Pesquisadores da USP descobrem que Plasmodium falciparum tem receptores serpentina. Descoberta, publicada na PLoS One, pode ser um passo importante para o desenvolvimento de uma vacina contra a malária (foto: Instituto Pasteur)
Pesquisadores da USP descobrem que parasita causador da malária tem receptores serpentina, capazes de identificar sinais do meio exterior. Descoberta, publicada na PLoS One, pode ser um passo importante para o desenvolvimento de uma vacina contra a doença
Pesquisadores da USP descobrem que parasita causador da malária tem receptores serpentina, capazes de identificar sinais do meio exterior. Descoberta, publicada na PLoS One, pode ser um passo importante para o desenvolvimento de uma vacina contra a doença
Pesquisadores da USP descobrem que Plasmodium falciparum tem receptores serpentina. Descoberta, publicada na PLoS One, pode ser um passo importante para o desenvolvimento de uma vacina contra a malária (foto: Instituto Pasteur)
Agência FAPESP – Ao estudar o genoma do Plasmodium falciparum, o parasita causador da malária, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) descobriram que o protozoário tem quatro receptores serpentina e, por conta disso, é capaz de identificar sinais do meio exterior.
Fundamentais para o ciclo de vida do parasita, esses receptores são um alvo privilegiado para a produção de novos fármacos. O estudo, resultado de um Projeto Temático apoiado pela FAPESP, foi publicado na edição desta quarta-feira (26/3) da revista de acesso aberto PLoS One.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a malária infecta de 300 milhões a 500 milhões e mata pelo menos 1 milhão de pessoas todos os anos, principalmente em países pobres. Até hoje, não existe vacina para a doença.
Segundo Célia Garcia, autora principal do estudo e professora do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências (IB) da USP, uma série de questões em aberto sobre a biologia do parasita impede o desenvolvimento de uma vacina.
"Uma das questões fundamentais – não apenas para esse parasita, mas para qualquer outro organismo – é saber de que forma ele identifica um sinal do meio exterior, como a presença de um hospedeiro, por exemplo. Entender como o Plasmodium utiliza essa capacidade em seu benefício pode ser a chave para criar novos antimaláricos", disse à Agência FAPESP.
Segundo a cientista, o parasita pode, por exemplo, utilizar o sinal da presença do hospedeiro para modular seu ciclo de vida. "Se formos capazes de controlar no parasita os mecanismos moleculares de transdução de sinal – o processo pelo qual as células se comunicam com o meio – poderemos compreender como ele obtém tanto sucesso, causando tantas mortes", explicou.
Os receptores serpentina são amplamente empregados na indústria para identificar novos fármacos. "Isso porque, ao conhecer o ligante, podemos impedir que o parasita faça essa interação com o meio, que é vital para ele", disse Célia.
Em todos os organismos, os receptores serpentina são moléculas capazes de identificar ligantes extracelulares. No entanto, a presença deles no genoma do parasita ainda não havia sido confirmada.
"Havia uma polêmica em torno da presença do receptor serpentina no protozoário. A literatura internacional incluía dois artigos absolutamente conflitantes: um negava a existência do receptor no parasita, enquanto o outro identificava 46 candidatos. Nosso trabalho consistiu em analisar o genoma e comprovar a presença do receptor", destacou.
Apenas dois dos 46 candidatos a receptores serpentina mencionados na literatura, no entanto, correspondia às quatro proteínas identificadas pelos pesquisadores da USP: PfSR1, PfSR10, PfSR12 e PfSR25.
"Nosso desafio foi decifrar o genoma funcional do Plasmodium. Como não havia homologia, em vez de procurar o gene usamos outra ferramenta: procuramos por proteínas com o padrão de sete domínios transmembrânicos, que é uma assinatura da presença do receptor serpentina", disse.
Desarmar o parasita
Segundo a professora do IB-USP, o artigo coroa um trabalho feito no laboratório há mais de dez anos, cujo objetivo era provar que o parasita é capaz de perceber o ambiente.
"Tínhamos diversas publicações sugerindo que o parasita possuía uma maquinaria complexa para a transdução de sinal – achávamos que o Plasmodium era capaz de regular a passagem de um estágio celular para o seguinte, utilizando um segundo mensageiro. Nosso estudo mostra que essa maquinaria de fato existe e é muito sofisticada", afirmou.
Além de abrir perspectivas para a produção de novos fármacos, o trabalho, de acordo com Célia, também representa um desafio técnico. "Agora, temos muito trabalho pela frente: precisamos identificar os ligantes para esses receptores. Com isso, aprenderemos a desmontar a principal arma do parasita, que é ter um receptor para sentir o ambiente", disse.
O desafio é o tema de um novo Projeto Temático, coordenado por Célia e que prosseguirá até o fim de 2011.
O artigo Genome-wide detection of serpentine receptor-like proteins in malaria parasites , de Célia Garcia e outros, pode ser lido em www.plosone.org.
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