Pessoas que trabalham em ambientes com ar condicionado têm risco 40% maior de apresentar problemas respiratórios. (Foto: M. Honório)
Pesquisa feita na USP mostra papel da variação da temperatura na rinite alérgica. Pessoas que trabalham em ambientes com ar condicionado têm risco 40% maior de apresentar problemas respiratórios
Pesquisa feita na USP mostra papel da variação da temperatura na rinite alérgica. Pessoas que trabalham em ambientes com ar condicionado têm risco 40% maior de apresentar problemas respiratórios
Pessoas que trabalham em ambientes com ar condicionado têm risco 40% maior de apresentar problemas respiratórios. (Foto: M. Honório)
Agência FAPESP - Mesmo sem ácaros e fungos o risco da rinite alérgica está presente: basta que as pessoas no local sejam submetidas a um choque térmico. Segundo estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), o ambiente mais propício é o local de trabalho, onde normalmente o ar é resfriado de forma forçada, ainda mais em países tropicais.
A pesquisa envolveu 1,5 mil pessoas que trabalhavam sob sistemas de climatização central e outras 500 expostas apenas à ventilação natural. "Por meio da aplicação de questionários, constatamos que aqueles que trabalhavam sob efeito do ar condicionado tinham um risco 40% maior de apresentar problema respiratório", disse Gustavo Graudenz, professor da Faculdade de Medicina, à Agência FAPESP.
O alergologista aponta que ainda não se conhece o motivo dessa maior exposição aos problemas respiratórios. "O ar condicionado não acumula alérgenos que possam explicar o problema. Tudo está relacionado à mudança drástica de temperatura. O que podemos dizer é que, quanto mais velho for o aparelho, maior é o risco de as pessoas apresentarem rinite alérgica", disse.
O trabalho reuniu dois pesquisadores de áreas distintas, Graudenz e Arlindo Tribess, professor da Escola Politécnica (Poli). "A engenharia é a ciência capaz de controlar os fatores físicos em ambientes climatizados e a medicina analisa a resposta do organismo humano em frente a esses fatores. Essa aproximação é importante para propormos intervenções, seja por meio de novos medicamentos ou por meio de alterações nos sistemas de ar condicionado", disse Graudenz.
Diante dos primeiros resultados, os autores do estudo decidiram analisar as condições climáticas gerais do ambiente que poderiam favorecer o aparecimento dos sintomas respiratórios. As mudanças severas de temperatura, efeito conhecido como "choque térmico", passaram então a ser o objeto central do estudo.
No Laboratório para Avaliação de Sistemas de Ar Condicionado, do Departamento de Engenharia Mecânica da Poli, os cientistas reproduziram um ambiente de escritório completo. As instalações especiais permitiram o controle total do clima dentro desse ambiente de trabalho simulado.
Ao todo, foram analisados 32 portadores de rinite e 16 pessoas consideradas sadias. Os voluntários foram expostos a diferentes níveis de temperatura e, em seguida, foi coletado material da mucosa do nariz. "Os portadores de rinite apresentaram uma inflamação no nariz mais acentuada e prolongada, o que mostra que indivíduos alérgicos têm capacidade diminuída de lidar com as mudanças drásticas de temperatura", disse Graudenz.
Os voluntários do teste, explica o médico, foram expostos a uma temperatura inicial de 26ºC. Depois de 30 minutos, o ambiente foi rapidamente resfriado para 14ºC. Mais 30 minutos e os termômetros voltaram a subir.
Segundo Graudenz, pesquisas como essa, que contou com o apoio da FAPESP, podem contribuir não apenas para a identificação das causas da rinite, mas principalmente para o tratamento dessa reação alérgica. Apenas na cidade de São Paulo, as estimativas apontam que um quinto da população apresentará sintomas da doença ao longo da vida.
"A rinite é uma doença crônica ainda sem cura, mas que pode ser controlada por meio de remédios ou vacinas. Nesse estudo, a parceria entre medicina e engenharia representou um passo importante, ao mostrar que o controle correto da temperatura nos ambientes fechados é uma das formas para o combate a esse tipo de alergia", disse o professor da Faculdade de Medicina da USP.
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