Desmatamento na Amazônia aumentou 40% em 2002
26 de junho de 2003

Foram desmatados 25.500 km² na Amazônia Legal no ano passado, uma área superior ao Estado de Sergipe (21.910 km²). Pesquisadores do Inpe apontam motivos para o problema

Desmatamento na Amazônia aumentou 40% em 2002

Foram desmatados 25.500 km² na Amazônia Legal no ano passado, uma área superior ao Estado de Sergipe (21.910 km²). Pesquisadores do Inpe apontam motivos para o problema

26 de junho de 2003

 

Dados divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apontam um aumento de 40% no desmatamento da região amazônica. A estimativa é que foram desmatados 25.500 km² na Amazônia Legal, uma área superior ao Estado de Sergipe (21.910 km²). O índice é o segundo maior da história do monitoramento por satélite realizado pelo instituto. Fica atrás apenas de 1995, quando a estimativa foi de 29.059 km2.

Os dados foram calculados com base em 50 imagens de satélite obtidas entre julho de 2001 a junho de 2002, na região conhecida como "arco do desflorestamento", onde se concentra 75% da floresta alterada pelo homem.

O mesmo cálculo apontava para um total de 18.200 km² em 2001, ou seja, o aumento na taxa anual de desmatamento, de um ano para outro ficou em torno de 40%. Os dados são contrários ao que afirmava o governo de Fernando Henrique Cardoso, que havia afirmado uma tendência à diminuição no desmatamento.

Alberto Setzer, responsável pelo monitoramento de queimadas do Inpe aponta que os satélites já haviam identificado um aumento de 60% no número de focos de calor na região amazônica em 2002 em relação ao ano anterior. Setzer acredita que o ano eleitoral pode ter contribuído para uma menor fiscalização, com aumento nas queimadas e no desmatamento.

Esta também é a opinião de outro pesquisador do instituto, João Roberto dos Santos, responsável pelo levantamento anual de dados do Inpe. "Quando você passa de uma taxa em torno de 18 mil km² para outra de mais de 25 mil km², parece evidente que houve um desleixo na fiscalização", diz.

Os pesquisadores do instituto acreditam que a troca de governo também pode ter estimulado os proprietários rurais a desmatar mais. Isso se deveria ao temor de que um novo governo tomasse medidas mais restritivas ao desmatamento ou aumentasse a fiscalização. "Na dúvida eles preferiram desmatar logo, ante a ameaça de não poder fazê-lo depois", diz Setzer.

Para Setzer, porém, há outros motívos possíveis. Uma delas é a alteração no câmbio, com desvalorização do real. A desvalorização fez a soja brasileira tornar-se atrativa no mercado internacional, o que pressionou a expansão da lavoura, com conseqüente desmatamento. Santos também aponta a expansão da soja no Estado de Mato Grosso como um outro motivo para o crescimento.

Setzer aponta ainda para fatores climáticos. O efeito El Niño moderado no ano passado tornou o clima mais seco, o que favoreceu a propagação do fogo e transformou as tradicionais queimadas na lavoura em incêndios florestais.

Por André Muggiati


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