Ademar Ushima, do IPT, destaca tecnologia de conversão de biomassa em etanol pelo processo de gaseificação, que permite o aproveitamento de toda a biomassa da cana (foto: M.A.Pereira)

De gás ao etanol
19 de julho de 2007

No Simtec, em Piracicaba (SP), Ademar Ushima, do IPT, destaca tecnologia de conversão de biomassa em etanol pelo processo de gaseificação, que permite o aproveitamento de toda a biomassa da cana

De gás ao etanol

No Simtec, em Piracicaba (SP), Ademar Ushima, do IPT, destaca tecnologia de conversão de biomassa em etanol pelo processo de gaseificação, que permite o aproveitamento de toda a biomassa da cana

19 de julho de 2007

Ademar Ushima, do IPT, destaca tecnologia de conversão de biomassa em etanol pelo processo de gaseificação, que permite o aproveitamento de toda a biomassa da cana (foto: M.A.Pereira)

 

Por Murilo Alves Pereira, de Piracicaba (SP)

Agência FAPESP – Mais investimentos da indústria de açúcar e álcool em inovação tecnológica para produzir biocombustíveis. É o que defende Ademar Hakuo Ushima, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT).

Segundo ele, os investimentos poderiam ser usados para aumentar o aproveitamento energético da cana-de-açúcar. "Hoje, utiliza-se apenas 17% do bagaço e quase toda a palha da cana é queimada ou deixada no campo. Mas há alternativas para que o aproveitamento do bagaço suba para 45%, e o da palha, para 50%", disse o pesquisador nesta quarta-feira (18/7), no 5º Simpósio Internacional e Mostra de Tecnologia da Agroindústria Sucroalcooleira (Simtec), em Piracicaba (SP).

Ushima estima que o uso desses dois resíduos aumentaria o aproveitamento energético dos atuais 21%, número médio de uma usina, para 50%. O investimento reduziria também o consumo do vapor d’água de 540 para 340 quilos por tonelada de cana. "O setor não investe na sua própria área de interesse e corre o risco de ser passado para trás diante de novas tecnologias", disse à Agência FAPESP.

Ushima apresentou pesquisas do IPT sobre a conversão de biomassa em etanol pelo processo de gaseificação. A tecnologia permite o aproveitamento de toda a biomassa da cana, por meio da conversão em gás e posterior liquefação do gás em etanol. "O rendimento é o dobro do processo por hidrólise enzimática, visto que não há distinção dos componentes celulares da planta. Tudo é aproveitado."

O processo envolve duas etapas. Na primeira, a biomassa passa pelo gaseificador, no qual cerca de 90% dela é convertida em um gás de síntese. Dependendo do tipo de catalisador utilizado, é possível gerar vários subprodutos, como biodiesel e biogasolina, na área de combustíveis, e a amônia, no setor químico.

O gás é então resfriado e passa por um processo de limpeza para retirar resíduos como metano e alcatrão. O gás restante, composto por hidrogênio e monóxido de carbono, é comprimido e transformado em etanol. O aproveitamento é de apenas 30%, mas o processo cíclico permite que o gás seja reaproveitado várias vezes até chegar próximo de 100%.

Em estudo iniciado em 1999, o IPT procurou reduzir a quantidade de resíduos gerados nas primeiras fases do processo. Naquela época a produção era de 10,7 gramas de metano por metro cúbico de gás e 14,6 g/m³ de alcatrão. Em 2005, utilizando um outro catalisador, esses valores foram reduzidos para, respectivamente, 5 g/m³ e 3,5 g/m³.


Investir para crescer

A tecnologia de gaseificação é antiga, tendo sido utilizada pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Mas, enquanto os alemães convertiam carvão mineral em combustível, o desafio atual é fazer o mesmo como a biomassa.

"Somos privilegiados por ter a matéria-prima na porta de casa", disse Ushima, referindo-se às plantações de cana-de-açúcar no estado de São Paulo, maior centro industrial e tecnológico do país.

Para Cristiano Borges, coordenador de novos projetos para biocombustíveis da Shell Brasil, a vantagem competitiva brasileira diante de outros países é muito grande. "Nos Estados Unidos, a produção do combustível é no Meio-Oeste e o maior consumo está muito distante, na Costa Oeste. E o custo de transporte é altíssimo", disse. O Brasil, por outro lado, conta com infra-estrutura de biocombustível instalada, devido ao pioneirismo do Programa Nacional do Álcool (ProÁlcool), criado em 1975.

Segundo Ademar Ushima, o setor sucroalcooleiro perde a chance de aproveitar essas vantagens e sair na frente, por não investir em melhorias das usinas e em inovação tecnológica. Os poucos recursos do setor privado seriam o principal entrave para o desenvolvimento de novas tecnologias.

O pesquisador do IPT aponta que o custo inicial de uma usina que produza etanol a partir do processo de gaseificação gira em torno dos US$ 100 milhões. "Ninguém tem esse dinheiro, nem quer correr esse risco", disse. O investimento inicial é o que mais encarece a produção de etanol por esse processo. Estima-se em US$ 500 o custo de produção da tonelada de etanol, bem acima dos US$ 300 gastos em outros processos.

"Mas esse valor pode ser reduzido à medida em que se aumente a produção da usina", afirmou. Descontando as isenções de impostos e a valorização crescente dos biocombustíveis no mercado internacional, Ushima estima que, em breve, o processo será economicamente viável. "Tecnologia já temos, só é preciso investir."


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