Fotos: Projeto Manuelzão
Integrantes do Projeto Manuelzão, que nasceu na Universidade Federal de Minas Gerais, percorrem 761 quilômetros traçando um panorama da biodiversidade do maior afluente do Rio São Francisco
Integrantes do Projeto Manuelzão, que nasceu na Universidade Federal de Minas Gerais, percorrem 761 quilômetros traçando um panorama da biodiversidade do maior afluente do Rio São Francisco
Fotos: Projeto Manuelzão
Agência FAPESP - Por quase um mês, um grupo formado por um professor de História, um esportista aventureiro e um mobilizador social percorreu 761 quilômetros do Rio das Velhas, em Minas Gerais. De 13 de setembro a 11 de outubro, a expedição refez a rota do escritor inglês Richard Burton, que, em 1867, traçou as condições ambientais dos locais por onde passou.
Roberto Varejão, professor de História da Universidade Federal de São João Del Rey, Ronald de Carvalho Guerra, mobilizador social, e o praticante de caiaquismo Rafael Bernardes fazem parte do Projeto Manuelzão, que há seis anos atua nos municípios banhados pelo Rio das Velhas, difundindo informações sobre saúde e preservação ambiental.
Desenvolvido por professores da disciplina Internato Rural, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Projeto Manuelzão pretende incutir a cultura ecológica nos habitantes que vivem ao longo do rio, principal afluente do São Francisco. "Nossa missão é promover a volta do peixe ao rio, preservando sua diversidade histórica por meio da atuação nas áreas de educação ambiental, saúde, meio ambiente e cidadania", disse à Agência FAPESP Antônio Leite, um dos coordenadores do grupo.
Revitalizar o Rio das Velhas era uma idéia antiga do professor Apolo Heringer Lisboa, coordenador geral do projeto. De 1989 a 1996, os rascunhos ficaram na gaveta. O plano saiu do papel no ano seguinte, quando, apoiados pela prefeitura de Belo Horizonte, pesquisadores navegaram por alguns trechos do rio. O grupo visitou oito dos 51 municípios que formam a bacia, que tem uma área que atinge 30 mil quilômetros quadrados.
A recente expedição teve início na Cachoeira das Andorinhas, em Ouro Preto, e passou por 30 municípios até chegar a Barra do Gauicuí. "Constatamos que o rio, com águas limpas nos primeiros quilômetros da nascente, morre em Belo Horizonte por causa da poluição gerada pelos dejetos", disse Antônio Leite. Segundo ele, as águas voltam a ser límpidas e até ter peixes conforme o rio se afasta da capital mineira. "Existem registros de que o Rio das Velhas era navegável entre o final do século XIX e início do século XX, porém, por causa da poluição e do desmatamento, ele perdeu em quantidade e qualidade da água", disse Leite.
O Projeto Manuelzão faz um estudo científico da região por meio do biomonitoramento da bacia do Rio das Velhas. Ele recebe o apoio financeiro da Copasa, companhia mineira de saneamento básico, da Secretaria Estadual de Educação e da Prefeitura de Belo Horizonte.
Contando "causos" sertão afora, Manuel Nardy inspirou Guimarães Rosa a escrever o romance Manuelzão e Miguilim (1964). Ele foi o guia da cavalgada que o escritor fez pelo interior de Minas Gerais durante as pesquisas para o livro Grande Sertão: Veredas (1956). Em 1997, ano da criação do grupo da UFMG, o sertanejo mineiro mais uma vez foi fonte de inspiração. Teve seu nome e conduta frente à natureza homenageados pelo Projeto Manuelzão.
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