Encomendada pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da Organização Mundial da Saúde, a investigação foi conduzida por 31 cientistas de 13 países. Resultados foram divulgados na Lancet Oncology (imagem: Wikimedia Commons)

Cobalto em excesso causa câncer, confirma estudo
22 de setembro de 2022

Encomendada pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da Organização Mundial da Saúde, a investigação foi conduzida por 31 cientistas de 13 países. Resultados foram divulgados na Lancet Oncology

Cobalto em excesso causa câncer, confirma estudo

Encomendada pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da Organização Mundial da Saúde, a investigação foi conduzida por 31 cientistas de 13 países. Resultados foram divulgados na Lancet Oncology

22 de setembro de 2022

Encomendada pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da Organização Mundial da Saúde, a investigação foi conduzida por 31 cientistas de 13 países. Resultados foram divulgados na Lancet Oncology (imagem: Wikimedia Commons)

 

Agência FAPESP* – Estudo publicado na revista Lancet Oncology confirma algo que muitos especialistas já suspeitavam: a exposição excessiva ao cobalto pode causar câncer.

A investigação foi encomendada pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) da Organização Mundial da Saúde (OMS) e conduzida por 31 cientistas de 13 países, entre eles Thomas Prates Ong, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) e membro do Centro de Pesquisa em Alimentos (FoRC), financiado pela FAPESP.

Os autores fizeram uma revisão de centenas de artigos, analisando a carcinogenicidade de nove agentes: cobalto (metal, sais solúveis, dois tipos de óxidos, sulfetos e outros compostos de cobalto), antimônio (trivalente e pentavalente) e tungstênio para munição de armas (contém níquel e cobalto). Para o metal cobalto e os compostos de cobalto, partículas moleculares de todos os tamanhos foram incluídas na avaliação.

As evidências de associação ao câncer foram suficientes para o metal, sais e um tipo de óxido de cobalto.

“O cobalto e o antimônio registraram o mais alto índice de carcinogenicidade nos parâmetros da IARC, classificando-se como prováveis elementos carcinogênicos. O tungstênio registrou evidências menores, então segue sendo um possível carcinogênico”, afirma Ong, que se dedica a estudos em nutrição, câncer e epigenética – área dedicada a entender como fatores ambientais (alimentação, exposição solar, tabagismo etc.) influenciam o funcionamento do genoma (ativando e silenciando genes). Ainda que não envolvam mutações gênicas (alteração na sequência do DNA), as modificações epigenéticas se perpetuam nas células e podem ser transmitidas aos descendentes.

“Concluímos que o cobalto induz a formação de tumores ao proporcionar um aumento das inflamações e mutações. Além disso, modifica o padrão epigenético ao causar alterações na forma como as células se proliferam, se diferenciam e morrem”, acrescenta.

Contaminação de alimentos

O cobalto é um dos componentes da molécula de vitamina B12 e, portanto, é essencial para o bom funcionamento do organismo em pequenas quantidades. O problema é a exposição excessiva, que geralmente ocorre no local de trabalho.

Segundo o estudo, “o cobalto é usado em muitas indústrias, inclusive na fabricação de ferramentas de corte e retificação, em pigmentos e tintas, vidro colorido, implantes médicos, galvanoplastia e, cada vez mais, na produção de baterias de íon-lítio”. Para o trabalhador dessas indústrias, a exposição ao elemento químico se dá, principalmente, por inalação de poeira e contato com a pele.

Para a população em geral, a ingestão de alimentos contaminados é a principal fonte de exposição, podendo ocorrer também pela fumaça de cigarro, poluição do ar e implantes médicos. No caso dos alimentos, a contaminação geralmente se dá quando os resíduos da fabricação de produtos que usam o cobalto chegam aos rios, ao solo e às plantações. “É um problema grave porque coloca em risco um amplo número de pessoas, com o consumo de alimentos e água contaminados, e por isso é muito importante o processo de fiscalização”, afirma o professor da FCF-USP.

Um consumo normal de cobalto pela alimentação varia entre 5 e 50 microgramas (μg) por dia, com uma concentração no plasma sanguíneo de até 0,2 μg /litro. Sabe-se que, acima de 7 μg /litro de plasma, sintomas de toxicidade podem ocorrer e o excesso de cobalto no organismo é eliminado principalmente pela urina.

Os alimentos que mais contêm cobalto são nozes, vegetais folhosos, cereais, chocolate, café, peixes e manteiga. A vitamina B12 é encontrada em carnes e derivados do leite, porém, a ingestão diária de 2,4 μg dessa vitamina contém apenas 0,1 μg de cobalto. Mas, segundo evidências científicas, o consumo de alimentos que naturalmente contêm cobalto não representa riscos à saúde.

O artigo Carcinogenicity of cobalt, antimony compounds, and weapons-grade tungsten alloy pode ser acessado em: www.thelancet.com/journals/lanonc/article/PIIS1470-2045(22)00219-4/fulltext.

* Com informações da Assessoria de Comunicação do FoRC, um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP .
 

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