Para David King o aquecimento global é uma realidade e um dos grandes desafios que a humanidade deverá enfrentar
(foto: Consulado Geral Britânico)

Certezas ambientais
29 de junho de 2005

Em visita ao Brasil, David King, conselheiro científico do Reino Unido, parte da premissa de que o aquecimento global é uma forte realidade e ressalta a necessidade de se preparar para as grandes mudanças e mitigar os impactos

Certezas ambientais

Em visita ao Brasil, David King, conselheiro científico do Reino Unido, parte da premissa de que o aquecimento global é uma forte realidade e ressalta a necessidade de se preparar para as grandes mudanças e mitigar os impactos

29 de junho de 2005

Para David King o aquecimento global é uma realidade e um dos grandes desafios que a humanidade deverá enfrentar
(foto: Consulado Geral Britânico)

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Basta olhar para os últimos anos com uma visão sistêmica. Feito esse exercício, a tese defendida por David King, assessor direto do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, para questões de ciência está longe de ser absurda. Em visita oficial ao Brasil, o cientista nem quer mais discutir a questão do aquecimento global. Para ele, isso é um fato consumado.

O que resta agora, segundo King, é se preparar para as grandes mudanças e tentar mitigar as conseqüências dos problemas. Ou seja, decidir qual é o tamanho do risco que se pretende correr. "Faz parte desse processo explicar os problemas que o aquecimento global vai causar para os próprios políticos. As conseqüências não estão distantes. Elas são percebidas também em nível local", disse à Agência FAPESP.

O conselheiro científico do Reino Unido, em palestra no Conselho Britânico, em São Paulo, foi para lá de enfático. "A mídia também é responsável por colocar esse assunto em questão. A grande onda de calor em 2003 na França, por exemplo, sempre costuma ser atrelada às mudanças climáticas. Isso é uma forma de explicar o problema", avisa. O evento matou 30 mil pessoas e gerou um custo direto de US$ 13,5 bilhões.

No Reino Unido, durante a campanha de lançamento do filme O dia depois de amanhã, apesar da hipótese absurda da película – Nova York é inundada em um prazo curto de tempo por causa do efeito do aumento mundial da temperatura sobre as calotas polares –, King fez questão de percorrer as escolas britânicas para debater o assunto. "O fenômeno foi muito exagerado. Mas ele, em um prazo bastante longo, poderá até ocorrer em escala menor", conta.

Em São Paulo, King preferiu um exemplo bem mais factível para quem acha que a história do aquecimento global não lhe diz respeito. "A cobertura de gelo da Groenlândia, por exemplo, caso a temperatura continue subindo nos níveis atuais, poderá sair de 100% para 3% de seu volume em apenas 3 mil anos. O que é bastante rápido e terá conseqüências no nível do mar", adverte o pesquisador que nasceu na África do Sul.

Se na teoria a saída é uma só – investir em matrizes energéticas limpas e renováveis, em tecnologias e engenharias que façam o mundo depender menos do carbono para continuar a se movimentar –, na prática a questão é bem mais complicada, admite o britânico. "É preciso que seja feita uma pressão cada vez maior sobre os políticos."

Pelo menos na Grã-Bretanha, a opinião pública começou a se movimentar e isso deve gerar reflexos diretos na próxima reunião do grupo dos oito países mais ricos do mundo (G-8), que será realizada em julho. Uma pesquisa publicada na semana passada pelo jornal The Guardian mostra que 83% dos entrevistados são a favor de Tony Blair, também atual presidente do G-8, desafiar George W. Bush, presidente dos Estados Unidos, a aceitar publicamente que as mudanças climáticas são uma realidade. "Espero que os países fechem um acordo sobre a questão climática enquanto existe tempo", desse King.


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