Estudo realizado na Europa é uma nova forma para se conseguir chegar mais facilmente às células-tronco

Clone imaturo
22 de junho de 2005

Cientistas belgas desenvolvem clones de embriões humanos a partir de óvulos imaturos de laboratório. Estudo pode tornar mais fácil a obtenção de linhagens de células-tronco embrionárias para fertilização

Clone imaturo

Cientistas belgas desenvolvem clones de embriões humanos a partir de óvulos imaturos de laboratório. Estudo pode tornar mais fácil a obtenção de linhagens de células-tronco embrionárias para fertilização

22 de junho de 2005

Estudo realizado na Europa é uma nova forma para se conseguir chegar mais facilmente às células-tronco

 

Agência FAPESP - Cientistas belgas conseguiram clonar embriões humanos a partir de óvulos obtidos em laboratório. O anúncio foi feito na segunda-feira (20/6), na conferência anual da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia, que termina na quarta-feira, na Dinamarca. O estudo é uma nova forma para se conseguir chegar mais facilmente às células-tronco.

Segundo os pesquisadores, a descoberta pode tornar mais fácil a obtenção de linhagens de células-tronco embrionárias humanas a partir de embriões clonados e o desenvolvimento dessas células para prover óvulos e espermas a casais inférteis.

Até o momento, cientistas que estudam a utilização de células-tronco para propósitos terapêuticos têm se limitado ao uso de ovos maduros (oócitos) que atingiram o estágio da metáfase II, na qual a ovulação e a fertilização ocorrem em humanos. O problema é que há poucos oócitos MII disponíveis para pesquisa, uma vez a grande maioria dos que são obtidos de mulheres que procuram tratamentos de fertilidade é usada na própria paciente.

Como os oócitos imaturos não são comumente usados para o tratamento, podem ser doados para fins de pesquisa. Esses ovos são então levados à prófase I, antes que a divisão meiótica se complete, na qual o núcleo alargado é conhecido como vesícula germinal.

Bjorn Heindryckx, do Centro de Infertilidade do Hospital Universitário Ghent, na Bélgica, e colegas conseguiram obter oócitos em cultura de laboratório por 44 horas, período suficiente para que 85% deles se desenvolvessem em oócitos MII. De cada um deles foi removida a parte que contém os cromossomos, responsáveis por armazenar a informação genética.

Em seguida, os pesquisadores injetaram nos oócitos vazios o núcleo de células somáticas – células não-germinativas – de outro indivíduo, em processo conhecido como transferência nuclear não-autóloga. Após um período para a reprogramação nuclear, os oócitos foram ativados artificialmente pela incubação em um meio preparado quimicamente, o qual capacitou o núcleo injetado para se preparar a primeira divisão embrionária.

"Dos 25 oócitos MII obtidos in vitro, 18 sobreviveram à transferência nuclear. Desses, 11 mostraram formação de um pronúcleo. Na fertilização normal, a formação de pronúcleos masculinos e femininos é um estágio importante antes que os cromossomos dos dois lados comecem a se reunir na preparação para a primeira divisão celular. No caso desses oócitos, eles passaram por uma pseudo fertilização, uma vez que os pronúcleos foram derivados de núcleos externos, cada um com um conjunto completo de cromossomos homólogos, em vez de apenas um conjunto simples, como nos óvulos e esperma", explicou Heindryckx, em comunicado da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia.

Na seqüência do estudo, cinco oócitos se dividiram na fase das duas células e três continuaram a divisão até as fases de seis a dez células. Um embrião continuou a se desenvolver até o estágio compacto, quando as células individuais aumentam o contato umas com as outras.

"Acreditamos ser esta a primeira descrição do desenvolvimento de embriões humanos clonados a usar oócitos obtidos in vitro e a transferência não-autóloga por meio de um método convencional de transferência nuclear", disse Heindryckx.

"Nosso objetivo é usar a clonagem terapêutica para tratamentos de infertilidade por meio da criação de ovos e esperma artificial de pacientes que são inférteis pela ausência ou perda prematura de ovos e esperma", afirmou o cientista belga.

O pesquisador ressalta que ainda há um longo caminho a percorrer até que tal objetivo seja conquistado. "Nenhum dos embriões se desenvolveu até o estágio do blastocisto. Para que possamos avançar, precisamos primeiro descobrir como obter blastocistos de boa qualidade a partir de oócitos obtidos in vitro.

Para Marco Antônio Zago, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, o sucesso da pesquisa belga pode ser classificada apenas como relativa. "Eles partiram de 25 óvulos imaturos e apenas um chegou a formar uma massa maior de células. Nenhum formou blástula, a etapa crítica de onde são tiradas as células-tronco embrionárias para clonagem."


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