Para Salles, uma das carências importantes é a falta de governabilidade dos centros e institutos de pesquisa no Brasil (foto: E.Geraque)

Descontínuo e frágil
18 de novembro de 2005

O futuro das instituições de pesquisa no Brasil, tanto no setor privado quanto no público, é considerado incerto por especialistas reunidos na 3ª Conferência Nacional de CT&I

Descontínuo e frágil

O futuro das instituições de pesquisa no Brasil, tanto no setor privado quanto no público, é considerado incerto por especialistas reunidos na 3ª Conferência Nacional de CT&I

18 de novembro de 2005

Para Salles, uma das carências importantes é a falta de governabilidade dos centros e institutos de pesquisa no Brasil (foto: E.Geraque)

 

Por Eduardo Geraque, de Brasília

Agência FAPESP - Canibalismo, falta de governança, planejamento descontinuado, pautas de trabalho apenas para o curto prazo e dificuldade em promover a renovação das fronteiras do conhecimento. A lista de problemas, apresentada por Sérgio Salles, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e relacionada aos institutos de pesquisa no Brasil, é bastante extensa.

Para provocar o debate, realizado na quinta-feira (17/11), na 3ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, em Brasília, o pesquisador apresentou duas hipóteses bastante catastrofistas que tentam apontar o futuro das instituições, quase 500 atualmente no país.

"Uma das possibilidades é que todos passem a competir de forma aberta e desenfreada. Que virem ‘curtoprazistas’, com perdão da palavra, e voltados apenas a serviços tecnológicos", disse Salles. O professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica do Instituto de Geociências teme que, no caso das instituições públicas, elas fiquem sem densidade em suas áreas de atuação e, portanto, sem formas eficientes para se sustentar.

A segunda hipótese mostra também uma grande incerteza em relação ao futuro. "Da forma como está, com todas as amarras jurídicas que existem, as organizações de pesquisa tendem a perder competência relativa", afirmou Salles. "Sou totalmente favorável à autonomia total dos institutos para questões administrativas, de pessoal e patrimoniais, apesar de esta última ser até contra a Constituição."

Para reverter a tendência de colapso do sistema, diversas áreas devem ser atacadas ao mesmo tempo. Uma delas é a questão da descontinuidade das ações estratégicas, provocadas principalmente pela troca de integrantes do governo. "Além disso, há a questão do modelo jurídico, da cultura dessas instituições e da necessidade de enfrentar a competição", disse Salles à Agência FAPESP.

Para ele, uma das carências importantes é a falta de governabilidade dos centros e institutos de pesquisa no Brasil. Se boa parte desses nós forem desatados, o pesquisador não tem dúvidas de que as hipóteses negativas serão refutadas. "As organizações de pesquisa são fundamentais para o desenvolvimento do sistema de ciência e tecnologia nacional. Não se pode imaginar nada sem elas", disse o professor da Unicamp, que também tem opinião clara sobre os institutos privados. "Nesse caso, o problema é a dependência. Se as leis de incentivo acabarem, não sei como esses institutos vão continuar."


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