Ciechanover, Hershko e Rose dividem o Nobel de Química de 2004, pela descoberta do mecanismo celular responsável por destruir proteínas indesejáveis ao corpo humano (foto: divulgação)

Controle de qualidade protéico leva Nobel
07 de outubro de 2004

Aaron Ciechanover e Avram Hershko, de Israel, e Rrwin Rose, dos EUA, dividem o Nobel de Química de 2004, pela descoberta do mecanismo celular responsável por destruir proteínas indesejáveis ao corpo humano

Controle de qualidade protéico leva Nobel

Aaron Ciechanover e Avram Hershko, de Israel, e Rrwin Rose, dos EUA, dividem o Nobel de Química de 2004, pela descoberta do mecanismo celular responsável por destruir proteínas indesejáveis ao corpo humano

07 de outubro de 2004

Ciechanover, Hershko e Rose dividem o Nobel de Química de 2004, pela descoberta do mecanismo celular responsável por destruir proteínas indesejáveis ao corpo humano (foto: divulgação)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Um engenhoso processo celular de controle de qualidade está funcionando este momento em todos os organismos humanos. Ele é tão importante que, quando ele falha, doenças como a leucemia e a fibrose cística podem aparecer. Três cientistas acabam de ganhar o Prêmio Nobel de Química de 2004 exatamente por terem descoberto e decifrado, ainda na década de 1980, como esse sistema destrói proteínas indesejáveis ao corpo.

"Algumas proteínas se estragam. Descobrimos o processo que mostra como o corpo exerce o controle de qualidade", disse o pesquisador Aeron Ciechanover, um dos ganhadores, à Reuters.O cientista israelense dividirá o prêmio equivalente a R$ 3,8 milhões com o seu compatriota Avram Hershko e com Irwin Rose, dos Estados Unidos. Os dois primeiros trabalham na empresa Technion, em Haifa, Israel, e o pesquisador norte-americano é da Universidade da Califórnia.

Dentro da estrutura dinâmica formada pelo corpo humano, onde proteínas estão sendo sintetizadas e destruídas a todo momento, os pesquisadores conseguiram identificar a existência de um polipeptídeo, que recebeu o nome de ubiquitina e é a chave de tudo.

Essa estrutura química funciona com uma espécie de etiqueta para a destruição celular. As outras enzimas que participam do processo, quando detectam a ubiquitina ligada a algum composto, sabem que esse parceiro molecular deve ser eliminado. O processo de destruição, feito após a saída da ubiquitina do processo, ocorre em estruturas chamadas de proteossomos, que funcionam como uma miniusina de processamento do lixo celular.

"Esse é o conto da Cinderela", disse o professor Marcelo Damário Gomes, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, à Agência FAPESP. "No começo ninguém dava importância para a ubiquitina. Diziam que ela apenas servia para marcar proteínas defeituosas, ou seja, limpar o lixo da casa."

Segundo Gomes, que fez pós-doutorado na Harvard Medical School com Alfred Goldberg, um dos grandes especialistas do mundo no tema, "a gata borralheira começou a virar princesa quando os pesquisadores que estudavam o ciclo celular descobriram o papel da ubiquitinação na multiplicação celular".

O fato de ser decifrado porque o maquinário celular humano destrói certas proteínas e não outras abriu uma série de possibilidades científicas. Desde os anos 80, por causa da descoberta que agora ganhou o Nobel, vários tipos de remédios passaram a ser desenvolvidos.

"Está sendo muito destacado nos Estados Unidos o uso do inibidor de uma via proteolítica relacionada com a atrofia muscular, que acaba de ser aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration) para o tratamento de alguns tipo de cânceres", disse o cientista brasileiro.

Quando esteve nos Estados Unidos, Gomes ajudou na descoberta de um novo tipo de ubiquitina. "Pela primeira vez se encontrou um produto de gene que é requerido pela atrofia muscular", explica o pesquisador brasileiro, que continua nesse linha de estudo em Ribeirão Preto.

O ciclo de destruição protéica, mediado pela ubiquitina, está relacionado com vários processos celulares. "Entre eles estão a regulação do ciclo celular, resposta celular ao estresse, reparo de DNA e regulação da resposta imune", explica Gomes. A ubiquitina, como dizem os cientistas que agora entram para a história do Nobel, é a principal responsável pelo "beijo da morte" celular.


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