O ambulante, de Vincenzo Pastore, foi registrado em 1911 nas ruas de São Paulo
(foto: Instituto Moreira Sales)
De 1880 a 1910 Militão de Azevedo, Guilherme Gaensly e Vincenzo Pastore, fotografaram as ruas de São Paulo e seus personagens. Segundo a antropóloga Fraya Frehse, em análise que será apresentada na sexta (29/10) na reunião da Anpocs, as imagens geram, de forma involuntária, um discurso claro sobre o outro
De 1880 a 1910 Militão de Azevedo, Guilherme Gaensly e Vincenzo Pastore, fotografaram as ruas de São Paulo e seus personagens. Segundo a antropóloga Fraya Frehse, em análise que será apresentada na sexta (29/10) na reunião da Anpocs, as imagens geram, de forma involuntária, um discurso claro sobre o outro
O ambulante, de Vincenzo Pastore, foi registrado em 1911 nas ruas de São Paulo
(foto: Instituto Moreira Sales)
Agência FAPESP - Se a antropologia é uma forma de olhar para o outro, a relação que se estabelece entre a imagem de uma fotografia e o discurso escrito é um caminho seguro para alargar os horizontes interpretativos de uma transformação sociocultural importante. Isso ocorreu em São Paulo entre os anos de 1880 e 1910.
Ao analisar as imagens feitas na cidade por fotógrafos como Militão de Azevedo (1837-1905), Guilherme Gaensly (1843-1928) e Vincenzo Pastore (1865-1917), Fraya Frehse, do Núcleo de Antropologia Urbana da Universidade de São Paulo, encontrou uma antropologia involuntária nos personagens que ganharam vida pela revelação das imagens.
"A natureza da fotografia tem um certo mistério que acaba escapando da palavra. Se a antropologia também é uma forma de buscar um discurso sobre o outro, o retrato de personagens nas ruas de São Paulo, no período estudado, acaba viabilizando um tipo de interpretação", disse à Agência FAPESP Fraya. A pesquisadora paulista irá apresentar a análise nesta sexta-feira (29/10) na Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu (MG).
A antropologia revelada ao imaginário social contemporâneo proposta de forma involuntária pelos fotógrafos, segundo a cientista social, emerge com as histórias dos desencontros na passagem do tempo, na modernidade e na nova humanidade que invadia as ruas paulistanas na virada do século passado. "Podemos dizer que os desencontros da época eram encontrados pelo fotógrafo", conta Fraya.
O contexto social do período em que as fotos foram tiradas diz muita coisa à antropóloga. "Havia um próprio estranhamento do fotógrafo em andar pela cidade. Durante a escravidão, circular pelas ruas era coisa de pobre. As mulheres da elite, por exemplo, estão sempre ausentes. Elas saíam de casa apenas em situações especiais, como para ir à Igreja", explica. Na análise das imagens, o vendedor de vassouras, registrado por Pastore em 1911, é um dos exemplos citados pela pesquisadora.
"As transformações sociais da época foram brutais. Era novidade sair às ruas. O conjunto das imagens revelam a presença de ricos, pobre e intermediários. O ambulante, por exemplo, contrasta com uma eventual modernidade que estava sendo vista em São Paulo no mesmo período", disse a antropóloga da USP.
Segundo Fraya, a antropologia que salta das imagens deve sempre ser atravessada pelo processo maior. "Havia novos modos, novos sujeitos. Mas nada era simples ou linear. O tempo passado sempre acabava se misturando a um tempo presente. O cenário estava mudando."
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