Segundo Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, não basta insistir para que o governo federal fortaleça o apoio a CT&I sem que haja reforço das ações nos Estados (foto: Phelipe Janning/Agência FAPESP)

Fomento à pesquisa
Cooperação regional é indispensável para fortalecimento do sistema nacional de ciência e tecnologia
04 de julho de 2025

Avaliação foi feita por participantes do 68º Fórum do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa; dirigentes ressaltaram a importância de articulação entre diferentes atores para aumentar impacto da ciência brasileira

Fomento à pesquisa
Cooperação regional é indispensável para fortalecimento do sistema nacional de ciência e tecnologia

Avaliação foi feita por participantes do 68º Fórum do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa; dirigentes ressaltaram a importância de articulação entre diferentes atores para aumentar impacto da ciência brasileira

04 de julho de 2025

Segundo Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, não basta insistir para que o governo federal fortaleça o apoio a CT&I sem que haja reforço das ações nos Estados (foto: Phelipe Janning/Agência FAPESP)

 

André Julião | Agência FAPESP – O fortalecimento das agendas estaduais e regionais de pesquisa é essencial para o desenvolvimento científico e tecnológico do país, com participação da comunidade acadêmica e das empresas locais e recursos federais combinados aos dos Estados. Com essas palavras, o presidente da FAPESP, Marco Antonio Zago, abriu o 68º Fórum do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), em cerimônia realizada ontem (03/07).

“Faço um forte apelo à revisão do nosso modelo nacional de desenvolvimento científico para que, ao mesmo tempo, garanta perenidade e traga a agenda da ciência, tecnologia e inovação para os panoramas nacional, regional, estadual e municipal, contribuindo para reduzir a nossa imensa heterogeneidade”, afirmou.

Segundo Zago, não basta insistir para que o governo federal fortaleça o apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico sem que haja o fortalecimento das mesmas ações nos Estados. “Se a linha de ação federal é importante para dar uma certa unidade nacional, a centralização em Brasília não tem perspectiva de promover soluções permanentes em um país imenso e diversificado como o Brasil. Está na hora de fortalecer os sistemas regionais. Ou seja, os Estados e grupos de Estados têm de atuar em conjunto para resolver os problemas”, disse, ressaltando que ainda assim deve haver amplo espaço para fortalecer as relações entre as Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs) e o sistema federal de ciência e tecnologia.

Para Marcio de Araújo Pereira, presidente do Confap, as FAPs têm alcance e conhecimento das realidades locais. “Nós podemos chegar aos municípios, a lugares que o governo federal pode chegar junto conosco. Essa articulação é que faz o nosso sistema crescer regionalmente também. Um olhar regional, para as pessoas que estão vivendo nessas áreas”, disse.

Denise Pires de Carvalho, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (Capes), lembrou que um fator importante do sistema nacional de ciência e tecnologia são os programas de pós-graduação.

“A pós-graduação tem 60 anos no Brasil e muito a ser feito. O número de cursos aumentou ao longo desse tempo, embora tenha tido uma desaceleração nos últimos anos. Mas houve aumento paralelo entre produção científica nacional e aumento do número de mestres e doutores”, explanou.

Segundo a dirigente, é preciso trabalhar para que haja aumento no número de programas e de mestres e doutores em todas as regiões do país, sem que haja diminuição no Sul e Sudeste, que concentram a maior parte dos programas.

“Não há um número de doutores adequado em nenhum dos Estados quando comparado com a média dos países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], que têm a maior renda per capita do mundo. Enquanto a média desses países é de 22 doutores para cada 100 mil habitantes, a nossa é de 11 por 100 mil. Não há país que não tenha se desenvolvido sem doutores”, afirmou.

Um importante mecanismo para a produção científica nos Estados são os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), programa lançado durante a presidência de Marco Antonio Zago no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entre 2007 e 2010.

Atual presidente do CNPq, Ricardo Galvão ressaltou o importante papel que tiveram as FAPs em aderir ao programa, que teve os resultados da última chamada anunciada no final de junho, assim como o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Foram cinco novas FAPs, se somando a outras que já participavam, como a FAPESP, Faperj, Fapemig e Fapes. Além disso, o Ministério da Saúde e a Capes aportaram recursos. Com isso, 143 projetos foram aprovados, ampliando em cerca de 20% a quantidade de propostas contempladas nos resultados preliminares. O acréscimo de recursos foi de R$ 135,6 milhões em relação ao investimento inicialmente previsto, totalizando R$ 1,63 bilhão, a maior chamada de INCTs já realizada no país.

