O caranguejo-uçá desempenha, nos manguezais, um papel importante no fluxo de nutrientes
(foto: Ronaldo Christofoletti)
Pesquisa revela o papel fundamental do ameaçado caranguejo-uçá na reciclagem dos nutrientes no mangue. O estudo também dá subsídios para que a espécie possa começar a ser criada em cativeiro
Pesquisa revela o papel fundamental do ameaçado caranguejo-uçá na reciclagem dos nutrientes no mangue. O estudo também dá subsídios para que a espécie possa começar a ser criada em cativeiro
O caranguejo-uçá desempenha, nos manguezais, um papel importante no fluxo de nutrientes
(foto: Ronaldo Christofoletti)
Agência FAPESP - As conseqüências de uma queda de conexão na internet são sempre desagradáveis para os usuários. Em um manguezal, segundo acaba de revelar um estudo recém-concluído na Universidade Estadual Paulista (Unesp), esses processos de causa e efeito apresentam conseqüências parecidas. A conexão, nesse caso, é o caranguejo-uçá (Ucides cordatus).
"Descobrimos que esse crustáceo desempenha um papel fundamental na reciclagem dos nutrientes dentro do mangue", disse Ronaldo Christofoletti, autor de uma tese de doutorado sobre o tema, à Agência FAPESP. Hoje ligado à Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), o pesquisador desenvolveu seu trabalho sob a orientação de Marcelo Pinheiro, professor da Unesp no campus de São Vicente.
O fluxo nutritivo criado pelo caranguejo-uçá, espécie bastante explorada comercialmente, principalmente nos mangues do Nordeste do Brasil, começa dentro da toca do animal. "Ele leva as folhas para lá e faz o processo de trituração", explica Christofoletti.
Os nutrientes não ficam restritos aos elos da cadeia ecológica presentes naquele ambiente. "Do mangue, são exportados principalmente para o ambiente marinho. São consumidos, por exemplo, por larvas de camarões e por outros caranguejos e moluscos", conta Christofoletti.
Por causa dessas várias ligações ecológicas, a ausência do caranguejo-uçá traria sérias conseqüências aos usuários finais do fluxo de nutrientes. Por se tratar de uma espécie de alto valor econômico, os subsídios oferecidos pelo estudo realizado em manguezais protegidos no município de Iguape, no litoral sul de São Paulo, ganham ainda mais importância. O pesquisador identificou também o impacto da alimentação disponível para o crescimento de cada um dos indivíduos.
"Percebemos que em bosques onde predomina a planta Rhizophora mangle a disponibilidade de nutrientes, tanto nas folhas como no solo, é maior. Nesses ambientes, ao contrário do que ocorre em bosques de Laguncularia racemosa, o crescimento dos animais é maior, disse. Essa outra descoberta, explica Christofoletti, poderá ajudar o desenvolvimento de um método de criação em cativeiro do caranguejo-uçá.
Essas espécies demoram até oito anos para ter valor comercial na natureza, explica o cientista. Como a exploração aumenta a cada a dia, é importante tentar criar o caranguejo-uçá em cativeiro, para que, pressão antrópica contra a espécie possa diminuir.
"Com esse conhecimento ecológico mais detalhado sobre a alimentação, pode-se, por exemplo, pensar em desenvolver uma espécie de ração para o animal", aponta o pesquisador. Essa iniciativa pode ser a única a fazer com que a conexão natural, existente dentro dos manguezais, continue a funcionar.
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