Cerrado com os dias contados
19 de julho de 2004

O ritmo de devastação de um dos biomas brasileiros mais afetados pelo homem é alarmante. Se a perda da cobertura vegetal continuar nos padrões atuais – o equivalente a 2,6 campos de futebol somem por minuto – o Cerrado não vai mais existir em 2030

Cerrado com os dias contados

O ritmo de devastação de um dos biomas brasileiros mais afetados pelo homem é alarmante. Se a perda da cobertura vegetal continuar nos padrões atuais – o equivalente a 2,6 campos de futebol somem por minuto – o Cerrado não vai mais existir em 2030

19 de julho de 2004

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - Antes de começar a ser destruído, o Cerrado brasileiro tinha 204 milhões de hectares. Hoje, 57% desse total não existe mais. O problema é ainda maior porque a taxa de devastação da cobertura vegetal desse bioma continua extremamente alta. Segundo um estudo publicado na semana passada pela Conservation International do Brasil (CI), o equivalente a 2,6 campos de futebol desaparecem a cada minuto.

"Infelizmente, acredito nesses números e nas dramáticas previsões que foram feitas", disse a engenheira florestal Giselda Durigan, pesquisadora do Instituto Florestal do Estado de São Paulo, à Agência FAPESP. Pelos cálculos da CI, se o ritmo de destruição se mantiver, os 43% do Cerrado que ainda estão de pé podem desaparecer até 2030.

Para Giselda, o Cerrado não tem o tratamento que merece do ponto de vista da conservação ambiental, seja por parte do governo ou das entidades ambientais. "É como se o bioma, por ter apenas árvores pequenas e esparsas, não precisasse ser protegido da mesma forma que as florestas."

O mapeamento dos ambientalistas mostra que a degradação da cobertura vegetal do Cerrado é maior nos Estados do Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso. Focos importantes de devastação podem ser encontrados ainda no Triângulo Mineiro e no oeste da Bahia.

"As ameaças mais sérias são mesmo a expansão da fronteira agrícola, principalmente com a soja, e a evolução tecnológica da formação de pastagens", explica Giselda. A engenheira florestal, que também participa de vários projetos ligados ao Programa Biota/FAPESP, conta que o fogo, mesmo freqüente, é muito menos ameaçador a curto prazo. "Além da invasão em massa por plantas do gênero Brachiaria, agora existem equipamentos capazes de destruir as estruturas subterrâneas das plantas do cerrado para impedir que elas rebrotem."

Na opinião da pesquisadora paulista, que além da experiência científica tem vários anos de contato com os proprietários rurais da região, a única forma de deter a destruição do bioma ameaçado é a remuneração da conservação. "O Cerrado assegura a proteção de mananciais, recarga do Aqüífero Guarani e proteção da diversidade biológica. Não é socialmente justo que o proprietário rural arque sozinho com os custos da conservação", afirma.


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