta, acredita Ane. "No caso das áreas onde o agronegócio empresarial está consolidado, a única chance é usar o mercado para cobrar uma conduta ambiental adequada", explica.

Um terceiro caso é o tratamento das chamadas áreas de fronteira de expansão explosiva. "O governo começou fazendo isso ao longo da BR-163 (estrada no Sul do Pará considerada uma área complexa de fronteira agrícola). Mas não basta somente a fiscalização apertar. Em todos os níveis precisamos de grandes exemplos contra a ilegalidade, para inibir aqueles que representam 80% dos ilegais e que mudariam de lado frente a uma ameaça real de punição, como começou a ocorrer."


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