Edgar Zanotto, coordenador de um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão apoiado pela FAPESP e sediado na UFSCar, será o primeiro sul-americano a ministrar uma das principais palestras na área de ciência de vidro (imagem: divulgação)

Coordenador do CeRTEV é convidado para a Scholes Lecture
29 de março de 2019

Edgar Zanotto, coordenador de um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão apoiado pela FAPESP e sediado na UFSCar, será o primeiro sul-americano a ministrar uma das principais palestras na área de ciência de vidro

Coordenador do CeRTEV é convidado para a Scholes Lecture

Edgar Zanotto, coordenador de um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão apoiado pela FAPESP e sediado na UFSCar, será o primeiro sul-americano a ministrar uma das principais palestras na área de ciência de vidro

29 de março de 2019

Edgar Zanotto, coordenador de um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão apoiado pela FAPESP e sediado na UFSCar, será o primeiro sul-americano a ministrar uma das principais palestras na área de ciência de vidro (imagem: divulgação)

 

Karina Toledo  |  Agência FAPESP – O que Peter Schultz, um dos criadores da fibra óptica, Larry Hench, inventor do biovidro, e Donald Stookey, desenvolvedor dos primeiros materiais vitrocerâmicos, têm em comum?

Além do fato de serem norte-americanos e de terem se destacado em pesquisas com vidros, os três foram palestrantes da Samuel R. Scholes Award Lecture, promovida anualmente pela Alfred University desde 1982. No dia 4 de abril, um brasileiro integrará esse rol de homenageados. Trata-se de Edgar Dutra Zanotto, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). 

“Considero o convite para ministrar essa palestra um prêmio. Um reconhecimento pelo conjunto de pesquisas realizadas na área de vidros”, explicou o coordenador do Laboratório de Materiais Vítreos (LaMaV) e do Centro de Pesquisa, Educação e Inovação em Vidros (CeRTEV) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) financiados pela FAPESP.

Zanotto vai ministrar a palestra intitulada Glass myths and marvels (Mitos e maravilhas do vidro) para os estudantes e professores dos cursos de Engenharia da Alfred University, em Nova York, e para outros convidados ilustres da área de materiais vítreos. 

O Colégio Estadual de Cerâmica de Nova York, da Alfred University, abrigou entre 1960 e 2000 o maior grupo de pesquisadores do mundo na área de vidros. Embora tenha começado a perder professores após esse período – consequência do surgimento de novos materiais, como o grafeno, e de novos polos de pesquisa –, ainda é um dos maiores e mais tradicionais na área.

A série de palestras teve início em 1982 para homenagear Samuel R. Scholes (1884-1971), criador do primeiro programa de ciência de vidros dos Estados Unidos, em 1932, e professor da Alfred University por mais de 40 anos. Até o momento, o rol de palestrantes conta com apenas três cientistas não norte-americanos: o inglês Adrian Wright (Reading University), o alemão Helmut Schaeffer (na época, 2001, presidente da Comissão Internacional de Vidros) e o russo Evgenii Porai-Koshits (Academia Russa de Ciências).

Mitos e maravilhas 

“Começarei com a pergunta: vidros são sólidos ou líquidos? E abordarei o mito relacionado aos vitrais de catedrais medievais, supostamente mais espessos na parte de baixo porque teriam escorrido com o passar dos anos”, comentou Zanotto.

“Aproveitarei, em seguida, para introduzir a nova definição que publicamos em 2017, segundo a qual o vidro é, na verdade, um transgênero. Um estado híbrido da matéria – com características de sólido e também de líquido”, contou Zanotto.

Segundo o trabalho divulgado no Journal of Non-Crystalline Solids (JNCS), o vidro não seria um sólido e sim um estado fora do equilíbrio termodinâmico (estado em que os equilíbrios térmico, químico e mecânico ocorrem simultaneamente) e não cristalino da matéria, que parece sólido em uma curta escala de tempo, mas que relaxa continuamente em direção ao estado líquido (leia mais em: http://agencia.fapesp.br/26039/).

“Os vidros, portanto, de fato escorrem. Mas os últimos mil anos não foram suficientes para que ficassem mais grossos na parte debaixo. À temperatura ambiente isso levaria um tempo absurdo, equivalente à idade do Universo. A verdade é que os vidros medievais eram feitos manualmente e são irregulares”, explicou.

Desfeito o primeiro mito, Zanotto pretende abordar o “milagre” das imagens nas janelas, como a da “santa” que apareceu em Ferraz de Vasconcelos, Região Metropolitana de São Paulo, e atraiu uma comissão do Vaticano para o local (leia mais em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2002/09/01/a-santa-das-vidracas-mais-um-mito-do-vidro/).

“Vidros de janela têm uma boa durabilidade química, mas não é perfeita. Aquele usado na janela de Ferraz de Vasconcelos foi comprado em um ferro-velho e armazenado na chuva. Um filme de líquido residual entre duas placas de vidro pode causar um ataque químico superficial e, quando este atinge a espessura de 400 a 700 nanômetros – o comprimento de onda da luz visível –, forma padrões de interferência óptica que causam esse efeito furta-cor e, neste caso, lembram a imagem de uma santa, um animal ou até de um dedão”, disse.

Por último, Zanotto vai mostrar que é possível quebrar um vidro no grito, com vídeos de cantores capazes de realizar a façanha. Por outro lado, mostrará que alguns exemplos famosos não passavam de marketing, como o do tenor Enrico Caruso.

“Fico extremamente honrado de estar entre nomes tão importantes. Será uma ótima oportunidade para me reunir com colegas da área, descobrir o que estão fazendo e também mostrar nosso trabalho. Considero esse convite como uma demonstração do impacto e do reconhecimento internacional do nosso CEPID”, afirmou Zanotto.
 

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