Jacques Velloso, pesquisador da UnB, no IEA: 'E o mestrado profissionalizante? Não é necessário que ele seja estimulado?'

Cenário colorido
30 de março de 2005

Debate sobre pós-graduação no IEA aponta para o fim de uma visão em preto-e-branco do sistema universitário nacional. No caso dos cursos de mestrado e doutorado, segundo Jacques Velloso, da UnB, novas demandas precisam ser consideradas

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Debate sobre pós-graduação no IEA aponta para o fim de uma visão em preto-e-branco do sistema universitário nacional. No caso dos cursos de mestrado e doutorado, segundo Jacques Velloso, da UnB, novas demandas precisam ser consideradas

30 de março de 2005

Jacques Velloso, pesquisador da UnB, no IEA: 'E o mestrado profissionalizante? Não é necessário que ele seja estimulado?'

 

Por Eduardo Geraque

Agência FAPESP - "Chega dessa visão em preto-e-branco." A frase, dita por Guilherme Ary Plonsky, diretor do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), é mais do que significativa. Para ele, quando o assunto é mestrado e doutorado, o verbo diversificar deve ser sempre conjugado.

Segundo Plonsky, é preciso ter em mente que um aluno que entra no mestrado acadêmico não terá como destino único ser professor titular de um departamento importante da universidade. "Existem muitas outras opções. É preciso sair das visões dicotômicas", argumentou.

O diretor do IPT foi um dos participantes do debate que se seguiu à conferência realizada por Jacques Velloso, pesquisador do Centro de Estudos Multidisciplinares da Universidade de Brasília (UnB), na terça-feira (29/3), em São Paulo, no Instituto de Estudos Avançados (IEA).

As afirmações de Plonsky ressaltaram as palavras de Velloso. "Uma análise feita com mestres formados durante os anos 90 mostrou que a maioria não estava na academia e também não pretendia permanecer na universidade", disse o professor da UnB, que apresentou os números de um estudo coordenado por ele e realizado com 9 mil mestres e doutores formados entre 1990 e 1999.

Para Velloso, que é organizador de livros como A Pós-Graduação no Brasil: Formação e Trabalho de Mestres e Doutores no País – lançado em dois volumes, em 2002 e 2003 –, este é o momento de tentar encontrar respostas para algumas perguntas importantes: "E o mestrado profissionalizante? Não é necessário que ele seja estimulado? Não seria o caso de fazer uma maior diversificação curricular desses cursos?", foram algumas das questões por ele levantadas.

O Plano Nacional de Pós-Graduação feito para o período de 2005 a 2015, segundo o cientista, deveria considerar bastante a hipótese de que os mestrados brasileiros, únicos no mundo, precisam se preocupar mais com a formação de seus alunos para os mercados não acadêmicos. "No caso das engenharias, 39,2% dos entrevistados estavam trabalhando em empresas privadas", disse.

Se os cursos de mestrado não podem olhar apenas para a academia como destino final de seus freqüentadores, os dados apresentados pelo pesquisador da UnB mostram também que os doutorandos interessados em ter uma inserção maior em seus campos de pesquisas deveriam se dirigir mais para o exterior. "Nossas pesquisas mostraram que, depois de dez anos, os pesquisadores que fizeram o doutorado e o pós-doutorado no exterior estavam, em geral, em níveis de excelência maiores", disse.

Para chegar a esses resultados, o estudo levou em conta a publicação de trabalhos em co-autoria com colegas do exterior, participação em comitês editoriais de periódicos internacionais de primeira linha e assento em comitês das agências internacionais de fomento à pesquisa. "Isso mostra que é necessário que o doutorado e o pós-doutorado no exterior voltem a ser estimulados pelas agências de fomento do Brasil", afirmou Velloso.

Para outro participante do debate, Fernando Reinach, professor da Universidade de São Paulo e diretor da Votorantim Novos Negócios, todas as pesquisas envolvendo os números da pós-graduação no Brasil são interessantes, mas é preciso que se vá um pouco além.

Segundo ele, ainda se está apenas arranhando a superfície do problema. Reinach defende a tese de que, no caso da pós-graduação, seria importante o desenvolvimento de métodos para se medir, por exemplo, qual o impacto dos investimentos públicos feitos nessa área para o crescimento econômico do Brasil.


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