Chumbo no Vale do Ribeira
03 de setembro de 2003

Pesquisa realizada em uma das regiões mais pobres do Estado de São Paulo revela que 24% das crianças analisadas apresentam níveis de metais pesados no sangue acima do que é considerado normal

Chumbo no Vale do Ribeira

Pesquisa realizada em uma das regiões mais pobres do Estado de São Paulo revela que 24% das crianças analisadas apresentam níveis de metais pesados no sangue acima do que é considerado normal

03 de setembro de 2003

 

Agência FAPESP - O Instituto de Geociências (IG) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está desenvolvendo um estudo para detectar as regiões no Vale do Ribeira que apresentam focos de contaminação ambiental e humana causadas por chumbo e arsênio.

A pesquisa, divulgada pela revista eletrônica ComCiência (www.comciencia.br), foi desenvolvida em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (FCM), o Instituto Adolfo Lutz, a Universidade Estadual de Londrina (UEL) e o Serviço Geológico do Brasil. O estudo mostrou altos índices de contaminação de poluentes metálicos na população, já que algumas áreas da região são conhecidas pela intensa atividade de mineração voltada para a produção de chumbo, zinco e prata.

Segundo disse à Agência FAPESP o coordenador do trabalho e professor do IG, Bernardino Figueiredo, o objetivo central é traçar três pilares de atuação no Vale do Ribeira: um mapa geoquímico com base em análises de sedimentos de rios; um atlas de zoneamento Geoambiental que consiste em classificar as diferentes áreas do meio físico procurando suas características naturais; e, por fim, verificar o impacto sofrido pelo meio ambiente pela atividade de mineiração de chumbo na região. Com isso, será possível promover políticas públicas que beneficiem o meio ambiente e a saúde da população local.

"O projeto está contribuíndo para que a tomada de decisões econômicas do Vale do Ribeira, por parte do poder público, seja orientada com base em diagnósticos científicos de planejamento urbano", disse Figueiredo "A idéia é fornecer informações que auxiliem os gestores públicos no desenvolvimento social de uma das regiões mais pobres do Estado."

Na pesquisa, Paisagens Geoquímicas e Ambientais do Vale do Ribeira: Avaliação e Prevenção de Riscos para o Meio Físico e Saúde Humana relacionados a Exposição ao Arsênio e Metais Pesados, Figueiredo utilizou como metodologia uma série de amostras de sangue coletadas de crianças da região. De acordo com os resultados, 24% das amostras mostraram que o nível de chumbo no sangue é superior a 10µg/dL (micrograma por decilitro), um número considerado de risco à saúde. Também foi concluído que, mesmo com o trabalho de mineração tendo sido encerrado há sete anos nas comunidades rurais analisadas, 60% da população que mora perto da refinaria de chumbo ainda está exposta ao metal.

O projeto foi financiado pela FAPESP. "A Fundação nos cedeu cerca de US$ 156,5 mil para a importação de equipamentos e material de consumo, além de mais R$ 220 mil para as despesas de transporte, trabalho de campo e despesas com as análises de material biológico humano e ambiental", disse.

Os resultados da pesquisa serão apresentados em dois eventos internacionais de geologia, onde serão discutidos os resultados de estudos em geociências sobre o meio ambiente, desenvolvidos em vários continentes. Trata-se do VI Simpósio Internacional de Geoquímica Ambiental, em Edimburgo, na Escócia, entre 7 e 11 de setembro, e a reunião anual da Comissão de Geociências para a Planificação Ambiental (Cogeoenvironment), da União Internacional das Ciências Geológicas (IUGS), em Vilna, capital da Lituânia, entre 12 e 18 de setembro.


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