Conchas do passado
14 de fevereiro de 2005

Cientistas norte-americanas utilizam fósseis de lesmas para descobrir como era o clima e o meio ambiente do norte da África há mais de 130 mil anos. Onde hoje é um deserto, havia uma savana cheia de animais

Conchas do passado

Cientistas norte-americanas utilizam fósseis de lesmas para descobrir como era o clima e o meio ambiente do norte da África há mais de 130 mil anos. Onde hoje é um deserto, havia uma savana cheia de animais

14 de fevereiro de 2005

 

Agência FAPESP - Pistas do passado no norte da África estão chegando de uma maneira totalmente inusitada. Cientistas da Universidade de Washington em Saint Louis, nos Estados Unidos, estão estudando fósseis de lesmas para descobrir como era o clima e o meio ambiente da região há mais de 130 mil anos.

As pesquisadoras acreditam que o estudo também possa oferecer indícios de como as mudanças climáticas e ambientais podem ter levado à dispersão dos povos pré-históricos do continente africano para a Europa e a Ásia.

Jennifer Smith e Johanna Kieniewicz são as cientistas que estão analisando quimicamente fósseis de Melanoides tuberculata e resíduos carboníferos de um pequeno lago seco na região do oásis de Kharga, no oeste do Egito. O objetivo é reconstruir as condições ambientais que predominaram quando havia água no local.

De acordo com o estudo, há 130 mil anos a região hoje árida foi palco de uma savana cheia de vida, com hominídeos, rinocerontes, girafas e diversos outros animais. Sinais da presença de homens pré-históricos são abundantes, na forma de artefatos como pedras no formato de lâminas.

"Os dados que conseguimos indicam que há 130 mil anos houve um momento particularmente bom para a migração pelo continente em direção a fontes de água, uma vez que esse foi o período mais úmido na região nos últimos 400 mil anos", disse Jennifer em comunicado da universidade norte-americana.

A área estudada pelas pesquisadoras tem atualmente a insignificante média de 0,7 milímetro de chuva por ano, mas elas encontraram evidências de que no passado chegou a chover mais de 600 mílimetros por ano na região.

As cientistas realizaram análises isotópicas de 20 lesmas, todas datadas de cerca de 130 mil anos atrás. Esse tipo específico de molusco costumava viver entre um e dois anos e construía suas conchas na forma de espiral, com a água disponível no momento. Os fósseis foram preservados em depósitos de carbonato de cálcio.

"As carapaças funcionam como arquivos das vidas das lesmas e a análise dessas estruturas fornece bons retratos das condições do lago no período", disse Johanna.


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