A confecção da renda del bilro (Foto: Joi Alves)

Cultura de base açoriana
09 de dezembro de 2003

Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina acaba de ganhar sua primeira sede. A estimativa é de que 1,3 milhão de pessoas que vivem atualmente no Estado sejam descendentes diretos dos primeiros 256 açorianos que chegaram em 1748

Cultura de base açoriana

Núcleo de Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina acaba de ganhar sua primeira sede. A estimativa é de que 1,3 milhão de pessoas que vivem atualmente no Estado sejam descendentes diretos dos primeiros 256 açorianos que chegaram em 1748

09 de dezembro de 2003

A confecção da renda del bilro (Foto: Joi Alves)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Levar o filho para benzer antes mesmo de ele ser examinado por um médico. Contar histórias sobre a lenda da mula sem-cabeça. Demonstrar forte religiosidade em dezenas de festas ao longo do ano, como na do Divino Espírito Santo.

A presença da cultura açoariana em solo catarinense é motivo de atenção dos cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desde 1992, quando surgiu o Núcleo de Estudos Açorianos (NEA), mas apenas este mês as pesquisas ganharam sede própria. Até então, o núcleo vinha funcionando em espaços improvisados na universidade.

O NEA tem realizado projetos de pesquisa que vão desde o estudo da engenharia ou da arquitetura açoriana até a investigação das várias formas de representação cultural das ilhas colonizadas por Portugal presentes no cotidiano catarinense.

Localizados em pleno Oceano Atlântico, entre a Europa e a América do Sul, os Açores são formados por nove ilhas, com superfície total de 2.333 km². A população é de cerca de 240 mil habitantes. Estão integrados a Portugal, que os descobriu em 1426, mas funcionam como região autônoma com governo próprio.

Os descendentes açorianos podem ser encontrados em vários estados brasileiros, além de Santa Catarina. Segundo os mapeamentos feitos pelo NEA, também estão presentes em grande número no Rio Grande do Sul e no Maranhão. Outros locais, como Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, também receberam moradores do arquipélago dos Açores ao longo da história do Brasil.

Os primeiros açorianos que desembarcaram na atual Florianópolis chegaram em 6 de janeiro de 1748. Eram 256 pessoas. Alguns anos depois da chegada dos primeiros imigrantes, a população atingiu 6,5 mil pessoas. "Daquele grupo é que saíram os 51 casais que foram fundar Porto Alegre", contou o historiador Joi Alves, coordenador geral do NEA, à Agência FAPESP.

A chegada dos açorianos ao Sul do país está relacionada com uma convocação feita pelo brigadeiro português José da Silva Paes, na época responsável pela defesa daquela parte do território brasileiro. No século 18, Espanha e Portugal, países que formaram um só império entre 1580 e 1640, ainda brigavam por terras na América do Sul. "O brigadeiro havia construído fortificações ao redor de Florianópolis, que era considerado um ponto estratégico na época, mas precisava de pessoas para ajudar na ocupação da região", disse Alves.

Segundo os números obtidos pelo NEA, apenas em Santa Catarina existem hoje 1,3 milhão de descendentes diretos dos primeiros açorianos que chegaram à região. "As famílias atuais fazem parte da sétima, oitava ou nona geração de açorianos brasileiros", disse Alves.

Logo que chegaram ao país, explica o historiador, os açorianos adotaram as técnicas comuns ao processamento do trigo e da cevada utilizadas nos engenhos de farinha europeus. "Eles fizeram uma importante revolução industrial por aqui", conta o coordenador do núcleo de estudos da UFSC.


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