Duas espécies de pteroussaros encontradas na China são descritas em conjunto por brasileiros e chineses

Descoberta da China
06 de outubro de 2005

Descrição de duas novas espécies de répteis voadores na China, por brasileiros e chineses, poderá ser a chave para uma análise da competição entre esses animais e as aves durante o Cretáceo

Descoberta da China

Descrição de duas novas espécies de répteis voadores na China, por brasileiros e chineses, poderá ser a chave para uma análise da competição entre esses animais e as aves durante o Cretáceo

06 de outubro de 2005

Duas espécies de pteroussaros encontradas na China são descritas em conjunto por brasileiros e chineses

 

Por Washington Castilhos, do Rio de Janeiro

Agência FAPESP - "A maioria dos depósitos onde hoje são achados fósseis de pterossauros estavam em antigas regiões costeiras. Observamos que nessas áreas há a predominância desses répteis voadores sobre as aves primitivas. Em Liaoning, área continental, ocorre justamente o inverso. Lá foram encontrados até agora cerca de 2 mil exemplares de 26 espécies de aves primitivas contra apenas 140 exemplares de 16 espécies de pterossauros", afirma o paleontólogo Alexander Kellner, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O pesquisador brasileiro é um dos autores do estudo Pterosaur diversity and faunal turnover in Cretaceous terrestrial ecosystems in China, publicado na edição desta quinta-feira (6/10) da revista britânica Nature. As descobertas revelam importantes avanços científicos sobre o relacionamento das aves e dos répteis que viviam na China e que voavam.

"Esse trabalho nos permite concluir que, durante o Cretáceo e grande parte do Mesozóico, os pterossauros tinham o domínio das regiões costeiras, enquanto as aves dominavam o interior dos continentes", diz o pesquisador do Museu Nacional. A constatação é baseada nas evidências de que os quatro principais depósitos do mundo, que no passado eram regiões costeiras – a Formação Santana, no Brasil, e outros na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Alemanha –, detêm cerca de 50% da diversidade e 90% dos exemplares de pterossauros.

O Fellongus youngi e o Nurhachius ignaciobritoi mediam cerca de 2,5 metros de envergadura (da ponta de uma asa a outra), segundo as dimensões do crânio e dos ossos encontrados. Alimentavam-se basicamente de insetos e peixes, tendo o Fellongus uma característica peculiar que, para os pesquisadores, permanece um mistério: a parte superior de sua arcada dentária é mais extensa do que a inferior.

O próximo passo da equipe de pesquisadores é estudar a competição direta entre diferentes espécies e quais alimentos eles disputavam com as aves e entre si. "Daí podem sair as razões pelas quais uns dominavam a costa enquanto os outros se concentravam no interior do continente. Possivelmente, essa separação também ocorreu porque regiões de florestas favoreceram mais as aves, que são bípedes, enquanto os pterossauros eram quadrúpedes", observa o paleontólogo.

Acordo Brasil e China

Os nomes com os quais os animais foram batizados são uma curiosdade: Fellongus quer dizer "dragão voador", em chinês, e youngi é uma homenagem ao pesquisador C. C. Young, primeiro a descrever um pterossauro e até hoje considerado um dos mais importantes paleontólogos chineses. O segundo recebeu o nome de Nurhachius ignaciobritoi como homenagem ao fundador da dinastia Chi’ing e ao paleontólogo brasileiro Ignácio Brito.

Os fósseis dos dois animais foram encontrados há dois anos em duas formações da região de Liaoning, no nordeste da China, depositados em camadas representando rios e lagos que existiram entre 138 milhões e 120 milhões de anos atrás. "Os tufos e as sedimentações vulcânicas, resultantes de erupções, são um sinal de que, na época, ocorreram catástrofes ambientais na região", atesta Kellner.

Essa intensa atividade vulcânica acabou trazendo duas grandes contribuições para os paleontólogos atuais: a preservação da fauna e da flora que existia no local e a possibilidade de datação exata das camadas onde hoje estão os fósseis. "Em Liaoning encontramos desde formas extremamente primitivas às mais derivadas. Essa sucessão de depósitos corresponde a um intervalo de 5 milhões de anos. Nenhum outro depósito tem essa característica e ainda com animais tão bem preservados", afirma o pesquisador.

Atualmente, a região, assim como a China em geral, tem contribuído significativamente para o avanço da paleontologia mundial. Recentemente, a descoberta em Liaoning do Microraptor gui, o dinossauro com penas, levantou a velha polêmica de se as aves seriam ou não descendentes dos dinossauros.

E os pesquisadores adiantam que, em breve, três outras descobertas do local serão apresentadas. A pesquisa é o resultado de um acordo de cooperação entre as academias de Ciência do Brasil e da China para o estudo de espécies de répteis voadores encontradas pelos chineses. Além de Kellner, assinam o artigo da revista Nature os chineses Xiaolin Wang e Zhonghe Zhou, do Instituto de Paleontologia de Vertebrados e Paleoantropologia da China, e o brasileiro Diógenes de Almeida Campos, responsável pelo Museu de Ciências da Terra e membro do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).


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