Cerca de 25 mil pessoas circularam diariamente pela 55ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na semana passada em Recife, que teve debates marcados por um maior peso em política científica do que os de anos anteriores
Cerca de 25 mil pessoas circularam diariamente pela 55ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na semana passada em Recife, que teve debates marcados por um maior peso em política científica do que os de anos anteriores
Além dos inscritos para participação direta no evento, houve ainda mais 2.478 inscrições no projeto de interiorização da reunião, que possibilitou a transmissão simultânea de palestras e mini-cursos via satélite para telões instalados em faculdades de seis municípios de Pernambuco, por meio de parcerias com as prefeituras de Arcoverde, Caruaru, Nazaré da Mata, Palmares, Salgueiro e Vitória de Santo Antão. Nessas localidades, a estimativa é que mais de cinco mil pessoas tenham acompanhado as transmissões.
O sucesso da experiência de interiorização deverá levar a SBPC a mantê-la na reunião do próximo ano, em Cuiabá (MT), e expandi-la para municípios de diversos Estados e até mesmo, futuramente, de organizá-la de forma a permitir a interatividade.
"Temos que levar em consideração que cada vez mais a reunião deixará de ser local", disse Ennio Candotti, presidente da entidade. Na verdade, trata-se de um novo e importante salto que começa a ser dado pela Sociedade no campo da circulação do conhecimento. Afinal, suas reuniões anuais já são as maiores reuniões científicas do Hemisfério Sul e podem vir a ter um alcance muito maior, com a expansão das teleconferências.
Mais política
Em comparação com a reunião de 2002, realizada em Goiânia (GO), esta foi mais política. E não por acaso. "Ela visou, em todos os ciclos temáticos, o político, isto é, induzir ou mostrar problemas brasileiros importantes sob uma ótica científica", na avaliação de Regina Pekelmann Markus, secretária geral da SBPC e uma das responsáveis pela organização do evento. "Procuramos juntar o rigor científico a análises, inclusive políticas, tirando o cientista apenas da geração de conhecimento para o debate de ações políticas para a superação de problemas por ele estudado".
Para Aldo Malavasi, diretor tesoureiro da entidade e também organizador das últimas reuniões, a deste ano foi a primeira após a mudança de Governo Federal e é natural que os novos dirigentes compareçam e digam quais os planos para os próximos anos. "Mas ela é mais política também no sentido de mantermos a interlocução e o xeque aos projetos do governo".
O tema geral da Reunião já anunciava seu caráter mais político: Educação, Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social. O mesmo aconteceu com os cinco grandes ciclos temáticos que abrigaram a maioria dos 91 simpósios, 53 conferências e três sessões especiais realizadas ao longo da semana: Educação e Inclusão Social, Integração e Soberania, Qualidade de Vida, Desigualdades no Brasil e Biodiversidade.
No primeiro, aberto com uma conferência do ministro da Educação Cristovam Buarque, foram discutidos de políticas educacionais e avaliação de desempenho na educação básica à pós-graduação, passando pelo ensino profissionalizante, a educação a distância e o próprio papel da universidade no século 21.
O segundo ciclo temático debateu, entre outros temas, o papel da ciência e tecnologia para a defesa nacional e para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, e a política externa brasileira.
O ciclo Qualidade de Vida abordou a questão da inclusão social por um outro prisma, trazendo para o debate temas como saúde (políticas públicas em saúde e saúde e cidadania), água (água como bem social e como qualidade de vida), habitação popular, combate à violência e ao crime organizado. Nas mesas desses simpósios e conferência, sempre a preocupação de reunir cientistas e administradores ou gestores públicos das áreas em debate.
Desigualdades no Brasil, o quarto ciclo temático, tratou das desigualdades e de políticas de desenvolvimento regional, de políticas regionais de ciência e tecnologia e das fundações locais de amparo à pesquisa, de renda, e da questão feminina. O ciclo Biodiversidade discutiu, entre outros temas, a utilização da biodiversidade brasileira e o gerenciamento dos recursos naturais do país.
Na avaliação de Regina Markus houve, efetivamente, na 55ª Reunião, um significativo crescimento na participação, seja em número de inscritos, seja na qualidade da própria atuação do cientista: "Recife mostrou como a participação da comunidade científica na política de ciência e tecnologia avançou", disse ela.
Por Maria da Graça Mascarenhas
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