Reprodução de obra de Jean Baptiste Debret
Com base em estudos realizados em comunidades indígenas, Liana Trindade, antropóloga da Universidade de São Paulo, mostra a importância da crença do paciente em seu médico e nos procedimentos terapêuticos
Com base em estudos realizados em comunidades indígenas, Liana Trindade, antropóloga da Universidade de São Paulo, mostra a importância da crença do paciente em seu médico e nos procedimentos terapêuticos
Reprodução de obra de Jean Baptiste Debret
Agência FAPESP - A cena é recorrente em tribos guaranis. Primeiro, determinados integrantes da aldeia começam a perder peso e ficam mais fracos. Em seguida, passam a sentir um certo vazio e a vida parece perder sentido. A doença, chamada de "susto" ou "espanto" entre os índios, pode ser comparada à depressão que surge nas sociedades modernas.
O ritual de cura, feito pelo xamã, consiste em uma evocação aos espíritos. A crença é que a doença tenha surgido porque algum espírito da natureza roubara a alma do indivíduo acometido. O processo dura 12 horas. Além de danças e cânticos, durante todo o tempo o vapor do tabaco que sai do cachimbo do xamã é inalado pelo paciente.
"O cachimbo é o que na antropologia se chama de símbolo-chave", disse Liana Trindade, professora associada em Antropologia da Universidade de São Paulo, atualmente aposentada, durante conferência no primeiro Simpósio Internacional sobre o Uso de Plantas Medicinais em Psiquiatria, nesta quinta-feira (27/11), em São Paulo.
Para a pesquisadora, a cura geralmente subjetiva que ocorre não é por causa do tabaco, mas relacionado ao processo ritualístico associado à inalação do vapor da planta. "Tudo se faz entre o rito e o mito", disse. Durante o ritual, segundo Liana, é comum que os índios sofram com alucinações. "Eles dizem ter visões de espíritos que vagam."
As ligações entre os processos bioquímicos, psíquicos e socioculturais não podem ser desprezadas, na visão da cientista social. O fato de a emoção estar presente no ritual feito pelo xamã, associada à liberação de adrenalina, acaba causando um impacto no sistema nervoso do paciente, tanto no central como no periférico.
"O mesmo processo lógico serve para as chamadas tribos urbanas. A crença no médico, no diagnóstico e no tratamento são fundamentais para que o quadro evolua e a cura fique mais próxima", acredita Liana.
A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.