Pesquisadores observam que uma alteração no funcionamento da rede cerebral associada à recompensa parece anteceder em alguns anos a instalação do problema em adolescentes (foto: Eduardo César / Pesquisa FAPESP)

Depressão em adolescentes pode estar ligada a aumento na recompensa
20 de fevereiro de 2018

Alteração no funcionamento da rede cerebral associada à recompensa parece anteceder em alguns anos a instalação do problema em adolescentes, indica pesquisa

Depressão em adolescentes pode estar ligada a aumento na recompensa

Alteração no funcionamento da rede cerebral associada à recompensa parece anteceder em alguns anos a instalação do problema em adolescentes, indica pesquisa

20 de fevereiro de 2018

Pesquisadores observam que uma alteração no funcionamento da rede cerebral associada à recompensa parece anteceder em alguns anos a instalação do problema em adolescentes (foto: Eduardo César / Pesquisa FAPESP)

 

Ricardo Zorzetto  |  Pesquisa FAPESP – É no início da adolescência, uma fase de grandes transformações no corpo e na mente, que aumenta a frequência dos casos de depressão, marcada por uma sensação prolongada de tristeza, queda da autoestima e perda do prazer em realizar atividades antes agradáveis.

Estudos que acompanharam crianças e adolescentes nos Estados Unidos no final dos anos 1990 constataram que a proporção de casos novos que surgem a cada ano passa de 1% aos 11 anos de idade para 2% aos 15 anos e 15% aos 18 – em média, uma em cada seis pessoas terá um episódio de depressão ao longo da vida.

Agora, um grupo de pesquisadores brasileiros verificou que uma alteração no funcionamento da rede cerebral associada à recompensa parece anteceder em alguns anos a instalação do problema em adolescentes. Se confirmada em outros estudos, essa característica talvez possa servir como um sinalizador do risco de depressão.

Essa conclusão emerge de um estudo que acompanhou por ao menos três anos 529 crianças e adolescentes brasileiros (255 de São Paulo e 274 de Porto Alegre). Exames de imagens que permitem ver o cérebro em funcionamento mostraram que aqueles que apresentavam a rede cerebral da recompensa mais ativa e com seus pontos mais conectados entre si apresentavam um risco 54% maior de receber o diagnóstico de depressão na avaliação psiquiátrica feita três anos depois do teste inicial do que as crianças e os adolescentes em que esse circuito operava em níveis mais baixos e considerados adequados.

A rede da recompensa começou a ser mapeada no início dos anos 1950 em testes com roedores feitos pelo psicólogo norte-americano James Olds (1922-1976) e pelo neurofisiologista britânico Peter Milner (1919). Formada por diferentes regiões do cérebro sensíveis à ação da dopamina, um comunicador químico (neurotransmissor) que transporta informações de uma célula cerebral a outra, essa rede processa as sensações de prazer, como as geradas pelo consumo de alimentos saborosos, o contato com amigos, um elogio do chefe ou pela atividade sexual. Também modula a motivação, uma força interna que leva as pessoas a perseguir seus desejos e satisfazer suas necessidades.

No estudo com crianças e adolescentes de São Paulo e Porto Alegre, o psiquiatra Pedro Pan, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e o neurocientista e estatístico João Ricardo Sato, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), analisaram o grau de conectividade entre 11 pontos da rede de recompensa, enquanto os voluntários permaneciam deitados e em repouso no interior do aparelho de ressonância magnética.

Os voluntários haviam sido orientados a olhar para um ponto fixo e não se concentrarem em nenhum pensamento específico. Nessa situação, o cérebro se encontraria em seu estado mais fundamental – ainda assim, com várias redes cerebrais ativas – e permitiria identificar as características intrínsecas ao seu funcionamento.

Nos participantes com o circuito cerebral de recompensa mais conectado e ativo, uma área em especial chamou a atenção dos pesquisadores: o corpo estriado ventral esquerdo. Essa pequena estrutura localizada em uma região profunda e evolutivamente primitiva do cérebro encontrava-se mais ativa nas crianças que mais tarde desenvolveram depressão do que naquelas que não tiveram o problema.

Leia a notícia completa na edição de fevereiro da revista Pesquisa FAPESP: http://revistapesquisa.fapesp.br/2018/02/12/depressao-em-adolescente
 

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