Relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos aponta que decisões políticas e econômicas têm priorizado valores da natureza baseados no mercado, como a produção intensiva de alimentos. Diversos outros aspectos essenciais são desconsiderados, entre eles a regulação climática (foto: Ibama)
Relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos aponta que decisões políticas e econômicas têm priorizado valores da natureza baseados no mercado, como a produção intensiva de alimentos. Diversos outros aspectos essenciais são desconsiderados, entre eles a regulação climática
Relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos aponta que decisões políticas e econômicas têm priorizado valores da natureza baseados no mercado, como a produção intensiva de alimentos. Diversos outros aspectos essenciais são desconsiderados, entre eles a regulação climática
Relatório da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos aponta que decisões políticas e econômicas têm priorizado valores da natureza baseados no mercado, como a produção intensiva de alimentos. Diversos outros aspectos essenciais são desconsiderados, entre eles a regulação climática (foto: Ibama)
Elton Alisson | Agência FAPESP – A forma como a natureza é valorizada nas decisões políticas e econômicas é um fator-chave da crise global da biodiversidade e uma oportunidade vital para enfrentá-la, de acordo com uma avaliação metodológica de quatro anos feita por 82 cientistas e especialistas de todas as regiões do mundo.
Aprovado no sábado (09/07), em Bonn, na Alemanha, por representantes dos 139 Estados-membros da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) – incluindo o Brasil –, o relatório de avaliação sobre os diversos valores e valorização da natureza aponta que há um foco global dominante em lucro de curto prazo e crescimento econômico nas decisões políticas, muitas vezes desconsiderando outros múltiplos valores.
As decisões econômicas e políticas têm priorizado predominantemente valores da natureza particularmente baseados no mercado, como aqueles associados aos alimentos produzidos intensivamente, ignorando os muitos valores não comerciais, como a regulação climática e a identidade cultural, ponderam os autores.
“Com mais de 50 métodos e abordagens de avaliação, não faltam formas e ferramentas para tornar visíveis os valores da natureza”, disse o professor Unai Pascual, um dos coordenadores do trabalho.
Segundo os autores, apenas 2% dos mais de mil estudos revisados consultam as partes interessadas sobre os resultados da avaliação e apenas 1% dos trabalhos envolveu as partes interessadas em todas as etapas do processo de valorização da natureza.
“O que está em falta é o uso de métodos de avaliação para combater assimetrias de poder entre as partes interessadas e incorporar de forma transparente os diversos valores da natureza na formulação de políticas”, apontou Pascual.
O relatório foi elaborado com base em uma ampla revisão realizada por especialistas em ciências sociais, economia e humanidades, e fundamentado em mais de 13 mil referências – incluindo artigos científicos e fontes de informação de conhecimento indígena e tradicional. Também se baseou diretamente na Avaliação Global da IPBES de 2019, que identificou o papel do crescimento econômico como um dos principais impulsionadores da perda da natureza, com 1 milhão de espécies de plantas e animais agora em risco de extinção (leia mais em agencia.fapesp.br/30430/).
Um dos autores é a brasileira Simone Athayde, professora da Universidade Internacional da Flórida, nos Estados Unidos.
Aumento dos estudos
O relatório aponta que o número de estudos sobre valorização da natureza aumentou em média mais de 10% ao ano nas últimas quatro décadas. O foco mais proeminente dos estudos de avaliação recentes (2010-2020) tem sido a melhoria da condição da natureza (65% dos estudos de avaliação revisados) e a melhoria da qualidade de vida das pessoas (31%), com apenas 4% focados em melhorar as questões relacionadas à justiça social. Cerca de 74% dos estudos de avaliação focaram em valores instrumentais, com 20% focados em valores intrínsecos e apenas 6% focados em valores relacionais.
“A avaliação fornece aos tomadores de decisão ferramentas e métodos concretos para entender melhor os valores que indivíduos e comunidades atribuem à natureza”, disse Patricia Balvanera, uma das coordenadoras do relatório. “Também disponibiliza diretrizes sobre como melhorar a qualidade da avaliação, levando em consideração a relevância, a robustez e os requisitos de recursos de diferentes métodos de avaliação”, afirmou.
Uma das conclusões dos autores é que há uma série de valores profundamente arraigados que podem ser alinhados com a sustentabilidade, enfatizando princípios como unidade, responsabilidade, administração e justiça, tanto para com outras pessoas quanto para com a natureza.
“Mudar a tomada de decisões para os múltiplos valores da natureza é uma parte realmente importante da mudança transformadora em todo o sistema e necessária para lidar com a atual crise global de biodiversidade”, disse Balvanera. “Isso implica redefinir ‘desenvolvimento’ e ‘boa qualidade de vida’ e reconhecer as múltiplas maneiras pelas quais as pessoas se relacionam umas com as outras e com o mundo natural”, avaliou.
Os autores identificam quatro “pontos de alavancagem” centrados em valores que podem ajudar a criar as condições para a mudança transformadora necessária para futuros mais sustentáveis e justos: reconhecer os diversos valores da natureza; incorporar a avaliação na tomada de decisão; realizar reformar políticas e regulamentos para internalizar os valores da natureza; e mudar as normas e metas sociais subjacentes para se alinhar com os objetivos globais de sustentabilidade e justiça.
“A biodiversidade está sendo perdida e as contribuições da natureza para as pessoas estão sendo degradadas mais rapidamente agora do que em qualquer outro momento da história humana”, disse Ana María Hernández Salgar, presidente da IPBES. “Isso ocorre em grande parte porque nossa abordagem atual às decisões políticas e econômicas não leva em conta suficientemente a diversidade dos valores da natureza”, avaliou.
A dirigente sublinhou que o relatório está sendo lançado em um momento bastante oportuno, pouco antes do acordo esperado ainda este ano pela Convenção das Partes sobre a Diversidade Biológica (CDB) sobre uma nova estrutura global de biodiversidade para a próxima década.
O sumário para formuladores de políticas do relatório está disponível em: https://zenodo.org/record/6813144#.YswiQnbMLIU.
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