Conhecimento na era pós-Cassini
17 de janeiro de 2005

Próximos quatro anos serão de muito trabalho para os pesquisadores que estudam o planeta Saturno. Para Silvia Giuliatti, da Unesp, um novo divisor de águas está configurado: "A partir de agora será o que sabíamos antes e depois da Cassini"

Conhecimento na era pós-Cassini

Próximos quatro anos serão de muito trabalho para os pesquisadores que estudam o planeta Saturno. Para Silvia Giuliatti, da Unesp, um novo divisor de águas está configurado: "A partir de agora será o que sabíamos antes e depois da Cassini"

17 de janeiro de 2005

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Na sexta-feira (14/1), a sonda Huygens, que havia sido lançada em 1997 junto com a nave Cassini, pousou em Titã, a maior das luas de Saturno. Mas não é apenas isso. O sistema de envio de informações para a Terra, ao que tudo indica, também está funcionando como o planejado.

O feito, que entra para a história das grandes missões espaciais, tem um peso grande. O salto no conhecimento sobre o planeta Saturno, suas luas e anéis, durante os próximos quatro anos – tempo em que a sonda continuará a enviar dados aos cientistas – será enorme.

"Não tenho dúvidas que será um divisor de águas. A partir de agora, será o que sabíamos antes e depois da (nave) Cassini", disse à Agência FAPESP Sílvia Giuliatti, professora do Departamento de Matemática da Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Guaratinguetá.

A pesquisadora, que estuda os anéis de Saturno – mais especificamente o anel F – teve uma grande notícia no ano passado, já na aproximação da nave a Saturno. "Um modelo matemático que publiquei em 2000 (o artigo saiu na revista Planetary and Space Science) foi confirmado agora pelas imagens enviadas pela Cassini", conta.

Sílvia, ao lado de Carl Murray, da Universidade de Londres – que descobriu duas novas luas em Saturno em 2004, também com as novas imagens feitas pela Cassini –, havia sido a primeira a identificar que o satélite Prometeu exercia uma influência sobre o anel F de Saturno.

"Os dados que foram obtidos antes pela Voyager, a maioria deles, não estavam em uma seqüência. Tínhamos que descobrir o que ocorreria depois. Foi isso que o meu modelo proporcionou: prever o que Prometeu faria ao anel F em uma dada situação, que não foi possível observar durante a passagem das sondas Voyager".

A Voyager 1 passou por Saturno em novembro de 1980 e a Voyager 2 em agosto do ano seguinte. A Cassini deu a pista que faltava. O satélite Prometeu realmente está próximo ao anel F e está exercendo uma influência sobre ele.

"Temos muito trabalho a partir de agora. Já estamos estudando os efeitos das perturbações que sofrem os pequenos satélites que possivelmente estão dentro do anel. Esses resultados poderão ser aplicados também a outros anéis do planeta, como o da Falha de Encke.

O F, estudado pela pesquisadora brasileira, é um dos principais anéis de Saturno, que vão da letra A ao G. "Existem ainda vários outros dentro das chamadas falhas. Os já estudados têm larguras bem distintas, apesar dessas medidas ainda não formarem um consenso. O anel A, por exemplo, tem 15 mil quilômetros e o F, entre 50 e 500", explica.

Antes mesmo do grande feito da Huygens, que se tornou o artefato humano a pousar mais longe da Terra, a missão havia descoberto vários satélites e um anel, bem próximo ao F. Isso, para os astrônomos, não deixa dúvidas de que os próximos anos serão realmente promissores.

"Os dados que a Cassini está enviando e continuará nos mandando por quatro anos trarão um avanço científico significativo ao estudo dos planetas, dos satélites e dos anéis. Podemos esperar muitas novidades", afirma Sílvia.

Mais informações: http://saturn.jpl.nasa.gov.





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