Pesquisadores da Unifesp e do Ipen criam método para medir colesterol instantâneamente por meio da intensidade de luz emitida por um complexo de elementos químicos adicionado ao sangue (foto: divulgação)

Colesterol em tempo real
08 de setembro de 2008

Pesquisadores da Unifesp e do Ipen criam método para medir colesterol instantaneamente por meio da intensidade de luz emitida por um complexo de elementos químicos adicionado ao sangue

Colesterol em tempo real

Pesquisadores da Unifesp e do Ipen criam método para medir colesterol instantaneamente por meio da intensidade de luz emitida por um complexo de elementos químicos adicionado ao sangue

08 de setembro de 2008

Pesquisadores da Unifesp e do Ipen criam método para medir colesterol instantâneamente por meio da intensidade de luz emitida por um complexo de elementos químicos adicionado ao sangue (foto: divulgação)

 

Por Thiago Romero

Agência FAPESP – Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o Centro de Lasers e Aplicações do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), desenvolveram um novo método laboratorial para detectar a quantidade de colesterol em tempo real no sangue de pacientes.

O sistema, que está em processo de patenteamento, também detecta o mau colesterol (LDL) com mais precisão do que os métodos convencionais. A pesquisa foi coordenada por Lília Coronato Courrol, professora da Unifesp, campus de Diadema, que desde 1986 desenvolve estudos na área de espectroscopia óptica.

O colesterol é uma substância complexa do tipo lipídio-esteróide que, em sua forma pura, é um sólido cristalino, branco e inodoro. Além de fazer parte da estrutura das membranas celulares, é também um reagente de partida para a biossíntese de hormônios como cortisol e testosterona, dos sais biliares e da vitamina D.

Mas o excesso de colesterol no sangue, resultado da grande ingestão de alimentos com gorduras saturadas, é considerado uma das principais causas de riscos para o desenvolvimento de doenças cardíacas.

O novo método consiste em adicionar o complexo európio-tetraciclina, que contém íons de terras raras (grupo de elementos químicos também chamados lantanídeos), a uma gota de sangue total ou fracionado do paciente. A molécula de tetraciclina, conhecido antibiótico usado para infecções bacterianas, nesse caso tem a função de fixar os íons de európio formando com eles um complexo solúvel em água.

O complexo európio-tetraciclina absorve luz no azul e emite no vermelho e os dados são tratados em um software. Para que seja possível relacionar a intensidade de luz emitida à concentração de colesterol total ou de LDL, uma fonte de excitação (LED) provoca luminescência de modo que o resultado possa ser medido por um sistema de detecção com o auxílio de um fotodiodo.

Com a medição da intensidade de luz emitida o resultado é conhecido em tempo real. Para as análises que utilizam métodos convencionais, o resultado chega a demorar até três dias úteis.

“O processo que acaba de ser desenvolvido é relativamente simples, rápido e de baixo custo. A determinação do colesterol, seja total ou fracionado, é feita pela adição da amostra contendo colesterol à solução európio-tetraciclina”, disse Lília à Agência FAPESP.

Biossensor

Segundo a pesquisadora, vários trabalhos científicos têm sido propostos para a determinação de concentrações de colesterol. Mas, em geral, as medidas são baseadas em espectrofotometria, método que requer procedimentos de alto custo devido à utilização de enzimas caras em várias etapas do ensaio.

“No sistema desenvolvido o complexo európio-tetraciclina é utilizado como biossensor do colesterol. A tetraciclina é uma macromolécula que captura o íon em uma solução, absorve a energia de radiação incidente e transfere essa energia para o európio”, explicou.

Complexos európio-tetraciclina foram utilizados, conta Lília, por aumentar a sensibilidade e seletividade em bioanálises, devido a particularidades em suas características ópticas tais como grande intensidade de fluorescência. Os pesquisadores desenvolveram ainda o protótipo de um equipamento para determinação do colesterol utilizando o método.

“No equipamento, a medida da emissão do európio foi possível de ser realizada com um LED violeta como fonte de excitação. O fotodiodo apresentou sensibilidade para ser usado como sensor de colesterol total e de suas frações, convertendo a intensidade de luz emitida pelo európio. O protótipo é de fácil portabilidade, oferece rapidez nos resultados e têm elevada sensibilidade”, apontou.

Para os próximos passos do trabalho está prevista a criação de um sensor portátil, como os existentes para medição de glicose e pressão arterial, de modo que se possa medir o colesterol total e estimar o LDL em casa. “Pretendemos procurar um parceiro na indústria para viabilizar a produção do equipamento, que deverá custar, no máximo, R$ 100”, disse Lília.

Ela lembra que o mau colesterol está fortemente associado com o risco de doenças cardíacas, uma vez que, quando depositado na parede das artérias, é responsável por iniciar um processo chamado aterosclerose, caracterizado pelo acúmulo de lipídios dentro e ao redor das células, provocando o estreitamento dos vasos.

“Calcula-se que esse fenômeno seja responsável por cerca de 500 mil ataques cardíacos por ano em todo o mundo. O colesterol LDL mantém uma relação direta com a prevalência de enfermidade coronariana, incluindo aterosclerose e hipertensão. Valores elevados de colesterol LDL estão associados com risco aumentado dessas doenças”, disse.

De acordo com a Associação Norte-Americana do Coração, níveis normais de colesterol total sangüíneo se encontram abaixo de 200 miligramas por decilitro (mg/dl), enquanto que concentrações acima de 240 mg/dl são fatores de alto risco para doenças coronarianas. Por essas razões o colesterol se tornou um dos principais parâmetros em diagnósticos clínicos de rotina.

O projeto de desenvolvimento do método e do protótipo teve apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxílio a Pesquisa, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Instituto do Milênio de Fluidos Complexos. Participaram pesquisadores do Instituto de Física e do Instituto de Ciências Biomédicas, ambos da Universidade de São Paulo (USP).

 

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