Capa do livro A eleição de Israel, de Ariel Finguerman
No livro A eleição de Israel, o filósofo e jornalista Ariel Finguerman discute a doutrina do "povo eleito", que considera uma das principais causas do confronto religioso entre judeus e cristãos. "Cada religião se coloca no centro do mundo e não pode admitir a presença de outra fé no mesmo lugar místico", diz o autor
No livro A eleição de Israel, o filósofo e jornalista Ariel Finguerman discute a doutrina do "povo eleito", que considera uma das principais causas do confronto religioso entre judeus e cristãos. "Cada religião se coloca no centro do mundo e não pode admitir a presença de outra fé no mesmo lugar místico", diz o autor
Capa do livro A eleição de Israel, de Ariel Finguerman
Agência FAPESP - Tanto o judaísmo como o cristianismo adotaram o Antigo Testamento como documento principal. Ao fazer a escolha, as duas religiões criaram um motivo forte para que uma situação de conflito ficasse cristalizada. Decisão que tem até os dias de hoje um forte impacto religioso.
No livro A eleição de Israel – Um estudo histórico-comparativo sobre a doutrina do "povo eleito", recém-lançado pela Editora Humanitas e pela FAPESP, Ariel Finguerman, brasileiro que vive atualmente em Israel, faz uma discussão científica sobre a doutrina do "povo eleito", que tanto cristãos, como judeus, acreditam.
A história mostra que cada um dos dois grupos considera ser o escolhido pelo Criador para transmitir a vontade dele a toda a humanidade. "Na maioria dos casos, as religiões conseguem evitar o confronto ao negar a verdade de suas concorrentes ou simplesmente as ignorando. No caso judaico-cristão isso não foi possível", disse Ariel Finguerman à Agência FAPESP. Para o pesquisador, o conflito entre as religiões é uma situação permanente.
"Basicamente, cada religião se coloca no centro do mundo e não pode admitir a presença de outra fé no mesmo lugar místico. Se o centro do mundo é Jerusalém, não pode ser na Babilônia. Se a revelação de verdade está nos mitos africanos, não pode estar no Novo Testamento", explica o pesquisador. Para Finguerman, não existe dúvida de que a doutrina do "povo eleito" ocupa um lugar central no conflito teológico estabelecido entre judeus e cristãos.
Para desenvolver o estudo que se iniciou no mestrado de Estudos do Judaísmo na Universidade de São Paulo, o cientista fez uma imersão em várias regiões espalhadas pelo mundo. Como ponto de partida, examinou de que forma a doutrina do "povo eleito" se desenvolveu no judaísmo desde a Bíblia até o início do século 20. "Depois, comparei a doutrina a idéias que julguei semelhantes no cristianismo e nas religiões chinesa, babilônica e dos yorubás", disse.
Um dos resultados do trabalho, publicado agora em livro, é a descoberta de uma poderosa arma para se combater o fundamentalismo religioso. Segundo Finguerman, apesar de a ciência da religião não ter que chegar a uma conclusão moral necessariamente, os estudos que fez da Bíblia revelaram que o uso da razão é uma ferramenta importante para amenizar conflitos teológicos.
"O método comparativo, que nada mais é do que levar em consideração a visão do outro, mostra, por exemplo, que muitas afirmações da Bíblia – que durante séculos se pensou fossem exclusivas – na realidade encontram paralelos em outras produções culturais do antigo Oriente Médio", disse. Essas relações, na visão do autor, são fundamentais para diminuir a rigidez que costuma cercar certas afirmações de religiosos baseados na Bíblia.
Imerso em novo projeto de pesquisa – Finguerman está estudando aspectos da teologia do Holocausto em seu doutorado –, o pesquisador brasileiro concorda que até entre os cientistas acaba existindo certos fundamentalismos, o que compromete a qualidade das investigações.
"A pesquisa bíblica, que floresceu no século 20 nas universidades da Alemanha, mostra bem isso", disse. Segundo explica, os trabalhos liderados pelo historiador alemão Julius Wellhausen (1844-1918) fizeram descobertas importantes, mas que devem ser vistas com ponderação. "Como os pensamentos estavam impregnados pela teologia clássica cristã, é impossível ler esses trabalhos, atualmente, sem se fazer uma crítica", disse Finguerman.
O mesmo cuidado deve ser aplicado às reflexões feitas por outra referência em estudos bíblicos, o israelense Yehezkel Kaufmann (1889-1963). "Ele escreveu textos brilhantes, mas totalmente comprometidos com os dogmas do judaísmo".
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