“Olhando as demandas, é de ficar com lágrimas nos olhos de não ter mais dinheiro para atender a todos, porque os projetos foram de altíssima qualidade. Ficamos muito agradecidos a todas as FAPs que aderiram e puderam aumentar o número de contemplados”, afirmou Galvão.

O secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo, Vahan Agopyan, lembrou que a comunidade científica deve estar sempre atenta, pois os riscos para o financiamento são contínuos e é preciso sensibilizar os gestores públicos sobre a importância da autonomia e da independência dos organismos de pesquisa para o próprio desenvolvimento dos Estados.

Compuseram ainda a mesa Luiz Antonio Elias, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep); Julio César Castelo Branco Reis Moreira, presidente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI); e Juana Nunes, coordenadora-geral de popularização da ciência e tecnologia, representando a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos.

Inovação e prêmio

Carlos Américo Pacheco, presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da FAPESP, apresentou o futuro hub de inovação focado em tecnologias digitais e inteligência artificial para aplicações em governo. O plano é instalá-lo no novo centro administrativo do Estado, a ser construído no bairro Campos Elíseos, reunindo 24 secretarias estaduais.

“O novo centro administrativo cria uma oportunidade para a FAPESP ao unir as secretarias, que serão os ‘clientes’ dessa iniciativa”, avaliou Pacheco. A Fundação prevê inicialmente um investimento de R$ 650 milhões para apoio a pesquisas em inteligência artificial em temas que serão abordados no hub.

Marcio de Castro Silva Filho, diretor científico da FAPESP, apresentou novos editais e programas como o de Biotérios e Biossegurança, Futuros Cientistas, Sistemas Alimentares Saudáveis, Acervos e Documentação Histórica e Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCDs).

Na ocasião, foi realizada ainda a cerimônia de entrega do Prêmio Confap de Boas Práticas em Fomento à CT&I e do Prêmio Confap de Ciência, Tecnologia & Inovação – Professor Ennio Candotti.

Equidade na pesquisa

Nesta terça-feira (01/07), a FAPESP sediou o workshop “Fortalecendo Parcerias Equitativas de Longo Prazo para Ampliar Cooperações Internacionais”, realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pelo Confap no âmbito do 68º Fórum Nacional.

“Este é o primeiro de três workshops, ao longo do ano, que darão origem a um relatório sobre como as agências de fomento podem se movimentar na direção de conseguir, com os parceiros internacionais, garantir mais equidade não apenas de gênero como de justa coautoria, coleta de dados, armazenamento, competitividade e inclusão das diferentes regiões”, contou à Agência FAPESP Maria Zaira Turchi, diretora de Cooperação Internacional do Confap.

“O objetivo é aumentar a participação do pesquisador brasileiro no desenvolvimento da ciência. A ciência hoje se desenvolve em rede, de forma global, por meio de parcerias equitativas. E a nossa discussão aqui é como apoiar o pesquisador para que ele faça as conexões necessárias com os potenciais beneficiários da pesquisa, sejam de governo, sejam do setor privado”, disse Goret Paulo, diretora de Pesquisa e Inovação da FGV.

O workshop contou com a presença de Marcio de Araújo Pereira, presidente do Confap; Helena Nader, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC); Connie McManus, gerente de Colaborações em Pesquisa da FAPESP; Rui Oppermann, diretor de Relações Internacionais da Capes; Philip Lewis, chefe de Estratégia Global, Política e Engajamento da British Academy; e Konrad Mould, gerente de parcerias internacionais do United Kingdom Research and Innovation (UKRI), que participaram on-line. A primeira parte do workshop está disponível on-line.

Na sessão sobre o papel dos escritórios de apoio à pesquisa nas parcerias equitativas, também disponível on-line, além de Goret Paulo, participaram Tamara Marques, coordenadora de parcerias internacionais da FGV; Raquel Martins Salviati, presidente da Associação Brasileira de Gestores de Pesquisa (Brama); Rodrigo Costa, analista de cooperação internacional da Finep e Diana Daste, diretora de Engajamento Cultural do British Council no Brasil.

A cobertura completa do 68º Fórum Nacional do Confap pode ser conferida em: https://news.confap.org.br/68o-forum-nacional-confap-sao-paulo-sp-2025/.
 

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