Para evitar as conseqüências nocivas do desmatamento e da erosão, João José Bigarella defende o aprofundamento da educação ambiental em todos os níveis
(foto: E. Geraque)

Defesa ambiental
19 de outubro de 2005

Aos 82 anos, João José Bigarella, com a experiência de ter desenvolvido pesquisas geológicas na América do Sul e na África, tem a solução para que as futuras gerações consigam sobreviver sobre a Terra

Defesa ambiental

Aos 82 anos, João José Bigarella, com a experiência de ter desenvolvido pesquisas geológicas na América do Sul e na África, tem a solução para que as futuras gerações consigam sobreviver sobre a Terra

19 de outubro de 2005

Para evitar as conseqüências nocivas do desmatamento e da erosão, João José Bigarella defende o aprofundamento da educação ambiental em todos os níveis
(foto: E. Geraque)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - A dispersão geológica da araucária pode ter tido um capítulo importante na Austrália em uma época que os continentes estavam mais próximos do que hoje. A teoria dos refúgios, tese que une a biologia e a geologia. As publicações geológicas e paleontológicas sobre várias partes do mundo e do Brasil, inclusive dezenas feitas no Paraná, onde nasceu. Tudo isso foi apresentado em Curitiba, por um cientista com muitas décadas de prática.

A conferência do catedrático João José Bigarella, realizada na semana passada durante o 56º Congresso Brasileiro de Botânica, pode ser considerada um exemplo claro de que pesquisa e cidadania precisam andar juntas. No caso do cientista nascido em Curitiba há 82 anos, e que se formou em engenharia química na graduação, mas depois se especializou em geologia econômica e mineralogia, essa união não é nova.

Em 1978, por exemplo, Bigarella – que tem mais de 200 trabalhos publicados, além da Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, obtida em 2000 – liderou um movimento contra o próprio Paraná. O motivo, segundo lembra, é que o governo estava sendo negligente com o Parque Estadual de Vila Velha. A pendenga jurídica se arrastou até 2002, quando o espaço foi realmente fechado pela Justiça. Desde abril de 2003, o parque voltou a receber visitantes.

"Isso aqui é uma foto de um sítio no interior do Paraná. A taxa de erosão é de 1 centímetro por ano nesse local", disse à platéia no congresso. Segundo ele, por causa do uso errado do solo, aliado ao desmatamento, muitos pequenos produtores estão sem alternativas. Na foto exibida em Curitiba existe uma árvore com a raiz totalmente exposta, por causa da perda do solo, no quintal de uma casa humilde.

Como existe tecnologia disponível para a conservação e para evitar a erosão nos dias de hoje – "estive na Malásia e lá há culturas de chá que respeitam bastante o ambiente", conta -, Bigarella não tem dúvida em afirmar qual é o único caminho para que as gerações futuras possam encontrar o planeta em condições pelo menos razoáveis: "Educação ambiental para todos. Isso é o que estamos precisando urgentemente".

Em outras fotos, agora da Serra do Mar, ainda no Paraná, e depois de ter falado como os continentes chegaram às posições atuais – a deriva continental é uma das grandes paixões do cientista –, Bigarella não perdeu a oportunidade de mostrar os estragos feitos pelo desmatamento das encostas nas últimas décadas. "A situação estava muito ruim. Foram feitas algumas pressões e melhorou um pouco, mas o desmatamento ainda está longe de ter terminado. Isso causa problemas terríveis", afirmou.

Uma das preocupações do geólogo, entre várias outras, é com o assoreamento do porto de Paranaguá. Com uma visão global dos continentes e dos processos evolutivos e geológicos que demoraram milhões de anos para ocorrer, Bigarella também consegue identificar, com precisão, as conseqüências que a ação do homem causa nos dias de hoje. Segundo ele, essa ação é igualmente impactante, apesar de a escala humana ser muito menos significativa do que a considerada pelos pesquisadores para explicar a migração dos continentes, ou até mesmo das araucárias.


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