Os cervos-do-pantanal sofrem pressões na região do rio Paraná
(foto: Walfrido Tomás/Embrapa Pantanal)

Cervos ainda respiram em São Paulo
28 de abril de 2005

Estudo feito na região alterada pela Usina de Porto Primavera, na divisa com o Mato Grosso do Sul, mostra que as populações de cervos-do-pantanal estão se adaptando de forma razoável às mudanças no local

Cervos ainda respiram em São Paulo

Estudo feito na região alterada pela Usina de Porto Primavera, na divisa com o Mato Grosso do Sul, mostra que as populações de cervos-do-pantanal estão se adaptando de forma razoável às mudanças no local

28 de abril de 2005

Os cervos-do-pantanal sofrem pressões na região do rio Paraná
(foto: Walfrido Tomás/Embrapa Pantanal)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Exemplares de cervo-do-pantanal na natureza existem em apenas um local no Estado de São Paulo: nas várzeas do rio Paraná, próximo à divisa com o Mato Grosso do Sul. Exatamente no mesmo local em que foi construída a Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, conhecida também pelo nome de Porto Primavera.

A situação dos animais, felizmente, não está tão ruim como se imaginava. "O levantamento que fizemos em abril mostrou que as populações de cervos estão em uma situação estável", disse Ubiratan Piovezan, pesquisador da Embrapa Pantanal, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, à Agência FAPESP. A comparação do pesquisador foi feita com base em outro levantamento, feito em 2001 e concluído logo após a inundação da região pelo início das operações da hidrelétrica.

Os cálculos dos pesquisadores – a equipe que sobrevoou a área tem ainda Walfrido Tomás, também da Embrapa e Liliani Tiepolo, do Museu Nacional do Rio de Janeiro – indicam a presença de 400 a 600 exemplares em toda a zona adjacente ao reservatório.

"Podemos dizer que a situação está melhor do que poderia estar, considerando a área de várzea que foi inundada", afirma Piovezan. Segundo o pesquisador, que trabalhava na área bem antes da inundação, a população de cervos-do-pantanal na divisa de São Paulo com o Mato Grosso do Sul tinha mais de 1 mil indivíduos, antes da formação do lago.

"A expectativa era que o tamanho da população caísse de forma vertiginosa depois da construção do reservatório, mas não foi o que detectamos", disse Piovezan. Apesar de o quadro aparentemente surpreendente, a situação das várzeas do Paraná – e dos afluentes que existem naquela área do lado paulista, como os rios Aguapeí e Peixe – está longe de ser ótima. "O que deve estar ocorrendo é que os animais estão se concentrando em determinadas áreas. O cervo apresenta uma grande plasticidade comportamental e por isso é capaz de se manter em áreas alteradas."

Além de ser uma espécie ameaçada em todo o Brasil, e principalmente no Estado de São Paulo, os cervos-do-pantanal são um excelente termômetro de áreas de várzea. O fato de existirem populações até certo ponto vigorosas na região não significa que a situação geral desses ecossistemas esteja equilibrada.

"A caça é um dos problemas. Existe ainda a presença do gado dentro de áreas de conservação. Outra questão importante, que precisa ser controlada, é a drenagem de grandes áreas naquela região", adverte o pesquisador da Embrapa.

Para Piovezan, é mais do que vital, não apenas para os cervos, mas para a toda a biodiversidade que vive na divisa dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, que seja feito um o plano de manejo para a espécie e para os ambientes remanescentes e que esse saia do papel o mais rápido possível.

"Medidas tanto de educação ambiental como de monitoramento das espécies ameaçadas e das áreas de preservação precisam ser viabilizadas o mais rápido possível", disse.

Todos os levantamentos feitos pela Embrapa Pantanal serão usados pela instituição para a criação de um plano de manejo para a conservação e proteção dos cervos-do-pantanal. O trabalho está em fase final de execução.


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