Defesa invisível
21 de agosto de 2006

Pesquisadores brasileiros descrevem três associações desconhecidas entre peixes e camarões de dimensões similares. Em todos os casos, registrados na água doce, os animais se tornam transparentes para fugir dos predadores

Defesa invisível

Pesquisadores brasileiros descrevem três associações desconhecidas entre peixes e camarões de dimensões similares. Em todos os casos, registrados na água doce, os animais se tornam transparentes para fugir dos predadores

21 de agosto de 2006

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Algumas pesquisas feitas em ambientes marinhos já indicavam que camarões e peixes de dimensões semelhantes, normalmente pequenas, apresentavam algumas relações simbióticas (em que nenhuma das duas espécies sofre prejuízo). Agora, de acordo com um novo estudo, é possível dizer que eles também se protegem em conjunto dos predadores maiores.

Na pesquisa, feita para espécies de água doce, foram identificadas três associações voltadas para a proteção, duas na Amazônia e uma em um rio do litoral norte de São Paulo. Em todas o processo ocorre da mesma forma: as espécies de peixes e camarões mudam de cor e ficam transparentes para conseguir escapar dos predadores. Juntos, os indivíduos diferentes podem construir um sistema de defesa único ainda mais eficiente.

"O tamanho, a forma e a coloração similar dos peixes com os camarões certamente são fatores importantes para determinar essa relação", explicou Lucélia Nobre Carvalho, aluna de doutorado do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), à Agência FAPESP.

"A transparência é uma estratégia economicamente barata e eficiente contra predadores que se orientam visualmente", disse Lucélia, primeira autora de artigo sobre a pesquisa, publicada na revista Neotropical Ichthyology, da Sociedade Brasileira de Ictiologia.

Apesar de o mecanismo da união invisível ter sido descrito pela primeira vez na literatura científica, esses processos simbióticos não são únicos na natureza. "Mas, no ambiente dulcícola, existem poucos registros de interações complexas entre peixes e camarões. Esse baixo número de ocorrências, incluindo a associação observada agora, é conseqüência dos poucos estudos realizados em condições naturais, utilizando a técnica de mergulho como ferramenta dirigida para observações", explicou Lucélia.

Depois desses três relatos simbióticos, baseados na camuflagem e estudados, quando possível, por meio do mergulho, o caminho científico para que novos elos possam ser encontrados está aberto. "Um aumento das pesquisas utilizando observações subaquáticas possivelmente trará outras descobertas surpreendentes em sistemas de água doce", afirmou Lucélia.

O artigo The almost invisible league: crypsis and association between minute fishes and shrimps as a possible defence against visually hunting predators pode ser lido no endereço www.ufrgs.br/ni.


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