Trabalho conduzido na Escola Politécnica da USP elenca os principais desafios para que as tecnologias de fontes renováveis criadas nos países desenvolvidos possam ser implantadas em nações de renda baixa e média (imagem: Pixabay)

Cientistas defendem novo modelo para descarbonização do setor elétrico nos países em desenvolvimento
30 de setembro de 2021

Trabalho conduzido na Escola Politécnica da USP elenca os principais desafios para que as tecnologias de fontes renováveis criadas nos países desenvolvidos possam ser implantadas em nações de renda baixa e média

Cientistas defendem novo modelo para descarbonização do setor elétrico nos países em desenvolvimento

Trabalho conduzido na Escola Politécnica da USP elenca os principais desafios para que as tecnologias de fontes renováveis criadas nos países desenvolvidos possam ser implantadas em nações de renda baixa e média

30 de setembro de 2021

Trabalho conduzido na Escola Politécnica da USP elenca os principais desafios para que as tecnologias de fontes renováveis criadas nos países desenvolvidos possam ser implantadas em nações de renda baixa e média (imagem: Pixabay)

 

Agência FAPESP* – Se de um lado países desenvolvidos dominam tecnologias de fontes de energia renováveis, essenciais para a descarbonização do setor elétrico (retirada ou diminuição da queima de combustíveis derivados do petróleo e do carvão), países de baixa e média renda seguem com dificuldades para implantá-las.

Nos países em desenvolvimento, a transição energética caminha a passos lentos, mesmo que agendas de desenvolvimento sustentável, como Agenda 21 e 2030, e acordos multilaterais, como o de Paris, forneçam uma série de objetivos e metas para tornar o setor elétrico mais sustentável no mundo.

Estudo conduzido na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), por pesquisadores do Grupo de Energia do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas (GEPEA), do Centro de Pesquisa para Inovação em Gás (RCGI) e da Universidade de Queensland (Austrália), mostra que um dos obstáculos que dificultam essa transição é a replicação de modelos de planejamento energético de forma desconectada da realidade desses países. Os resultados foram publicados na revista Energy.

O RCGI é um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell na Poli-USP.

“Quando se discute a transição energética, fala-se de uma série de soluções encontradas na bibliografia internacional, que é muito mais voltada para estudos realizados nos países desenvolvidos. Portanto, são discussões distantes da realidade de países de baixa e média renda. Enquanto os países desenvolvidos falam em autonomia do consumidor, outros países ainda lutam para dar acesso a qualquer tipo de energia elétrica para parte da população”, afirma Stefania Gomes Relva, pesquisadora da Poli-USP e autora do estudo.

Segundo Relva, não basta promover a transferência da tecnologia. São necessários modelos e planejamento estratégico diferentes dos adotados no Norte global, além de mecanismos de estímulo que levem em conta outras necessidades, como a formação de mercado interno e de mão de obra qualificada para manter as usinas renováveis autossuficientes.

Para que a transferência de tecnologia funcione e, por consequência, a transição para um setor elétrico de baixo carbono e mais sustentável, é preciso também focar nos países em desenvolvimento e não só nos desenvolvidos, defendem os autores.

Para rastrear essa desconexão entre as inovações propostas e o que de fato é implantado nos países em desenvolvimento, os pesquisadores fizeram uma revisão bibliográfica de artigos focados em questões de transição energética de países de baixa e média renda.

De 625 artigos analisados inicialmente, foram selecionados 85 que tratavam de projetos e demandas de transição energética em países em desenvolvimento, regiões ou blocos econômicos do Sul global. A partir disso, os pesquisadores foram coletando informações que respondessem à pergunta: quais elementos impulsionam ou atrasam a transição energética em países em desenvolvimento?

“Com essa abordagem, conseguimos ter uma visão abrangente de como essas informações se relacionam entre si, o que possibilitou uma análise em maior dimensão do que estava sendo apresentado nesses artigos. Pudemos mapear quais eram os elementos característicos da transição energética em países em desenvolvimento e, a partir desses elementos, identificamos quais eram os principais desafios”, explica Relva.

Na análise, os pesquisadores constataram que, já no planejamento para a transição energética, precisam ser considerados ainda aspectos como corrupção, imprevisibilidade econômica, formação de expertise e mercado interno nos países de baixa e média renda.

Outra questão importante em relação a essa desconexão entre as realidades se refere à eficiência energética. Países desenvolvidos associam eficiência energética aos equipamentos de uso final da energia. Porém, no Sul global, o sistema é tão incipiente que perdas muito maiores ocorrem na transmissão e distribuição da energia elétrica. O estudo, inclusive, traz um gráfico sobre o nível de perda de energia dos países de alta, média e baixa renda.

Nesse contexto, os pesquisadores sugerem uma maior interação entre países de baixa e média renda para troca de experiências ou pesquisa sobre a implantação de novas fontes energéticas. “Precisamos criar modelos próprios em vez de simplesmente importar modelos. Ao criar modelos domésticos, é possível trocar essas experiências com países do mesmo bloco – o que chamamos de cooperação Sul-Sul –, a fim de compartilhar essas tecnologias”, diz Drielli Peyerl, coautora do estudo.

O artigo Enhancing developing countries’ transition to a low-carbon electricity sector pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0360544220327663.

* Com informações da Assessoria de Comunicação do RCGI.
 

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