Lopes é um dos cientistas brasileiros mais conhecidos no exterior, especialmente por seu trabalho na física de partículas (foto: CBPF)
Um dos grandes nomes da física mundial, José Leite Lopes morre aos 87 anos. Enterro do fundador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas será nesta terça-feira (13/6), no Rio de Janeiro
Um dos grandes nomes da física mundial, José Leite Lopes morre aos 87 anos. Enterro do fundador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas será nesta terça-feira (13/6), no Rio de Janeiro
Lopes é um dos cientistas brasileiros mais conhecidos no exterior, especialmente por seu trabalho na física de partículas (foto: CBPF)
Ele tinha 87 anos e estava em coma desde dezembro, após ter se submetido a uma endoscopia. O velório foi realizado no auditório do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). O enterro está marcado para as 10h desta terça-feira, no Cemitério São Francisco Xavier (conhecido como Cemitério do Caju), na zona norte do Rio de Janeiro.
Nascido em Recife, em 28 de outubro de 1918, Leite Lopes foi fundador do CBPF e do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro e primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Física. É um dos cientistas brasileiros mais conhecidos no exterior, especialmente por seu trabalho na física de partículas.
Em 1958, previu a existência do bóson Z0, partícula que só seria observada mais de 20 anos depois, ao desenhar uma equação que mostrava a analogia entre as interações nucleares fracas com o eletromagnetismo. A contribuição, publicada em artigo na revista Nuclear Physics, foi fundamental para o desenvolvimento da unificação eletrofraca pelos norte-americanos Steve Weinberg e Sheldon Glashow e o paquistanês Abdus Salam, que valeu aos três o Nobel de Física em 1979.
Leite Lopes fez o bacharelado em química industrial na Escola de Engenharia de Pernambuco, em 1939. Em 1940, ingressou no Curso de Física da Faculdade Nacional de Filosofia, no Rio de Janeiro, que concluiu dois anos depois. Em 1943, trabalhou no Departamento de Física da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.
Com uma bolsa do governo norte-americano, fez o doutorado na Universidade de Princeton, com orientação do físico austríaco Wolfgang Pauli (1900-1958), um dos pais da mecânica quântica. Em 1945, foi nomeado professor de física teórica da Faculdade Nacional de Filosofia do Rio de Janeiro.
Em janeiro de 1949, juntamente com Cesar Lattes (1924-2005), fundou o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. No mesmo ano, ganhou uma bolsa da Fundação Guggenheim e, a convite de J. Robert Oppenheimer (1904-1967), tornou-se membro do Instituto de Altos Estudos de Princeton.
Entre 1956 e 1957, convidado por Richard Feynman (1919-1988), atuou como pesquisador visitante no Instituto de Tecnologia da Califórnia. De 1962 a 1964, foi organizador e coordenador do Instituto de Física da Universidade de Brasília. De 1964 a 1967, foi professor visitante da Faculdade de Ciências de Orsay, da Universidade de Paris.
Em 1969, foi aposentado compulsoriamente na Universidade Federal do Rio de Janeiro, por decreto governamental baseado no Ato Institucional nº 5. Nos anos seguintes, no exterior, passou pela Universidade Carnegie-Mellon, nos Estados Unidos, pela Universidade de Estrasburgo, na França, e foi diretor do Centro de Pesquisas Nucleares de Estrasburgo. Voltou ao Brasil definitivamente em 1986, para dirigir o CBPF, a convite do então ministro da Ciência e Tecnologia, Renato Archer.
É autor de livros como Fondements de la physique atomique (1967), Lectures on symmetries (1969), Gauge field theories (1981), Theorie relativiste de la gravitation (1993) e Sources et Évolution de la Physique Quantique (1995).
"O professor Leite Lopes foi um grande agitador e visionário na ciência brasileira. Com seus artigos, livros e palestras, debateu e lançou idéias fundamentais para a implantação de uma cultura científica no país. Em particular, teve uma atuação fundamental na criação da Comissão Nacional de Energia Nuclear e, ainda na década de 1960, sugeriu a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia e o embrião de uma organização que mais tarde tornou-se a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)", disse a CBPF em comunicado.
"Leite Lopes, em minha opinião, possui duas qualidades básicas: é um brilhante professor, que dá lindas aulas, e um cientista criativo, que realizou um trabalho científico original devido à sua excelente intuição", disse Cesar Lattes, por ocasião do 70º aniversário do amigo.
Mais informações: www.cbpf.br/LeiteLopes.
A Agência FAPESP licencia notícias via Creative Commons (CC-BY-NC-ND) para que possam ser republicadas gratuitamente e de forma simples por outros veículos digitais ou impressos. A Agência FAPESP deve ser creditada como a fonte do conteúdo que está sendo republicado e o nome do repórter (quando houver) deve ser atribuído. O uso do botão HMTL abaixo permite o atendimento a essas normas, detalhadas na Política de Republicação Digital FAPESP.