Para Roque Monteleone, da Unifesp, existem hoje condições para que o tratado de não-proliferação de armas biológicas seja ao menos discutido novamente (foto: E. Geraque)

Controle do conhecimento
21 de julho de 2004

Episódios como os ataques ao WTC e as cartas com antraz, nos EUA, além da invasão do Iraque, podem reativar a discussão sobre a não proliferação de armas biológicas, segundo especialistas como Roque Monteleone, da Unifesp, presentes na SBPC

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Episódios como os ataques ao WTC e as cartas com antraz, nos EUA, além da invasão do Iraque, podem reativar a discussão sobre a não proliferação de armas biológicas, segundo especialistas como Roque Monteleone, da Unifesp, presentes na SBPC

21 de julho de 2004

Para Roque Monteleone, da Unifesp, existem hoje condições para que o tratado de não-proliferação de armas biológicas seja ao menos discutido novamente (foto: E. Geraque)

 

Por Eduardo Geraque, de Cuiabá

Agência FAPESP - De um lado o desenvolvimento científico e tecnológico. De outro, a vontade política de se fazer guerra e usar essas inovações para destruir pessoas de forma indiscriminada, sejam elas civis ou militares.

A conseqüência imediata desse processo é que mesmo os países que precisam se desenvolver tecnologicamente, mas que não querem fazer guerra, como é o caso do Brasil, vão ser cerceados do ponto de vista científico. Por causa disso, cresce a importância do direito internacional nesse tempo de desconfianças múltiplas pelo mundo.

"Não sou contra os mecanismos internacionais, mas eles devem servir para todos os países, sem nenhum tipo de assimetria ou constrangimento", disse Roque Monteleone, professor adjunto da Universidade Federal de São Paulo, à Agência FAPESP. A frase foi uma referência clara aos Estados Unidos.

Segundo o pesquisador, que tem anos de experiência no setor de armas de destruição de massa, inclusive como colaborador da Organização das Nações Unidas, o mundo mudou muito nesses últimos dois anos. Para ele, existem agora condições de que, por exemplo, o tratado de não-proliferação de armas biológicas seja ao menos discutido novamente.

Em 2001, lembra Monteleone, os Estados Unidos deixaram de assinar na última hora o tratado. O texto, além de coibir a difusão de armas biológicas, também previa inspeções em todos os países membros, desde que ocorresse algum fato novo.

"O representante norte-americano ficou dez anos discutindo esse tema para, na última reunião, dizer que não concordava com ele?", questiona o cientista brasileiro. Coincidência ou não, isso ocorreu no mesmo período que os Estados Unidos disseram não ao Protocolo de Kyoto.

"Até hoje, por exemplo, ninguém sabe o que ocorreu direito em 2001, nos Estados Unidos, no caso das cartas com antraz. Eles precisariam se autoinvestigar e mostrar ao mundo quem realmente fez aquilo", disse o pesquisador da Unifesp, que participou do debate "Cerceamento à Ciência e Segurança Internacional", na terça-feira (20/7), em Cuiabá, durante a 56ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

Fatos que se somam aos casos de antraz nos Estados Unidos, como a invasão unilateral do Iraque, por exemplo, são, na visão de Monteleone, argumentos mais do que suficientes para que a assinatura do tratado de não-proliferação de armas biológicas possa ocorrer em breve.

"Está mais do que claro que essas discussões precisam passar por organismos internacionais como a ONU. Esses mecanismos de segurança internacionais vão ter que ser cada vez mais baseados na negociação", afirmou.


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