Comunidade de Vila Mota, no Paraná, ainda convive com o chumbo. A mineração não existe mais lá desde 1996
( foto:divulgação)

Convívio com o chumbo
02 de dezembro de 2005

Mesmo com o fim da mineração há quase dez anos, o problema da contaminação continua presente no Vale do Ribeira. Novo estudo mostra que dezenas de famílias estão expostas ao metal

Convívio com o chumbo

Mesmo com o fim da mineração há quase dez anos, o problema da contaminação continua presente no Vale do Ribeira. Novo estudo mostra que dezenas de famílias estão expostas ao metal

02 de dezembro de 2005

Comunidade de Vila Mota, no Paraná, ainda convive com o chumbo. A mineração não existe mais lá desde 1996
( foto:divulgação)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - A situação não é catastrófica, mas preocupa quem conhece o problema. Um dos resultados do projeto Paisagens geoquímicas e ambientais do Vale do Ribeira, coordenado pelo geólogo Bernardino Ribeiro de Figueiredo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), revela que pelo menos duas comunidades, num total de cem famílias, convivem perigosamente com o chumbo, metal altamente tóxico.

"Das famílias estudadas, 60% apresentaram concentrações maiores de 10 microgramas de chumbo por decilitro da sangue, ou seja, acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde", disse Figueiredo à Agência FAPESP. "Outros 13% apresentaram concentração superior a 20 mg/dl", conta o pesquisador que coordenou, nesta quinta-feira (1/12), um workshop na sede da FAPESP para apresentar os resultados do projeto.

"O chumbo encontrado no solo das comunidades de Vila da Mota e Capelinha, na zona rural da cidade de Adrianópolis, no Paraná, está em alta quantidade por causa da mineração que existiu na região por 50 anos até 1996", explica Figueiredo – o Vale do Ribeira compreende partes dos Estados de São Paulo e Paraná.

Segundo Figueiredo, a fábrica Plumbum jogou fumaça carregada com o metal em uma área de até 1,5 quilômetro ao redor da indústria mantida na região. A contaminação das pessoas que vivem naquela zona é a prova mais clara de que medidas de contenção de risco precisam ser tomadas.

As análises feitas pela equipe do projeto mostraram que ovos, verduras e legumes consumidos pelas duas comunidades continham alta concentração de chumbo em índices acima do tolerável. "Isso ocorre porque as hortas estão sendo feitas em áreas contaminadas", explica o pesquisador.

Para Figueiredo, além da pavimentação das ruas e das lavagens das casas, medidas que diminuem o contato com o pó contaminado, as hortas feitas pela população não poderiam mais ser feitas com solo rico em chumbo. "O maior risco é sempre para as crianças, principalmente aquelas que costumam brincar na rua e ingerir a poeira", disse.

O passivo ambiental deixado pela indústria mineradora também precisa ser mais bem cuidado, na opinião do pesquisador. "Hoje, as ruínas da fábrica e as pilhas de descartes deixadas no local estão totalmente acessíveis", reclama Figueiredo.

Ele lembra que, apesar de não existir um estudo do efeito do chumbo sobre aquela população, as causas do excesso desse tipo de metal no sangue são bem conhecidas. "O chumbo pode causar anemia, disfunção em alguns órgãos e até um certo grau de retardamento no caso das crianças", conta.

Além da Unicamp, participaram do projeto pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz, do Serviço Geológico do Brasil e da Universidade Estadual de Londrina.


Química ambiental

A triste realidade de alguns dos moradores do Vale do Ribeira não é a única informação científica revelada pelo projeto Paisagens Geoquímicas e Ambientais do Vale do Ribeira. Também nesta quinta-feira duas publicações foram apresentadas.

Depois de 187 amostragens em uma área de 28 mil quilômetros quadrados com menos de 500 mil habitantes, os pesquisadores envolvidos no projeto redigiram dois documentos: o Atlas geoquímico do Vale do Ribeira e o Atlas geoambiental: subsídios ao planejamento territorial e à gestão ambiental da bacia hidrográfica do rio Ribeira de Iguape, que deverão ajudar a preencher diversas lacunas no conhecimento sobre a região.

A primeira obra apresenta 35 mapas geoquímicos. Em cada um deles é possível saber a distribuição, em termos de intervalo de valores, da água e de diversos outros elementos químicos. Nesse caso, existem figuras que mostram o pH, a condutividade e o oxigênio dissolvido.

"No Atlas geoambiental estão apresentados 11 subdomínios, com características de relevo, geológicas, de solo e de meio ambiente em geral. Queremos que esse trabalho chegue às prefeituras e aos responsáveis pelos planejamentos territoriais da região", explica Bernardino Figueiredo, coordenador das duas publicações.


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