Exposição de divulgação científica da UFMG apresenta 66 peças em gesso, tridimensionais e em relevo, representativos de células, organelas celulares, tecidos e órgãos, para serem manipuladas pelo público
Exposição de divulgação científica da UFMG apresenta 66 peças em gesso, tridimensionais e em relevo, representativos de células, organelas celulares, tecidos e órgãos, para serem manipuladas pelo público
Agência FAPESP - Ao contrário da maioria das exposições, nas quais é proibido tocar as peças, a mostra A célula ao alcance da mão foi concebida para ser manipulada e sentida. A coleção apresenta 66 modelos em gesso, tridimensionais e em relevo, representativos de células, organelas celulares, tecidos, órgãos, embriões e fetos humanos, esses apresentados em tamanho natural.
O projeto foi desenvolvido no Museu de Ciências Morfológicas (MCM) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, para atender deficientes visuais. Embora constitua material didático com especificidades para esse público, tem se mostrado de uso universal no ensino de ciências.
"Avaliamos que o toque e a visão tridimensional tornam a aprendizagem mais lúdica e interessante", disse Maria das Graças Ribeiro, coordenadora do MCM, depois de testar a coleção com cerca de 160 estudantes cegos e outros 2 mil alunos, além de professores do ensino fundamental e médio. Segundo a coordenadora, a exposição integra os alunos nas aulas práticas de ciências e é eficiente no exercício da educação inclusiva.
O projeto surgiu em 1999, a partir da necessidade de um estudante cego do curso de fisioterapia da UFMG. Ele queria aproveitar as aulas práticas de citologia e histologia geral, mas o material disponibilizado no MCM, apesar de muito rico, era totalmente visual. Após uma procura longa – em vão – de material didático especializado, a equipe do museu iniciou o estudo, seleção e experimentação de diferentes materiais e técnicas, que resultaram na coleção – patenteada pela UFMG.
A exposição exibe células, tecidos, órgãos e sistemas orgânicos. É acompanhada de livro didático, em impresso tipográfico e braile, com informações teóricas e descrição detalhada de cada modelo. Inicialmente, as peças eram todas brancas, mas com o caráter universal que foi adquirindo está ganhando cores.
A artista plástica Valéria de Cássia Resende coordena uma equipe de estagiários da escola de Belas Artes da UFMG que trabalha na elaboração dos modelos até agora confeccionados em gesso. Mas a coordenadora do museu planeja a produção em larga escala, com materiais mais resistentes, que estão sendo estudados não apenas pela equipe do MCM, mas também pelo Instituto Nacional de Tecnologia, no Rio de Janeiro. "Imagine que a coleção ainda não foi lançada oficialmente e já temos mais de 30 pedidos", conta Maria das Graças.
Em 2004, o projeto encerra a fase de experimentação, realizada em instituições especializadas para o ensino de cegos, nas escolas da rede pública e no próprio museu. A partir de 2005, a coleção A célula ao alcance da mão será disponibilizada para escolas, museus e outros espaços de ciência e cultura. Será montado um Laboratório de Ensino Especializado na formação continuada de professores para deficientes visuais, além de uma mostra itinerante para escolas com projetos inclusivos.
Em parte, os recursos para os projetos estão garantidos. O BNDES aprovou a liberação de R$ 515 mil do Fundo Social mantido pelo banco para a ampliação da capacidade física e operacional do MCM/UFMG. "Já sabemos que vamos receber, mas o dinheiro ainda não chegou. Esses recursos serão úteis nas ações que permitirão o aumento do número de atendimentos, mas a produção em escala de coleções não será contemplada", diz Maria das Graças. Ela acredita que a produção industrial da coleção deverá ser feita por meio de parcerias com empresários e diz que a instituição está aberta para discutir propostas.
Museu único
O Museu de Ciências Morfológicas da UFMG é o único do gênero na América Latina. Nele estão reunidas as quatro ciências que estudam a forma humana: embriologia, citologia, histologia e anatomia. A maioria dos museus mantém apenas uma ou duas delas. Por essas características, é considerado pólo de educação e divulgação científica relacionado ao organismo humano.
A média de visitantes é de mais de 20 mil pessoas por ano, mas muita gente fica de fora. "A lista de espera do ano passado somou 30 mil pessoas", lamenta Maria das Graças, que reforça a urgência em ampliar o atendimento.
O MCM foi criado em 1989 por meio de um projeto experimental desenvolvido no departamento de morfologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG. Foi aberto ao público em 1997. Com exposições didático-científicas de longa duração, o museu focaliza o organismo humano real, em abordagem sistêmica e interdisciplinar.
Por expor órgãos e sistemas reais, o público absorve a informação de acordo com o nível de conhecimento. A visitação é predominantemente escolar. São professores em busca de capacitação e atualização, estudantes do ensino básico para realização de tarefas escolares, de graduação e pós para acesso a material de pesquisa para monografias e dissertações, e a comunidade em geral, pelos mais diversos motivos.
"Muita gente nos visita para entender um problema de saúde em determinado órgão. Visualizando fica mais fácil de entender", observa Maria das Graças. O interessante é perceber, seja em grupos de crianças ou de idosos, que o fascínio em descobrir o próprio corpo é o mesmo.
Museu de Ciências Morfológicas: tel.: (31) 3499-2776 /
Coordenação: (31) 3499-2782 (Maria das Graças Ribeiro)
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