A onda de calor na Europa em 2003 também desequilibrou o fluxo de carbono na região
(foto: Greenpeace)
Onda de calor registrada na Europa causou transformação perigosa no balanço de carbono regional, disse Philippe Cias, do Laboratório de Ciências do Clima e Meio Ambiente da França, à Agência FAPESP
Onda de calor registrada na Europa causou transformação perigosa no balanço de carbono regional, disse Philippe Cias, do Laboratório de Ciências do Clima e Meio Ambiente da França, à Agência FAPESP
A onda de calor na Europa em 2003 também desequilibrou o fluxo de carbono na região
(foto: Greenpeace)
Agência FAPESP - Quente, seco e perigoso do ponto de vista ambiental. A onda de calor que causou milhares de mortes na Europa em 2003 teve conseqüências também terríveis para o crescimento das formações vegetais revela um estudo publicado na edição desta quinta-feira (22) da revista Nature.
Baseados em modelos matemáticos que analisam as relações entre o clima e a biosfera, além de imagens de satélites e em dados sobre os fluxos de carbono regionais, os cientistas constataram que o crescimento das vegetações temperadas européias foi 30% menor do que em anos anteriores. Pior do que isso. Em vez de funcionar como sorvedouros de carbono, as plantas viraram fonte. Isso, se repetido, poderá potencializar ainda mais o aquecimento global em termos regionais.
"Ainda é muito cedo para fazer generalizações para o futuro, mesmo ficando restrito aos ambientes temperados", disse Philippe Cias (que assinou o texto ao lado de vários colaboradores), do Laboratório de Ciências do Clima e Meio Ambiente da França, principal autor do estudo, à Agência FAPESP. Mesmo assim, o pesquisador lembra que os modelos climáticos feitos para a Europa até o momento mostram dados preocupantes.
"A expectativa é que novas ondas de calor, como as de 2003, ocorram novamente na Europa, na mesma intensidade, até 2025", explica o pesquisador francês. A principal causa da diminuição na produção primária das plantas no ano retrasado, segundo as análises, é de origem climática. O déficit de chuvas e as altas temperaturas (algumas regiões da França registraram 40º C) foram os grandes responsáveis pelo baixo crescimento.
Quando lançado em uma perspectiva histórica, os dados observados pela equipe européia revelam outra característica do episódio de 2003, que funcionou como um laboratório a céu aberto para os pesquisadores. A redução na produtividade primária não teve precedentes em todo o século passado.
Em comentário na sessão "News & views", na mesma edição da Nature, Dennis Baldocchi, da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, aponta outro desdobramento importante da descoberta. "O estudo mostra que episódios quentes e secos como o de 2003 podem impedir que o continente consiga cumprir as exigências do Protocolo de Kyoto, apenas pela redução da queima de combustível fóssil ou o controle de outras fontes terrestres de carbono", disse.
O artigo Europe-wide reduction in primary productivity caused by the heat and drought in 2003 pode ser lido no site da revista Nature, em www.nature.com
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