Especialistas em inclusão digital discutem a necessidade de conectar os brasileiros à internet e cobram um marco regulatório que favoreça o acesso coletivo e gratuito em escolas e ambientes públicos
Especialistas em inclusão digital discutem a necessidade de conectar os brasileiros à internet e cobram um marco regulatório que favoreça o acesso coletivo e gratuito em escolas e ambientes públicos
Agência FAPESP - A convergência digital já é uma realidade. A indústria de telecomunicações, de informática e de conteúdo se uniram há tempos. Hoje, é possível assistir aos gols da última rodada do campeonato brasileiro pelo telefone celular ou acessar e-mails logo após a novela das oito por meio do aparelho de televisão.
"As fronteiras desapareceram e isso cria uma série de vantagens do ponto de vista tecnológico", disse Nelson Simões, diretor geral da Rede Nacional de Pesquisa (RNP), durante a sessão paralela "Inclusão digital", na 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), na semana passada, em Brasília.
Para ele, os gestores públicos precisam olhar com mais atenção para o amplo repertório de ferramentas que surgiram, destinadas a apoiar as tecnologias de informação e comunicação. "Se utilizadas de maneira inovadora, essas ferramentas podem favorecer avanços importantes em países como o Brasil, com grandes diferenças regionais e de distribuição de riqueza", afirmou.
Simões apresentou uma meta audaciosa da RNP de implementar, a curto prazo, pelo menos uma conexão de banda larga em cada escola brasileira de ensino médio e fundamental. O Ministério da Educação (MEC) calcula que, das 179 mil escolas de ensino básico no país, cerca de 145 mil ainda não têm acesso à internet.
"Não há cliente mais rentável, do ponto de vista do retorno econômico na nova sociedade da informação, do que a escola", afirmou Simões. Segundo ele, se forem colocados dez computadores por escola que ainda não possuem acesso, serão 1,5 milhão de computadores, o que significa um investimento de R$ 2,1 bilhões em equipamento e plataforma, mais R$ 520 milhões em conectividade. "Há recursos disponíveis, mas ainda não conseguimos chegar a um consenso para seu uso. Ainda precisamos de um marco regulatório eficiente que favoreça essa questão", disse.
Sérgio Amadeu, pesquisador da Universidade de São Paulo, por sua vez, defendeu o direito de todo e qualquer cidadão a acessar as informações disponíveis na internet. "A maioria da população está fora da escola. Precisamos de equipamentos públicos que garantam o acesso coletivo e gratuito. Isso é uma questão de cidadania", afirmou.
Amadeu também falou sobre a importância da liberação do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), cujos recursos deverão servir para equipar escolas com computadores, desenvolver softwares pedagógicos e treinar professores. O programa de internet nas escolas do Fust foi paralisado por ação judicial em 2002.
"Todos os candidatos à Presidência em 2006 terão que se comprometer com o Fust. É inaceitável que mais de R$ 3 bilhões disponíveis para o programa fiquem retidos enquanto a sociedade precisa de computadores. A conexão é uma prioridade, pois a rede mundial de computadores é a maior enciclopédia do mundo", ressalvou Amadeu.
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